terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Um pouco de suspense

 Como em toda boa história de suspense, era noite e chovia. Raios e fortes trovoadas irrompiam pela noite escura.
Para completar o quadro, faltou energia e Isaac, que estava só em casa e tinha apenas 17 anos, começou a ficar com medo.
Ele, então, tentou encontrar uma vela para clarear o ambiente. Tinha esquecido seu celular no quarto e por isso ficou mais difícil achar a vela. Com muita dificuldade e medo, conseguiu pegar uma vela e o isqueiro e a acendeu, ficando um pouco mais tranquilo.
Foi aí que escutou um barulho estranho vindo da parte de trás da casa e se lembrou que poderia ser seu gato, mas o barulho continuou e não era seu gato, pois ele viu que o bichinho estava ao seu lado.
Isaac ficou com mais medo e, então, ouviu um barulho ainda mais estranho vindo da porta da frente. Era um ruído suave, mas assustador, como o som de um giz sobre o quadro.
Seu coração acelerou os batimentos e sentiu tanto medo como nunca havia sentido. Começava a acreditar que a casa era mal assombrada, como nos filmes de terror.
Nesse momento, seus pais chegaram e, quando entraram, viram que Isaac estava muito assustado.
- O que foi, filho? – perguntou sua mãe, aflita.
- Você não viu o que tinha lá fora? Estava ouvindo barulhos muito estranhos.
- Filho, não havia nada lá fora, só uma galha da árvore que caiu aqui em frente e estava rosnando na porta – sua mãe o abraçou, sorrindo da situação. O pai também riu e Isaac acabou rindo também, finalmente se acalmando.


 “Que o riso seja sua fala toda vez que a sua voz acabar.” Trecho da música Nada entre o valor e a vergonha, da banda Rosa de Saron.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Uma noite inusitada

 Luiz Felipe estava em casa, triste e sozinho. A tarde passava devagar e as lembranças de um passado esquecido voltaram a atormentá-lo. E a solidão chegou cheia de entusiasmo, querendo deixá-lo ainda mais para baixo.
Mas ele decidiu pôr um fim naquela ansiedade e resolveu sair para a loja de um amigo seu e lá encontrou o que ele tanto esperava: uma distração. E quando saiu da loja já não pensava em mais nada.
Tudo tinha voltado ao normal e quando chegou em casa viu uma mulher batendo na porta. Quem é aquela? E era quem ele menos esperava. Uma antiga colega de escola estava na cidade e veio visitá-lo. As coisas estão melhorando.
Ele a cumprimentou de forma entusiasmada e a convidou para entrar e conversaram por cerca de uma hora, saíram para uma lanchonete, conversaram mais e estavam se entendendo muito bem. Ele parecia até outra pessoa, de um jeito positivo.
Ela teria que ir embora no outro dia e disse que queria aproveitar ao máximo aquele tempo juntos e então decidiram fazer daquela noite a melhor de todas e saíram para vários lugares inusitados, aproveitando cada momento e, no fim daquela aventura, sentiram que deveriam repetir isso outras vezes, sempre que ela voltasse para sua cidade natal.
Quando chegou em casa novamente, o passado estava completamente esquecido.

“Não há tempo que volte, amor. Vamos viver tudo que há pra viver. Vamos nos permitir.” Trecho da música Tempos modernos do cantor Lulu Santos.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Policiais bandidos

João estava voltando do trabalho, quando presenciou uma cena inusitada: policiais efetuando a prisão de outros policiais.
E o que mais chamou a sua atenção foi o fato de que um traficante estava sendo escoltado por policiais, que estavam no carro oficial da corporação e davam proteção ao bandido, que estava fugindo para um local seguro, pois o morro que ele dominava seria logo invadido e pacificado pela polícia.
Algumas pessoas filmavam a cena, tiravam fotos. Outras pessoas, mais exaltadas, gritavam:
- Vergonha! Vergonha!
A Polícia, que deveria preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio, estava protegendo um traficante, chefe de uma organização criminosa. Quanta ironia.
Na verdade, não foi a instituição Polícia; foram só alguns policiais. E esses são bandidos.
É bom que se diga, os demais policiais, até prova em contrário, são boas pessoas que cumprem fielmente seus deveres.
Enquanto isso, João estava pensativo. Não imaginava que esse tipo de coisa acontecia. Ele vinha de uma cidade pequena, onde as pessoas ainda acreditavam em alguns valores, tinham alguns princípios e, sobretudo, eram honestas e solidárias.
Policiais dando proteção a bandidos? Isso não acontecia na sua cidade natal, afinal lá não tinha mais do que cinco policiais e todos se conheciam...

“Não quero minha vida igual a tudo o que se vê”, trecho da música Do alto da pedra da banda Rosa de Saron.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Zezinho

 Zezinho era um legítimo cidadão brasileiro. Ao contrário da maioria da população, ele agia e não apenas falava. Enquanto os outros protestavam com palavras duras, Zezinho corria atrás de meios de mudar efetivamente o país.
Ele era um trabalhador. Passava mais do que oito horas no trabalho todos os dias, seis vezes por semana. Quando sobrava um tempinho, ele via as notícias da sua cidade, seu estado, seu país. E ele se interessava mais pela parte política dos noticiários.
Sempre que podia, estava na Câmara de Vereadores, cobrando melhorias e exigindo publicidade e transparência de todas as ações governamentais. Queria saber o motivo de tanto superfaturamento nas licitações.
Ele simplesmente não entendia por que um copo, que ele comprava por dez centavos, custava cinquenta centavos para o Município. Se o ente público comprava caixas e caixas de copos, o preço deveria ser mais baixo, não é? Assim ele pensava, mas os corruptos não entendiam desse modo, afinal queriam lucrar cada vez mais.
E Zezinho investigava, investigava e sofria ameaças de morte. E um de seus amigos dizia:
- Deixa isso de mão, Zé.
Mas Zé não deixava porque esse era o seu jeito. Tinha nascido para fazer aquilo. Não sabia ficar calado, consentindo com toda aquela roubalheira.
Zezinho entregou provas à Polícia. Cumpriu o seu dever como cidadão.
O delegado, amigo de um dos investigados, arquivou o caso numa de suas gavetas. Informou a situação ao prefeito, que estava mais do que envolvido com o esquema.
No dia seguinte, Zezinho saía do trabalho, contente e tranquilo. Tinha feito a sua parte. Um motoqueiro aproximou-se e o sujeito que estava sentado na garupa da moto efetuou cinco disparos. Três deles acertaram o peito de Zezinho, que caiu e, antes de morrer, pensou na sua família, seus três filhos e, ainda assim, não se arrependeu, pois estava de consciência limpa e tinha cumprido a sua missão. Ainda deu tempo de pensar numa passagem bíblica: bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.
No dia seguinte, houve passeata na cidade. O caso teve repercussão nacional, pois Zezinho, apesar de ser um cidadão humilde, tinha alguns amigos “importantes”.
Dias depois, o delegado, o prefeito e outras “autoridades” foram presos. Zezinho era precavido. Tinha tudo documentado num lugar seguro e acessível a três pessoas de sua inteira confiança.

“Brasil, mostra a tua cara. Quero ver quem paga pra gente ficar assim.” Trecho da música Brasil do cantor e compositor Cazuza.