sábado, 28 de março de 2015

O poder da mídia e a teoria da conspiração

Uma notícia é divulgada num grande veículo de comunicação, detonando um político que estava indo bem nas pesquisas eleitorais e ameaçava o domínio de um certo partido no poder há mais de doze anos.
Outra notícia é veiculada por outro grande jornal, divulgando um grande esquema de corrupção que pode ter repercussões justamente nos membros do alto escalão desse partido dominante.
Cada veículo dá a sua notícia sem mencionar o outro lado da história e sem qualquer indício concreto para embasar sua versão.
É tempo de eleição e qualquer notícia desse tipo vende muito. Os editores não estão muito preocupados com a repercussão negativa que pode ter caso descubram que tudo não passa de informações plantadas.
Eles sabem que o eleitor quase sempre só lê uma versão da história, alegando falta de tempo, e a grande maioria acredita cegamente na notícia.
A grande mídia, com ligações políticas cada vez mais fortes, só divulga o que lhe interessa e omite informações valiosíssimas. Cada um defende o seu interesse. E você pensa: isso é normal. Claro que não! Um jornal com credibilidade deve dar informações legítimas e dando todos os pontos de vista de maneira efetiva e imparcial.
Os jornais menores, com alguma independência de informação, são cada vez mais massacrados pela grande mídia e por processos judiciais que tentam impor novamente a censura.
Se a notícia (da área política e econômica, especialmente) vem de um grande jornal, duvide. Há uma forte tendência de transformar algo fantasioso em verdade. Já ouviu falar que as aparências enganam? Aqui é quase a regra. Procure outros pontos de vista. Evite ser uma marionete nas mãos dos poderosos.
Parece teoria da conspiração. E é exatamente isso que eles querem que pensemos. Ah! E qualquer semelhança é mera coincidência.



A programação existe pra manter você na frente, na frente da TV, que é pra te entreter, que é pra você não ver que o programado é você.” Trecho da música Até quando? de Gabriel, o Pensador.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Trote na faculdade

Jogar fezes e lixo, pintar, agredir e humilhar os calouros são rituais de iniciação dos estudantes que têm origem no século XIV, por volta do ano 1340, na Universidade de Paris, muito antes do trote chegar nas terras tupiniquins.
Muitos calouros aceitam ser tratados como animais para não ficarem isolados. Vou citar apenas dois casos para não alongar o assunto. Um estudante de publicidade foi amarrado a um poste na avenida Paulista e humilhado pelos colegas, com várias pessoas passando pelo local sem nada fazer. Outro calouro foi chicoteado, forçado a beber pinga e a rolar em excremento de animais, além de ser amarrado a um poste e sofrer agressões físicas e verbais.
Edison não teve a mesma sorte. Foi jogado numa piscina e, sem saber nadar, só saiu de lá morto, enquanto ninguém que olhava a cena teve coragem de oferecer ajuda àquele jovem estudante, mesmo percebendo o inevitável e ouvindo os gritos de socorro.
Ele teve sua vida ceifada por um trote, e com isso a possibilidade de cursar a faculdade de medicina para qual passou anos estudando e que era o seu sonho e o de seus pais.
E para completar o quadro de descaso: ninguém foi punido. A morte, portanto, sequer serve de exemplo de desestímulo para futuros trotes.


“Violência demais, chuva não tem mais, corrupção demais, política demais, tristeza demais.” Trecho da música Súplica cearense, da banda O Rappa.

terça-feira, 10 de março de 2015

Mais uma morte banal no trânsito

Rogério chegou em casa, vindo do trabalho e não encontrou sua esposa Dora. Achou estranho, afinal ela não havia deixado nenhum recado para ele. Era hora do almoço e geralmente ela estava ali com a comida pronta.
Ele ficou preocupado e ligou para o telefone dela, mas ela não atendeu. Então, ele ligou para a melhor amiga dela e ela disse para ele ligar a televisão.
- Aconteceu uma tragédia – disse ela, angustiada.
O coração de Rogério acelerou e ele sentiu uma sensação que ele nunca tinha sentido. Parecia que seu estômago dava voltas. Sentiu-se muito mal, quase desmaiou, mas conseguiu ligar a televisão e viu o corpo de sua esposa estendido no chão, encharcado de sangue.
Não conseguiu ouvir que testemunhas haviam presenciado o homicídio. Uma delas disse que o agressor atirou na mulher por causa de uma leve batida no veículo dele.
Dora havia batido na traseira do outro veículo. O motorista saiu do carro irritado, gritando e gesticulando. Disse que ela era uma “barbeira” e que mulheres não sabiam dirigir. Ele estava muito exaltado e sacou uma arma. Ela estendeu as mãos em sinal de paz e pediu desculpas, mas o sujeito, provavelmente enfurecido com o trânsito maluco da cidade, não viu os gestos pacíficos da esposa de Rogério, atirou duas vezes na direção do peito e a matou.
O criminoso, por um momento, ficou parado, parecendo não acreditar no que havia feito. Ficou surpreso e, ao mesmo tempo, arrependido. De repente, voltou a si, embarcou no carro e saiu em disparada.
Rogério também não ouviu que uma testemunha havia anotado a placa do carro. Ele já não ouvia nada. Estava completamente desesperado. Havia perdido sua linda esposa, apenas três meses após o casamento. E ele não sabia: ela estava grávida. Daria a notícia no almoço. Infelizmente, não dará mais a notícia por causa de mais uma morte banal no trânsito.


“Vamos festejar a violência. E esquecer a nossa gente que trabalhou honestamente a vida inteira e agora não tem mais direito a nada.” Trecho da música Perfeição da banda Legião Urbana.