terça-feira, 24 de novembro de 2015

Sorte

A sorte começava a mudar para Augusto. A sua vida de azar parecia ter ficado para trás quando conheceu Alícia. Logo ele que havia desperdiçado várias oportunidades de mudar a sua vida para melhor.
Quando a conheceu, sentiu algo extremamente especial em seu coração, como se soubesse que ela era a escolhida, a tão esperada mulher de sua vida.
Eles trabalhavam no mesmo prédio e ele a viu quando seus caminhos se cruzaram. Quase todos os dias eles se cruzavam e tudo que ele falava era um “oi”, “bom dia”.
Então, duas semanas depois da primeira vez que a viu, ele teve coragem suficiente para falar com ela e a convidar para um jantar. Ela ficou surpresa, sorridente, mas negou o convite, alegando que estava muito atarefada de trabalho.
Ele não se abateu e, sempre que se cruzavam pelo caminho, ele a convidava para um simples bate bapo depois do expediente, mas ela se negava educadamente, fazendo jogo duro.
Até que um belo dia ele a convidou novamente.
- Puxa, você deve ser a pessoa mais atarefada da face da terra! - ele disse de um jeito engraçado e ela sorriu. - Eu só quero te conhecer e eu não mordo, viu? - ele fez uma pausa, olhando nos olhos dela, mas ela não disse nada. - Dez minutinhos e você se livra de mim pra sempre. É a sua grande chance.
Ela aceitou o convite e, depois do trabalho, eles foram numa cafeteria ali perto e o que deveria ser apenas dez minutos acabou durando um pouco mais de duas horas de conversa divertida.
Nos outros dias, eles continuaram conversando e, depois de duas semanas, começaram o relacionamento. Ele queria algo sério e ela também. Parecia que haviam sido feitos um para o outro. Almas gêmeas, como dizem.
A sorte de Augusto mudou. Oportunidades apareceram e ele não as desperdiçou. Começou a se dar bem nos negócios e a ganhar um bom dinheiro. Ganhou até na loteria o valor de R$ 101.823,26 e comprou um belo carro.
No fim do ano, decidiram ir para Búzios e passaram o melhor réveillon de suas vidas. Tudo estava tão perfeito.
Na volta para casa, Augusto estava tão feliz. Dirigiu devagar. Não tinha nenhuma pressa. Mas numa ladeira, outro carro fez uma ultrapassagem perigosa e veio direto na direção de seu carro. Não deu tempo nem de desviar.
Todo o mecanismo de segurança do carro não serviu para nada. Augusto e Alícia morreram na hora. Parece mesmo que tinham sido feitos um para o outro.


E depois do começo o que vier vai começar a ser o fim”. Trecho da música Depois do começo, da banda Legião Urbana.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Em busca do sossego

A vida de Juliano começou a ficar agitada dois meses depois do término de um namoro de três anos. Desde então, passou a sair muito com os amigos e algumas mulheres. Passava o dia todo trabalhando muito e à noite, quase sempre, tentava se divertir, distrair-se, passar o tempo.
Mas, depois de três meses, Juliano começou a sentir falta de ter alguém para dividir o seu tempo, as suas conquistas pessoais e as suas angústias.
As garotas com quem saía nem sequer queriam um segundo encontro. Parece que elas estavam querendo só mais um cara nas suas listas. A conversa era muito superficial. Ele estava ficando sufocado, vivendo aquela vida agitada. Sentia-se sozinho e precisava de algo diferente.
Num domingo, num desses feriados prolongados, a cidade estava quase vazia. À noite, ele foi ao shopping e, depois de andar um pouco, resolveu descansar num quiosque e ficou ouvindo a música que era tocada ao vivo. Havia poucas pessoas e, de repente, ele viu surgir meio distante uma mulher. Quanto mais ela se aproximava, mais ele percebia que ela era charmosa. E ela se aproximou ainda mais e se sentou junto de uma mesa próxima. Estava com uma amiga, mas parecia que estava triste, refletindo.
Ele estava com medo de se aproximar, mas a sua vontade de falar com ela falou mais alto e, depois de observar um pouco, ele decidiu ir lá.
- Oi. Tudo bem? – ele disse olhando para ela e fez uma pequena pausa. - Eu estava sentado aqui do lado e te vi e fiquei pensando que se eu não viesse falar com você eu não iria me perdoar.
Elas sorriram e a amiga o examinou por dois segundos.
- Senta aí – disse a amiga, tentando ser educada e talvez aproveitando a oportunidade de sua amiga conhecer outra pessoa.
- Obrigado – ele disse para a amiga e depois se dirigiu para o seu alvo. – Parece que você está triste.
- Estou um pouco triste mesmo. Decepcionada.
- Acho que estou na mesma situação – ele disse, sorrindo. – A propósito, meu nome é Juliano.
Eles se cumprimentaram e ela disse que se chamava Helena.
- Eu já não sei o que fazer – disse ela com a voz suave. Ela parecia um pouco constrangida. – Eu não deveria estar falando com você e muito menos sobre o que eu quero falar.
Ela não costumava falar com desconhecidos, mas teve uma boa impressão de Juliano e sua amiga já tinha dado seu aval antes mesmo de ele ir falar com elas.
- Você poderia me emprestar a sua amiga por dois minutos – disse ele para a amiga de Helena.
- Claro. Vou dar uma volta. Comportem-se, crianças – disse a amiga zombeteiramente.
- Sua amiga é uma figura! – disse ele, sorrindo. Fez uma pausa para retomar o assunto. - Não se preocupe, Helena. Você pode falar o que quiser. Prometo que vou ser um bom ouvinte – ele disse, tentando deixá-la mais à vontade.
- É que eu não tenho sorte com os homens. Eles sempre me magoam muito. Eu terminei um namoro recentemente.
- Puxa, deve ter sido difícil, né? Mas você não deve se desanimar. Ainda vai encontrar o homem certo, quando menos esperar.
- Eu espero que sim, mas está tão difícil, pois ninguém quer nada sério.
Juliano esperava que ele fosse esse homem. Começou a contar sobre a sua vida agitada, suas angústias, sobre querer algo sério com uma mulher e de não encontrá-la, e Helena percebeu que começava a se interessar por ele.
Trocaram números de telefone, começaram a se encontrar para conversar e, no terceiro encontro, Juliano chegou bem perto dela e percebeu que as bochechas dela ficaram coradas. Tocou sua mão direita no rosto dela e disse:
- Você é tão linda. Eu não consigo mais esperar.
Ele a beijou com muito sentimento. Sentiu um sabor diferente e que sua vida mudaria completamente a partir daquele momento.
- E aí? Vamos namorar? – ele perguntou de forma engraçada.
- Você vai precisar falar com meu pai sobre isso... – ela respondeu com a expressão séria. Ele ficou surpreso e com receio. – Precisa não. Eu só queria ver a sua cara – ela disse sorrindo e depois deu o tão esperado sim.


Eu quero alguém pra mim, pra chorar quando choro sozinho. Eu quero alguém pra mim, pra sorrir quando dou um sorriso. Eu quero alguém pra me amar, só pra me amar.” Trecho da música Vinte e Seis, da banda Rosa de Saron.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Arrisque-se

Martinho só tinha 24 anos, mas ele dizia que sabia tudo, quando o assunto era mulher. Brincava com os corações delas, como se elas não tivessem sentimentos. Desfazia-se delas da mesma maneira que as conquistava: rapidamente e sem nenhuma emoção. Era um típico conquistador, que não aceita não como resposta.
Foi aí que conheceu uma mulher na faculdade em que estudava. Aos poucos, ele começou a se aproximar dela, rodeando o grupo de amigos e chegando cada dia mais perto, até que ela se acostumasse com a presença dele. Quanto mais ele se aproximava, mais ele sentia que a queria.
Uma semana depois, ele decidiu que já estava na hora de partir para o ataque. Quando o grupo de amigos se dispersou e ela ia saindo, passando ao seu lado, ele a chamou:
- Oi, Raiane – ele disse e ela se virou para ele, que a olhou nos olhos. – Puxa, é meio estranho... Você estuda aqui há um bom tempo e só recentemente eu te vi e me senti na obrigação de te conhecer.
- Você não me viu porque estava muito ocupado com as outras garotas da faculdade – ela disse friamente.
- Ah... Então você fez uma pesquisa sobre por mim... – ele falou de modo a deixar subentendido que ela estava interessada nele.
- Não. A sua fama que se espalhou pela faculdade. E é melhor você não perder seu tempo comigo porque eu não me interesso por cafajestes – disse ela e saiu, sem dar oportunidade de defesa.
Raiane não se deixou seduzir pelos truques baratos de Martinho e ele se sentiu perdido e, então, decidiu que não descansaria até tê-la ao seu lado. Talvez porque ele quisesse parar de ser um conquistador e quisesse realmente amar pela primeira vez. Ou talvez somente porque um conquistador sempre quer conquistar alguém que não cede tão fácil.
Ele se aproximou ainda mais e passou a fazer todo tipo de proposta (um almoço, um jantar, um lanchinho, um cafezinho, uma caminhada ou simplesmente uma conversa). Ela não aceitava as diversas propostas, mantinha-se distante e se negava a dar o número de seu celular.
Dias depois, durante o intervalo, ele levou lindas flores e uma cesta com chocolates e outras guloseimas, além de um bilhete. Ela não disse uma palavra, mas ficou com o rosto vermelho, talvez por vergonha, talvez por alegria.
No bilhete havia apenas poucas palavras escritas. Vou te provar que não sou um cafajeste. Arrisque-se.
Aquela palavra ficou na cabeça dela e, no mesmo dia, ela ligou no número que ele tinha deixado no bilhete. Disse que estava cansada daquele joguinho e aceitava sair com ele. No jantar, ele disse que aquela seria sua última tentativa, pois não queria ser inconveniente. Ela disse que estava interessada, mas era difícil se arriscar assim, pois não queria ser só mais uma conquista. Ele disse que queria namorar e que estava apaixonado, pois ela tinha despertado nele sentimentos que nunca tinha sentido.
Ela então se entregou e eles se beijaram pela primeira vez e ele sentiu que valeu a pena todo aquele investimento.
Nos outros dias, eles continuaram se encontrando e o amor nasceu no coração de Martinho. Uma semana depois, ela o chamou para jantar na casa dela e tudo saiu muito bem, mesmo depois de adormecerem juntos na mesma cama, o que ele nunca fazia.
Ao amanhecer, ele chegou a se questionar se deveria pular fora e voltar a ser o cafajeste que ele foi durante toda a sua vida. Mas, ao vê-la dormindo ao seu lado, ele teve certeza que não queria estar em nenhum outro lugar.
Martinho pediu Raiane em casamento depois de seis meses e ela aceitou prontamente. Quem diria, o conquistador foi finalmente conquistado.


Quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração”. Trecho da música Eduardo e Mônica, da banda Legião Urbana.