quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Um pouco de violência e descaso

Renato e Caterine estavam namorando há pouco mais de cinco meses e ele então a convidou para morarem juntos na casa dele e ela aceitou imediatamente.
O começo dessa convivência foi perfeito e eles sentiam que seriam felizes para sempre.
Mas, depois de dois meses, Renato começou a demonstrar sua verdadeira personalidade. O seu ciúme exagerado e desmotivado passou a afetar o cotidiano do casal, tornando algo saudável numa convivência impossível.
Logo surgiram as primeiras brigas e agressões verbais, e ela ainda tentou compreendê-lo, pois talvez tivesse dado algum motivo pro ciúme dele. Mas essa desculpa que ela havia colocado em sua mente logo se desfez.
Ela passou a usar roupas mais longas e folgadas e a ficar em casa quase o tempo todo. Mesmo assim, ele desconfiava que ela estava usando o celular para ter conversas amorosas com outro homem. E uma conferida diária no celular dela não adiantou para diminuir seu ciúme e sua desconfiança.
Ela não podia mais sequer conversar com amigos, pois ele não aceitava amizade entre homens e mulheres.
E então veio o primeiro tapa na cara e nesse momento ela pensou em voltar para a casa de seus pais, mas aí ele pediu desculpas e ela decidiu ficar.
Dias depois, os tapas começaram a ser frequentes e mais fortes, a ponto de deixá-la com hematomas pelo corpo.
Denunciou a situação na delegacia, mas o policial pediu que ela conversasse com Renato e voltasse depois, pois o escrivão estava de férias e não havia ninguém para fazer o boletim de ocorrência.
A família dela, que morava numa cidade distante, estava preocupada e também tentou comunicar o caso à polícia, mas foi informada que nada poderia ser feito por ali. Só Caterine poderia fazer o boletim de ocorrência.
Ela se sentia acuada, sem saber a quem recorrer mais, pois voltou outra vez da delegacia sem conseguir fazer o BO, dessa vez com a alegação de que brigas são comuns numa relação entre homem e mulher.
Por fim, ela procurou o Fórum e foi informada que havia uma Vara de Violência Doméstica. Lá ela encontrou uma juíza que se comoveu com a sua situação e decidiu ajudar. Com menos de dez minutos, a juíza fez algumas ligações e disse que Renato ia ser preso em flagrante, o que realmente aconteceu horas depois.
A magistrada deu alguns conselhos a Caterine, que os ouviu atentamente e decidiu voltar para sua terra natal, a cidade de seus pais, pois a pena do crime cometido por Renato era pequena e ele logo seria solto. Ela sabia que ele não a deixaria em paz tão facilmente e por isso foi buscar abrigo e proteção de seus pais.
Renato, por sua vez, quando interrogado pelo delegado, disse que acreditava ter o direito de bater na sua mulher porque tinha ouvido falar que a mulher devia ser submissa ao marido...
Ele teve que prestar serviços à comunidade e pagar algumas cestas básicas. Depois de algum tempo, ele chegou a admitir pra si mesmo que sua conduta não era correta e pediu desculpas a Caterine.
Quatro meses depois, Caterine estava numa confraternização com sua família e ficou pensando em como teve sorte de se livrar daquela situação. Ficou imaginando uma mulher que não tinha família, nem parentes ou amigos que pudessem ajudá-la. De repente, ela voltou a si e não quis pensar nisso nunca mais.


E agora ele bate, bate nela e ela chora querendo voltar pros braços de sua mãe. E agora eu tô sem saída e, se eu for embora, ele vai acabar com a minha vida” Trecho da música Ele bate nela da dupla Simone e Simaria.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Um pouco de romantismo

Fernando estava fazendo o quinto período do curso de medicina quando avistou uma caloura, que o deixou desnorteado. Então, ele bolou um plano para se aproximar dela, sem parecer forçado, rodeando o grupo de amigos dela para que se tornassem amigos em comum e, assim, ela se acostumaria com a presença dele.
Depois de poucos dias, ele decidiu que já estava na hora de falar com ela diretamente. No final da resenha após a aula, quando o grupo de amigos se dispersou e ela ia saindo, passando ao seu lado, ele a chamou:
Oi, Daiane – ele disse e ela se virou para ele, que a olhou firmemente nos olhos.
Oi, Fernando. O que você manda? – disse ela de modo despojado e ele sorriu.
Ah... É que eu ouvi você falando que tá com dificuldade em bioquímica, que o professor é durão e eu acho que posso te ajudar nisso.
Sério? Pois fechou. Eu tô perdida nessa matéria.
Mas tem uma condição... – ele falou, deixando um pouco de suspense no ar. Ela fez uma expressão de surpresa e, depois de alguns segundos, fez um sinal para que ele prosseguisse. – Não é nada demais. É que você falou que gosta de comida japonesa e eu tava procurando uma companhia para ir num restaurante novo que inaugurou semana passada... – ele fez uma pausa. – E, então, você pode ir?
Cara, eu tava querendo mesmo ir nesse restaurante. Acho que você adivinhou meus pensamentos.
Tem mais uma coisinha... Você tem que me prometer que não vai se apaixonar por mim, viu? – ele disse sorrindo.
Essa é moleza – ela disse entre risos. – Deixa ver se eu entendi. Você vai me ajudar na matéria e ainda vai me levar num restaurante japonês... Cara, isso não é uma condição. É um presente.
No outro dia, eles estudaram na biblioteca da faculdade, ela estava compreendendo melhor a matéria e, em certo momento, ele pediu para fazerem uma pausa.
Precisamos combinar o dia que vamos no restaurante – ele disse e pegou na mão dela –, mas eu quero que saiba que não estou dando em cima de você – ele falava com um sorriso discreto no rosto e olhando profundamente nos olhos dela.
Por mim tudo bem – ela disse e se sentiu confusa, pois a expressão dele indicava o contrário. – Eu estou livre hoje à noite.
Hoje eu vou sair com uma amiga das antigas. Pode ser amanhã?
Ela disse que sim e ficou ainda mais confusa. Será que é só uma amiga mesmo? Essa dúvida surgiu na cabeça de Daiane.
Um dia depois, eles estavam no restaurante, conversando tranquilamente e, de repente:
E como foi ontem com sua amiga? – ela perguntou, tentando disfarçar sua curiosidade.
Que bom que você perguntou. Foi fantástico. A gente se divertiu demais. Fazia muito tempo que a gente não se via.
Então vocês são muito próximos... – ela disse, tentando arrancar discretamente mais alguma informação sobre essa amizade.
Ah, sim. Ela está morando em outra cidade, mas todo ano a gente dá um jeito de se ver.
E vocês são apenas amigos?
A pergunta saiu com um tom de voz que ela não desejava expressar. Ele a olhou com uma expressão de surpresa e deu um leve sorriso.
Por que você está tão interessada nisso?
Na verdade, não estou. Só quero entender essa amizade. Mas, se você não se sente à vontade pra falar, tudo bem – ela falou querendo jogar o desconforto pro outro lado.
Mais tarde te falo mais sobre isso. Tudo bem? – ele perguntou e fez uma pausa. – Eu estou com muita fome agora e quero comer, mas eu fico olhando os seus olhos e me desconcentro. Os seus olhos negros praticamente me deixam hipnotizados.
Ela sorriu e passou a mão no cabelo.
Agora parece que você está dando em cima de mim...
A gente não pode nem elogiar mais... – ele fez uma pausa e, segurando com uma das mãos na cintura dela, chegou bem próximo do rosto dela. – Eu já te disse pra não pensar isso.
Mas você me deixa confusa – ela falou baixinho. Eles estavam muito próximos, quase tocando os rostos, e ela não resistiu e o beijou. Ele sentiu o calor dos lábios dela e retribuiu o beijo de forma delicada e depois com intensidade.
Você ainda está confusa?
Acho que não... Mas e a sua amiga?
Relaxa. Ela é só uma velha amiga.


Vem me fazer feliz porque eu te amo.” Trecho da música Oceano de Djavan.