segunda-feira, 20 de março de 2017

Um dia qualquer (bullying)

Fernando estava andando na calçada, indo para o colégio, quando passou por um grupo de colegas de aula, e um deles o segurou, derrubou sua mochila e deu um tapa na sua cabeça.
Ele respirou fundo, ficou em silêncio, abaixou-se e pegou sua mochila de volta. Quando ia voltar a caminhar, outro garoto repetiu a ação de seu colega e completou dizendo:
– Vai procurar a tua turma!
Pegou novamente sua bolsa e voltou a caminhar olhando pro chão como geralmente fazia. Ao chegar na escola, alguns alunos olharam-no com desdém, enquanto outros mais ousados jogaram bolinhas de papel e gritaram “estranho”, “maluco”, “monstro”.
Durante a aula, o aluno que sentava atrás dele, de vez em quando, puxava o cabelo dele e chutava a cadeira. Um de seus professores já tinha feito algumas “brincadeiras” com Fernando e toda a sala sempre dava risada.
No intervalo, ele teve que pagar o lanche do seu grande “rival” e, em seguida, levou sua surra diária, nada muito forte pra não causar hematomas.
Ele já não contava mais nada para sua mãe solteira e nem pra diretora da escola, afinal de contas elas não pareciam nem um pouco interessadas em mudar aquela situação.
Na volta pra casa, pegou o ônibus e, como sempre acontecia quando não estava lotado, ninguém sentou ao seu lado, mas isso não o livrou de ouvir alguns insultos e apelidos “carinhosos”.
À tarde, era a vez da educação física e do futebol e o sofrimento de Fernando só aumentou, pois seus colegas sentiram-se ainda mais corajosos para dar pancadas à vontade, pois fazia parte do jogo.
Fernando já estava tão acostumado a ser tratado dessa forma que ele não dizia mais nada. Até mesmo alguns parentes já tinham feito coisas semelhantes e, na sua cabeça de adolescente, isso parecia perfeitamente normal, mas ele queria acabar com essa normalidade.
Depois da aula, Fernando se reuniu com mais três colegas que também eram maltratados como ele e conversaram sobre um plano para acabar de uma vez com aquelas agressões.
Depois de um mês e de várias dessas reuniões, ele e seus três colegas colocaram o plano em prática e o que aconteceu virou notícia em todos os jornais do país: doze pessoas mortas, entre elas alunos e professores, e várias pessoas feridas.
Seus três comparsas se entregaram e foram apreendidos. Fernando tentou se matar, mas sobreviveu. “Agora as coisas vão melhorar”, era tudo o que ele conseguia pensar ao acordar no hospital.


Mummy, they call me names. They wouldn’t let me play. I’d run home, sit and cry almost everyday. […] But thank you for the pain. It made me raise my game and I’m still rising. (Mãe, eles me deram apelidos. Não me deixavam brincar. Corro pra casa, sento e choro quase todos os dias. […] Mas obrigado pela dor. Isso me fez subir no jogo e ainda estou subindo”. Trechos da música Who’s Laughing Now?, da cantora Jessie J.

sexta-feira, 10 de março de 2017

A flor

Maurício tinha pouco mais de 15 anos, estava começando o ensino médio e não tinha muitas experiências com mulheres, como era de se esperar pela sua pouca idade.
Desde os seus doze anos, ele vinha colecionando amores platônicos em cada ano de colégio, porém nunca tinha demonstrado nenhum interesse direto por nenhuma delas.
Mas, agora no ensino médio, ele imaginava que as coisas iriam finalmente mudar e ele se tornaria um dos garotos populares do colégio. Entretanto, pouco tempo depois do começo das aulas, ele voltou a se interessar por outra colega de aula, Natasha.
Ele decidiu que não ficaria apenas observando e para isso ele bolou um plano perfeito. Sabia que precisava vencer a sua timidez e começar a interagir com ela, aproximando-se do grupo de colegas mais chegados dela.
Ele colocou em prática seu plano e, poucos dias depois, eles estavam bastante enturmados e próximos, mas ele não percebia que ela só estava se aproveitando dele, que a “ajudava” a fazer trabalhos e atividades da escola.
Depois de algum tempo, Maurício decidiu dar o xeque-mate. Ele comprou flores e mandou que entregassem para Natasha na escola. No buquê havia um bilhete, que dizia somente: “Você vai ter que adivinhar”.
Logo que começou o intervalo, ela foi direto falar com Ricardo.
Foi você? – ela disse, parecendo emocionada.
Eu o quê? – ele respondeu com uma expressão de surpresa.
Que me mandou flores, ué… – agora ela parecia desconfiada.
Ah! Sim. Você já recebeu?
Ele não tinha a menor ideia de que flores ela estava falando, mas ele viu a oportunidade que tanto esperava desde o começo do ano letivo e a agarrou. Natasha, então, foi até ele e o beijou.
Maurício viu aquela cena de perto, sem acreditar que ela foi falar com Ricardo. Maurício imaginou que ela correria diretamente pros braços dele próprio, mas acabou se decepcionando.
Ele até pensou em revelar a verdade, mas, por sorte, não disse nada, pois a situação certamente seria constrangedora. No silêncio, ele evitou que seus colegas soubessem da situação e se livrou da inevitável gozação que sofreria.
Tempos depois, no fim do ensino médio, Natasha e Ricardo ainda estavam juntos, namorando, e Maurício continuava sem sorte com as mulheres.


Ouvi dizer do teu olhar ao ver a flor. Não sei por que achou ser de um outro rapaz. [...] Minha flor serviu pra que você achasse alguém, um outro alguém que me tomou o seu amor. E eu fiz de tudo pra você perceber que era eu”. Trechos da música A flor, da banda Los Hermanos.


sexta-feira, 3 de março de 2017

Algo engraçado (ou nem tanto)

Certo dia, Pedrinho estava conversando com sua mãe na cozinha, mas ela percebeu que ele estava escondendo algo, pois ele, que era muito agitado e sapeca, estava muito quieto e fechado.
Diga, meu filho, o que você está escondendo? Tô te achando muito desconfiado.
Mamãe, eu vi o papai fazendo assim com a empregada – disse ele, com a voz fina típica das crianças, fazendo um gesto com as duas mãos indo pra frente e pra trás quatro vezes na altura da barriga, enquanto seu tronco também se movimentava.
Ah, é? Pois você vai contar pros seus avós pra que eles vejam que o filho deles não é o santo que eles imaginam.
No outro dia, durante o almoço, a mãe do menino disse que ele tinha algo pra falar para os avós. Ele, todo sem graça, não quis falar.
Fala, filho – disse a avó, incentivando o menino de apenas cinco anos. Enquanto isso, um vizinho entrava na casa para bater um papo como sempre fazia aos domingos.
É que eu vi o papai fazendo assim com a empregada – e aqui ele repetiu o gesto que havia feito para sua mãe – do mesmo jeito que o padeiro tava fazendo com a mamãe.
O vizinho caiu na gargalhada, enquanto os pais e avós do garoto ficaram de queixos caídos, querendo sumir dali o mais rápido possível.


A casinha caiu. Tiraram foto minha e registraram na balada com a vizinha”. Trecho da música A casinha caiu, do cantor Léo Santana.