Valéria estava vendo muitos filmes de romance durante a quarentena na pandemia. Já eram vários dias em casa, sem trabalhar, sem contato com outras pessoas. Apenas algumas idas ao supermercado e à farmácia.
Além dos filmes, séries e de músicas de sofrência, regadas a algumas doses de bebida, as distrações eram as redes sociais e aplicativos de conversas online, o que acabava fazendo com que ela começasse a se lembrar de alguns momentos com seu ex namorado.
Ele estava postando algumas fotos antigas e atuais e a mente dela começou a viajar por momentos em que foram muito felizes, nos primeiros meses de namoro, quando tudo parecia um conto de fadas.
Esse período trancafiado estava deixando muita gente maluca. Até quem jurou que não voltaria pro ex namorado estava começando a amolecer o coração.
Valéria sabia que a chance de volta era pequena. Seu namoro não acabou por traição, mas parecia que ele não era o cara certo, que faltava alguma coisa. Só que no momento de solidão, nesses dias vendo filmes de romance, ela estava começando a acreditar que deixou ele escapar por entre seus dedos e que talvez ele fosse o grande amor da sua vida.
Ela estava imaginando que poderia ser o destino, tentando juntá-los novamente, ou poderia ser apenas um delírio provocado pela solidão e pelos filmes românticos e músicas apaixonadas.
Mas essa dúvida estava pairando no ar sempre que ela se lembrava dele, o que estava acontecendo a cada dez minutos nos últimos dias.
Mas até aquele momento nem ela e nem ele tiveram coragem de voltar a se comunicar. Ela nem sabia se ele queria isso ou se estava passando pela mesma situação, se estava pensando nela.
Esse questionamento estava acabando com o pouco de serenidade que ainda havia em sua cabeça e ela estava prestes a enlouquecer, mas não queria dar o braço a torcer e dizia pra si mesma que aguentaria mais alguns dias. Daqui a pouco tudo isso passa. Só mais alguns dias.
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“No vazio desse apartamento, já tô quase pirando. Me bate o desespero, empilhando garrafas. Passa o tempo, só você não passa. […] Eu sei que ninguém morre de amor, mas cachaça e saudade mata”. Trechos da música Estado decadente, da dupla Zé Neto e Cristiano.

