terça-feira, 26 de maio de 2015

Era pra ser um dia feliz

Brenda estava muito feliz porque Bernardo tinha finalmente criado coragem de se declarar para ela e eles tinham se beijado pela primeira vez. Eles faziam o 1º ano do ensino médio e ela estava esperando por isso desde o ano anterior, mas ele sempre se mostrava tímido demais para tentar algo além da amizade costumeira entre eles.
Na saída da escola, contou tudo nos mínimos detalhes para as suas colegas e elas ficaram muito contentes e sorridentes.
Depois do bate papo, ela e sua melhor amiga, Lorena, resolveram ir para casa andando como geralmente faziam, pois ambas moravam perto da escola.
Brenda estava usando o celular, postando a novidade numa dessas redes sociais na internet. Dois rapazes se aproximaram de moto e um deles desceu com o capacete ainda na cabeça.
- Passa o celular e não olha pra mim – disse o rapaz de forma autoritária.
Brenda, a contragosto, entregou o celular para o meliante. Ele, então, olhou para Lorena e “pediu” o celular, dessa vez apontando uma arma na direção dela. Mas ela tinha esquecido o celular em casa.
- Eu não tenho celular – disse ela, amedrontada.
O ladrão não acreditou e resolveu verificar, fazendo uma espécie de revista nela e nada encontrou. Ele, então, ficou furioso, olhou para Brenda e viu um cordão de ouro.
- Passa o cordão – disse, apontando a arma para ela.
Ela tentou tirar o cordão, mas estava muito nervosa e não estava conseguindo retirá-lo. Lorena, então, movimentou-se para tentar ajudar a amiga, mas o ladrão, que estava muito nervoso e aparentemente drogado, viu aquela movimentação como um risco e atirou em Brenda, atingindo diretamente o peito dela, que caiu no chão, derramando muito sangue.
O ladrão montou na garupa da moto e o motorista saiu em disparada, fugindo da cena do crime. Lorena ficou ali, segurando o corpo da amiga, gritando por socorro, que só apareceu minutos depois, quando nada mais poderia ser feito para salvar a vida de Brenda.
Era para ser um dia feliz, mas acabou em tragédia.


Tudo pode acabar ali num assalto.” Trecho da música Quando tiver sessenta, da banda Rosa de Saron.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Abandono

Alguns dias atrás vi uma reportagem que me deixou abismado.
Uma criança de doze anos ligou para a polícia e relatou a sua situação para o policial.
- Central de Polícia. Em que posso ajudar? - disse o policial com aquele tom burocrático.
- Estou preso na minha casa com minha irmã. Minha mãe nos deixou trancados e ela tá com fome. Precisa de leite. O que o senhor pode fazer pra ajudar?
- Como é o seu nome?
- Miguel.
- Quantos anos você tem? E sua irmã?
- Eu tenho doze anos e minha irmã tem cinco meses.
- Cinco meses? Cadê a sua mãe? - disse o oficial, agora demonstrando alguma emoção nas palavras.
- Ela saiu e nos deixou trancados em casa. Acho que ela foi atrás do ex-marido dela. Acho que ela tem depressão. Já teve até internada.
- E esse telefone é de onde?
- É meu celular. Eu escondi pra ela não ver.
- E não tem como vocês saírem.
- Só se eu arrebentar a porta.
- Miguel, sua mãe sempre faz isso?
- Quase sempre. Ela me bate. Tenho marcas. Tô machucado. O que o senhor pode fazer?
Em seguida, o policial e alguns companheiros foram até a residência de Miguel e constataram a situação. Ele e sua irmã estavam desnutridos e sujos.
O que mais me chamou a atenção foi a forma tranquila que Miguel falava com o policial. Nem parecia uma criança. Normalmente, em sua situação como aquela, uma criança falaria de forma desesperada, chorando, soluçando, demonstrando muita preocupação.
Mas toda aquela situação de abandono e violência transformou a infância de Miguel em um pesadelo e ele já parecia acostumado com aquilo.
O caso foi levado à Justiça. A mãe desnaturada perdeu o chamado poder familiar e ficou detida por alguns dias, mas não sofreu grandes sanções. As crianças ficaram com os avós paternos e aparentemente estão bem.



E as meninas das barrigas tiram os filhos, calam seus meninos, selam seus destinos”. “Vejo almas presas chorando em meio a dor”. Trechos das músicas Mais que um mero poema e Anjos das ruas, da banda Rosa de Saron.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Ciúme doentio

Alessandra era jovem, cursava o sétimo período do curso de Direito e se envolveu amorosamente com um professor durante três meses.
Viu que ele era ciumento demais e terminou o relacionamento. Lógico que ele não aceitou de forma pacífica o fim e ligava diversas vezes, tentando reatar o namoro. Às vezes a seguia e chegou a ameaçá-la de morte.
Ele era professor de Direito e, como alguém formado na área, deveria saber que ameaça é crime, mas com o passar do tempo as ameaças foram aumentando e ela se viu num beco sem saída.
Denunciou a situação ao diretor do curso, que não deu muito crédito à história e preferiu não fazer nada.
A família dela estava preocupada e tentou comunicar o caso à polícia, mas o professor cumpriu a ameaça muito rapidamente e, numa manhã chuvosa, quando Alessandra saía de sua casa, em seu carro, ele chegou e adentrou o veículo. Ela ficou assustada e ele disse que não conseguia mais viver sem ela. Ele parecia muito instável e desesperado.
Ela tentou acalmá-lo e disse que eles poderiam marcar um jantar e conversar. Mas ele já estava decidido. Sacou a arma e atirou na cabeça de Alessandra, que caiu morta.
Logo em seguida, ele colocou o corpo dela no banco traseiro e dirigiu o veículo até a delegacia mais próxima e se entregou.
No enterro, o pai de Alessandra estava desamparado. Não conseguia sequer ficar de pé. Ela era a alegria dele, um lavrador, que teria a chance de ver a sua única filha se formar. Esse era o seu grande sonho, que não mais se realizaria por causa do ciúme doentio do ex-namorado.


Um cara enciumado só faz o que é errado e acaba tudo em dor.” Trecho da música Ciúme exagerado da dupla Edson e Hudson.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Cara de pau

 Johnny era chamado de cara de pau, mas ele não concordava com essa expressão. Preferia que fosse conhecido como sincero, afinal ele achava que falava a verdade, apesar de não ser politicamente correto.
Como ele mesmo definia, certas verdades doíam e por isso muitas pessoas tinham a impressão de que ele era um bad boy.
Johnny tinha uma ex-namorada que era muito bonita e simpática, mas que ele não amava. Mas eles se encontravam de tempos em tempos e ela não resistia à tentação de poder estar com ele e ela mesmo marcava alguma coisa, sempre esperando que ele voltasse a sentir algo por ela.
E nos momentos de intimidade ela pedia: diz que me ama. Mas ele não dizia, apenas fazia alguns carinhos de forma delicada para compensar.
Depois de ele ir embora, ela se sentia triste, depressiva, sozinha, nervosa e angustiada. Certa vez, ela disse como se sentia e que ele era o culpado.
- As emoções que você sente ou quer sentir só podem ser atribuídas a você mesma – ele disse calmamente. – Te dou carinho, atenção e prazer. Sempre te trato bem e te escuto. Nunca te prometi nada. Então, não me culpe.
Mas ela não entendia que podia controlar as próprias emoções. Queria que alguém a fizesse feliz. Colocava a sua própria felicidade nas mãos de outra pessoa. Johnny era culpado? Era cara de pau? Tinha prometido algo e não cumpriu? Certamente, a resposta só pode ser negativa.
Se ela não queria se sentir assim, deveria saber que ele não mudaria seus sentimentos por ela e partir pra outra, seguir outro caminho.
E isso se repetia com outras mulheres, que também não entendiam que os seus sentimentos não deviam depender daquele bad boy ou de qualquer outra pessoa.
E Johnny era assim. Não enganava ninguém, não prometia nada e não se culpava. Ele não escondia que era um garanhão, mas era um garanhão sincero.


“Nunca permita que a sua felicidade dependa de algo que possa perder.” Trecho da música Casino Boulevard, da banda Rosa de Saron.