domingo, 27 de dezembro de 2015

Viva la vita (Feliz ano novo)

Hoje em dia a vida está tão corrida e estamos sempre ocupados, mesmo quando não estamos fazendo nada. É uma preguiça sem fim, deixando tudo para depois.
E se depois for tarde demais?
O tempo passa. Nem sempre é possível mudar o que já passou; aliás, a regra é a de que não podemos mudar o passado. Somente algumas podem ser mudadas. Então não há tempo a perder. É como aquele ditado latino “Carpe diem”, algo como “aproveite o dia”.
O futuro não é seguro, não é confiável; mudanças podem ocorrer e tornar tudo completamente insuportável. Só o presente pode ser vivenciado. Na verdade, só o que temos é o presente. Como dizem o presente é um presente e como todo presente deve ser aproveitado.
Se algo deve ser mudado, mude. Se algo deve ser feito, faça. Se há alguma coisa a ser dita, diga.
Não devemos esperar que as coisas simplesmente aconteçam, que “caiam do céu”. Temos que agir e tentar fazer o nosso melhor agora.


Todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou”, “Não temos tempo a perder”. Trechos da música “Tempo perdido”, da Legião Urbana.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Admirador secreto

Carla estava em casa num sábado pela manhã quando ouviu a campainha tocar. Ao abrir a porta, um entregador lhe deu lindas flores. Não havia nenhum bilhete. Nada. Que estranho, ela pensou.
Na segunda feira, ela recebeu uma cesta de chocolate em seu local de trabalho. Dessa vez, havia um bilhete, que dizia somente: “Você vai ter que adivinhar”.
Ela nunca tinha recebido nenhum presente assim. Estava feliz, mas não tinha nenhuma ideia de quem era o seu misterioso presenteador.
Na quarta, ela estava na academia quando recebeu um buquê de rosas vermelhas com um pequeno ursinho de pelúcia. O bilhete dessa vez dizia:
Acho que vou ter que te dar alguma dica, não é mesmo? Para limitar as opções, devo dizer que estou no seu raio de conhecidos.
A dica não ajudava tanto assim, mas tinha que ser alguém que soubesse seu endereço pessoal, profissional e sua academia.
Juliana, sua amiga de trabalho, estava adorando esse pequeno jogo e já tinha escolhido o seu favorito: o novato no trabalho. Outras amigas da academia e colegas de trabalho estavam entusiasmadas, fazendo suas apostas.
Carla torcia para que não fosse o novato, afinal ele era meio grosseiro com ela. Ela se sentia lisonjeada e feliz, mas não demonstrava entusiasmo, pois não queria se decepcionar, se fosse apenas alguma brincadeira sem graça.
Dois dias depois, recebeu algo que ela tinha comentado no trabalho para poucas pessoas: um conjunto de brincos estilo filtro de sonhos. O bilhete dizia:
Acho que agora a sua busca ficou bem restrita. Gostaria de jantar com você amanhã. Espero que você me descubra até lá.
Agora só restavam três pessoas: o novato, seu chefe e o gerente de vendas. Ela descartou o novato de cara. Seu chefe e o gerente eram solteiros, mas nunca demonstraram nenhum interesse direto nela. Trabalhavam juntos há cerca de um ano, eles sempre se mostravam simpáticos, mas nada além disso.
Ela, então, decidiu seguir seu coração e, perto do final do expediente, foi até a sala daquele que ela gostaria que fosse o seu admirador misterioso.
- Oi – disse ela, e ele fez um sinal para que ela continuasse. - Me desculpe. Eu não sei como dizer isso – ela estava claramente nervosa. – É que eu recebi alguns presentes essa semana... flores, chocolates... e não havia identificação do remetente, apenas algumas dicas nos bilhetes. E eu pensei que poderia ser você.
- E por que você pensou isso? – ele perguntou de forma delicada, aparentemente surpreso. Ela percebeu que não era ele e ficou cabisbaixa.
- As dicas apontavam para você e outra pessoa. Mas parece que me enganei.
- Eu não disse que não era eu. Apenas queria saber por que você pensou isso. Sei lá. Você deve ter algum motivo.
- Os bilhetes continham dicas e eu achei que era você. Simples assim – ela não quis revelar que desejava que fosse ele.
- Então você queria que eu fosse seu admirador secreto? - ele perguntou sem demonstrar nenhuma emoção.
- Você é? – ela perguntou apressadamente.
- Você não respondeu a minha pergunta...
- Você tem razão, mas eu disse que poderia ser você e você veio com uma pergunta – disse ela, meio impaciente e começou a suspeitar que ele estava interessado.
- É que gosto de saber os motivos das coisas. E, além disso, eu gostaria de saber se você queria que fosse eu.
- Por que você quer tanto saber isso? Você está me enrolando novamente... Parece que você está interessado fazendo essas perguntas.– ela achou um meio de prolongar o assunto e levar a tensão pro outro lado.
- E se eu estivesse interessado?
- Ainda assim eu não saberia se foi você quem me mandou os presentes.
- Você tem razão. É melhor eu parar de mistério, não é mesmo? – ele fez uma pausa e ela ficou esperando ele continuar. – O que você faria se eu dissesse que fui eu?
- Você faz muitas perguntas. Responda e depois você saberá.
- Eu só queria estender um pouco mais nosso jogo, mas para que fique bem claro eu sou o seu admirador secreto.
- É uma pena. Eu não posso me envolver com meu chefe… É contra meus princípios – ela fez uma expressão séria e ele ficou cabisbaixo. Depois deu uma risada. - Estou brincando, chefinho. Você me busca amanhã às oito?
- Será um prazer – ele disse sorrindo, e ela se virou para sair da sala.
- Ah. Adorei sua criatividade – ela disse, antes de ir.


Eu já te via muito antes nos meus sonhos. Eu procurei a vida inteira por alguém como você.” Trecho da música Dias de luta, dias de glória, da Charlie Brown Jr.

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terça-feira, 24 de novembro de 2015

Sorte

A sorte começava a mudar para Augusto. A sua vida de azar parecia ter ficado para trás quando conheceu Alícia. Logo ele que havia desperdiçado várias oportunidades de mudar a sua vida para melhor.
Quando a conheceu, sentiu algo extremamente especial em seu coração, como se soubesse que ela era a escolhida, a tão esperada mulher de sua vida.
Eles trabalhavam no mesmo prédio e ele a viu quando seus caminhos se cruzaram. Quase todos os dias eles se cruzavam e tudo que ele falava era um “oi”, “bom dia”.
Então, duas semanas depois da primeira vez que a viu, ele teve coragem suficiente para falar com ela e a convidar para um jantar. Ela ficou surpresa, sorridente, mas negou o convite, alegando que estava muito atarefada de trabalho.
Ele não se abateu e, sempre que se cruzavam pelo caminho, ele a convidava para um simples bate bapo depois do expediente, mas ela se negava educadamente, fazendo jogo duro.
Até que um belo dia ele a convidou novamente.
- Puxa, você deve ser a pessoa mais atarefada da face da terra! - ele disse de um jeito engraçado e ela sorriu. - Eu só quero te conhecer e eu não mordo, viu? - ele fez uma pausa, olhando nos olhos dela, mas ela não disse nada. - Dez minutinhos e você se livra de mim pra sempre. É a sua grande chance.
Ela aceitou o convite e, depois do trabalho, eles foram numa cafeteria ali perto e o que deveria ser apenas dez minutos acabou durando um pouco mais de duas horas de conversa divertida.
Nos outros dias, eles continuaram conversando e, depois de duas semanas, começaram o relacionamento. Ele queria algo sério e ela também. Parecia que haviam sido feitos um para o outro. Almas gêmeas, como dizem.
A sorte de Augusto mudou. Oportunidades apareceram e ele não as desperdiçou. Começou a se dar bem nos negócios e a ganhar um bom dinheiro. Ganhou até na loteria o valor de R$ 101.823,26 e comprou um belo carro.
No fim do ano, decidiram ir para Búzios e passaram o melhor réveillon de suas vidas. Tudo estava tão perfeito.
Na volta para casa, Augusto estava tão feliz. Dirigiu devagar. Não tinha nenhuma pressa. Mas numa ladeira, outro carro fez uma ultrapassagem perigosa e veio direto na direção de seu carro. Não deu tempo nem de desviar.
Todo o mecanismo de segurança do carro não serviu para nada. Augusto e Alícia morreram na hora. Parece mesmo que tinham sido feitos um para o outro.


E depois do começo o que vier vai começar a ser o fim”. Trecho da música Depois do começo, da banda Legião Urbana.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Em busca do sossego

A vida de Juliano começou a ficar agitada dois meses depois do término de um namoro de três anos. Desde então, passou a sair muito com os amigos e algumas mulheres. Passava o dia todo trabalhando muito e à noite, quase sempre, tentava se divertir, distrair-se, passar o tempo.
Mas, depois de três meses, Juliano começou a sentir falta de ter alguém para dividir o seu tempo, as suas conquistas pessoais e as suas angústias.
As garotas com quem saía nem sequer queriam um segundo encontro. Parece que elas estavam querendo só mais um cara nas suas listas. A conversa era muito superficial. Ele estava ficando sufocado, vivendo aquela vida agitada. Sentia-se sozinho e precisava de algo diferente.
Num domingo, num desses feriados prolongados, a cidade estava quase vazia. À noite, ele foi ao shopping e, depois de andar um pouco, resolveu descansar num quiosque e ficou ouvindo a música que era tocada ao vivo. Havia poucas pessoas e, de repente, ele viu surgir meio distante uma mulher. Quanto mais ela se aproximava, mais ele percebia que ela era charmosa. E ela se aproximou ainda mais e se sentou junto de uma mesa próxima. Estava com uma amiga, mas parecia que estava triste, refletindo.
Ele estava com medo de se aproximar, mas a sua vontade de falar com ela falou mais alto e, depois de observar um pouco, ele decidiu ir lá.
- Oi. Tudo bem? – ele disse olhando para ela e fez uma pequena pausa. - Eu estava sentado aqui do lado e te vi e fiquei pensando que se eu não viesse falar com você eu não iria me perdoar.
Elas sorriram e a amiga o examinou por dois segundos.
- Senta aí – disse a amiga, tentando ser educada e talvez aproveitando a oportunidade de sua amiga conhecer outra pessoa.
- Obrigado – ele disse para a amiga e depois se dirigiu para o seu alvo. – Parece que você está triste.
- Estou um pouco triste mesmo. Decepcionada.
- Acho que estou na mesma situação – ele disse, sorrindo. – A propósito, meu nome é Juliano.
Eles se cumprimentaram e ela disse que se chamava Helena.
- Eu já não sei o que fazer – disse ela com a voz suave. Ela parecia um pouco constrangida. – Eu não deveria estar falando com você e muito menos sobre o que eu quero falar.
Ela não costumava falar com desconhecidos, mas teve uma boa impressão de Juliano e sua amiga já tinha dado seu aval antes mesmo de ele ir falar com elas.
- Você poderia me emprestar a sua amiga por dois minutos – disse ele para a amiga de Helena.
- Claro. Vou dar uma volta. Comportem-se, crianças – disse a amiga zombeteiramente.
- Sua amiga é uma figura! – disse ele, sorrindo. Fez uma pausa para retomar o assunto. - Não se preocupe, Helena. Você pode falar o que quiser. Prometo que vou ser um bom ouvinte – ele disse, tentando deixá-la mais à vontade.
- É que eu não tenho sorte com os homens. Eles sempre me magoam muito. Eu terminei um namoro recentemente.
- Puxa, deve ter sido difícil, né? Mas você não deve se desanimar. Ainda vai encontrar o homem certo, quando menos esperar.
- Eu espero que sim, mas está tão difícil, pois ninguém quer nada sério.
Juliano esperava que ele fosse esse homem. Começou a contar sobre a sua vida agitada, suas angústias, sobre querer algo sério com uma mulher e de não encontrá-la, e Helena percebeu que começava a se interessar por ele.
Trocaram números de telefone, começaram a se encontrar para conversar e, no terceiro encontro, Juliano chegou bem perto dela e percebeu que as bochechas dela ficaram coradas. Tocou sua mão direita no rosto dela e disse:
- Você é tão linda. Eu não consigo mais esperar.
Ele a beijou com muito sentimento. Sentiu um sabor diferente e que sua vida mudaria completamente a partir daquele momento.
- E aí? Vamos namorar? – ele perguntou de forma engraçada.
- Você vai precisar falar com meu pai sobre isso... – ela respondeu com a expressão séria. Ele ficou surpreso e com receio. – Precisa não. Eu só queria ver a sua cara – ela disse sorrindo e depois deu o tão esperado sim.


Eu quero alguém pra mim, pra chorar quando choro sozinho. Eu quero alguém pra mim, pra sorrir quando dou um sorriso. Eu quero alguém pra me amar, só pra me amar.” Trecho da música Vinte e Seis, da banda Rosa de Saron.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Arrisque-se

Martinho só tinha 24 anos, mas ele dizia que sabia tudo, quando o assunto era mulher. Brincava com os corações delas, como se elas não tivessem sentimentos. Desfazia-se delas da mesma maneira que as conquistava: rapidamente e sem nenhuma emoção. Era um típico conquistador, que não aceita não como resposta.
Foi aí que conheceu uma mulher na faculdade em que estudava. Aos poucos, ele começou a se aproximar dela, rodeando o grupo de amigos e chegando cada dia mais perto, até que ela se acostumasse com a presença dele. Quanto mais ele se aproximava, mais ele sentia que a queria.
Uma semana depois, ele decidiu que já estava na hora de partir para o ataque. Quando o grupo de amigos se dispersou e ela ia saindo, passando ao seu lado, ele a chamou:
- Oi, Raiane – ele disse e ela se virou para ele, que a olhou nos olhos. – Puxa, é meio estranho... Você estuda aqui há um bom tempo e só recentemente eu te vi e me senti na obrigação de te conhecer.
- Você não me viu porque estava muito ocupado com as outras garotas da faculdade – ela disse friamente.
- Ah... Então você fez uma pesquisa sobre por mim... – ele falou de modo a deixar subentendido que ela estava interessada nele.
- Não. A sua fama que se espalhou pela faculdade. E é melhor você não perder seu tempo comigo porque eu não me interesso por cafajestes – disse ela e saiu, sem dar oportunidade de defesa.
Raiane não se deixou seduzir pelos truques baratos de Martinho e ele se sentiu perdido e, então, decidiu que não descansaria até tê-la ao seu lado. Talvez porque ele quisesse parar de ser um conquistador e quisesse realmente amar pela primeira vez. Ou talvez somente porque um conquistador sempre quer conquistar alguém que não cede tão fácil.
Ele se aproximou ainda mais e passou a fazer todo tipo de proposta (um almoço, um jantar, um lanchinho, um cafezinho, uma caminhada ou simplesmente uma conversa). Ela não aceitava as diversas propostas, mantinha-se distante e se negava a dar o número de seu celular.
Dias depois, durante o intervalo, ele levou lindas flores e uma cesta com chocolates e outras guloseimas, além de um bilhete. Ela não disse uma palavra, mas ficou com o rosto vermelho, talvez por vergonha, talvez por alegria.
No bilhete havia apenas poucas palavras escritas. Vou te provar que não sou um cafajeste. Arrisque-se.
Aquela palavra ficou na cabeça dela e, no mesmo dia, ela ligou no número que ele tinha deixado no bilhete. Disse que estava cansada daquele joguinho e aceitava sair com ele. No jantar, ele disse que aquela seria sua última tentativa, pois não queria ser inconveniente. Ela disse que estava interessada, mas era difícil se arriscar assim, pois não queria ser só mais uma conquista. Ele disse que queria namorar e que estava apaixonado, pois ela tinha despertado nele sentimentos que nunca tinha sentido.
Ela então se entregou e eles se beijaram pela primeira vez e ele sentiu que valeu a pena todo aquele investimento.
Nos outros dias, eles continuaram se encontrando e o amor nasceu no coração de Martinho. Uma semana depois, ela o chamou para jantar na casa dela e tudo saiu muito bem, mesmo depois de adormecerem juntos na mesma cama, o que ele nunca fazia.
Ao amanhecer, ele chegou a se questionar se deveria pular fora e voltar a ser o cafajeste que ele foi durante toda a sua vida. Mas, ao vê-la dormindo ao seu lado, ele teve certeza que não queria estar em nenhum outro lugar.
Martinho pediu Raiane em casamento depois de seis meses e ela aceitou prontamente. Quem diria, o conquistador foi finalmente conquistado.


Quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração”. Trecho da música Eduardo e Mônica, da banda Legião Urbana.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Ingratidão

Maria era uma escritora famosa, tinha vários livros publicados e sua vida financeira estava mais do que perfeita. Entretanto, por mais que sua vida estivesse muito bem resolvida, ela acreditava que não estava tão bem assim, vivia reclamando de coisas banais e deixava de ver o quanto sua vida tinha mudado, desde que saiu da sua pequenina cidade natal, largando seu emprego de garçonete para se aventurar no mundo do jornalismo e da literatura.
Ela via sua vizinha panicat e a invejava, desejando aquele corpo sarado, mas não fazia um exercício sequer.
A sua outra vizinha mudava a fachada de casa e Maria logo resolvia que a fachada de sua belíssima casa estava antiquada e precisava de uma revitalização, apesar de parecer impecável aos olhos dos demais vizinhos.
No trânsito, ela não só reclamava como agitava as mãos e, às vezes, esbravejava com outros motoristas. Quando fazia sol, ela murmurava do calor. Quando chovia, ela se queixava, por não querer se molhar justamente na hora que ia sair.
Mesmo quando seus assistentes faziam tudo do jeito solicitado, ela dava um jeito de colocar algum defeito no serviço.
Dias atrás, ela estava assistindo o jornal local e viu uma reportagem sobre um homem que tinha perdido toda a sua casa, móveis e utensílios domésticos durante uma grande tempestade. Quando a equipe de reportagem chegou no local, viu o homem dançando e cantando na chuva, com largos sorrisos e agradecendo a Deus por sua vida ter sido poupada.
A reportagem continuava com outros exemplos de pessoas que passaram por situações dramáticas, mas que preferiam ver o lado positivo das coisas, como um homem que ficou paraplégico e, depois de meses de depressão, viu sua vida se transformar completamente e vivia muito mais feliz do que antes do acidente.
Havia também uma mulher que tinha perdido seu carro recém comprado num acidente muito grave. Ela só teve alguns arranhões e agradecia porque continuava respirando e poderia voltar para a sua família ao final do dia. Ela sabia que não havia feito o seguro do carro, mas isso não a preocupava no momento. Poderia resolver depois.
Eram imagens e histórias comoventes para a maioria das pessoas, mas Maria não conseguia ver motivos para agradecer e na sua mente só vinham lamentações.


Mas digo sinceramente na vida a coisa mais feia é gente que vive chorando de barriga cheia”. Trecho da música Maneiras, de Zeca Pagodinho.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Acaso

Rogério ia para o trabalho, andando apressado. Estava atrasado e havia muitas pessoas nas ruas também apressadas e, aparentemente, estressadas ao extremo.
Estava atravessando um semáforo, quando uma moça derrubou sem querer a maleta dele, que se abriu e papéis voaram pra todos os lados. Ela, meio sem graça, quis ajudar, pegando a maioria dos papéis antes que as pessoas pisassem neles, enquanto ele juntava os outros.
- Me desculpe. Eu estava distraída e não consegui desviar – disse ela, desajeitada, exibindo um lindo sorriso.
- Não se preocupe. Isso sempre acontece comigo – ele disse, também sorrindo, tentando ver o lado positivo daquela situação.
Ela apertou a mãe dele e disse que se chamava Elisa, estava muito atrasada e tinha que ir.
Ele quis dizer algo, mas ela saiu, sem olhar pra trás.
Quando ele chegou ao trabalho, tentou se concentrar, mas só conseguia pensar naquele sorriso.
Às dez horas da manhã, ele tinha uma reunião com a sua nova chefe. Chegando à sala da chefe, encontrou a mesma mulher que havia derrubado a sua maleta. Ele sorriu, meio sem graça diante daquela coincidência e feliz por tê-la reencontrado, e ela exibiu novamente o seu lindo sorriso.
Ele olhou rapidamente para as mãos dela e percebeu que ela não usava aliança.
- Parece que já nos encontramos por acaso a caminho daqui – ela disse, tentando deixá-lo à vontade, pois ele parecia um pouco inquieto. – Você já conhece a sua nova chefe. Digo logo que nada vai mudar, pelo menos por enquanto. Você pode continuar fazendo o que sempre fez. Vi os relatórios e você vem se destacando na sua área.
- Muito obrigado.
- Acho que é só isso. Você já pode ir.
Ele já estava virando para sair, quando ela acrescentou:
- E tem mais uma coisa. Eu sou nova na cidade e queria que hoje à noite você me levasse num bom restaurante para conhecer melhor a cidade – ela fez uma pausa e ele ficou calado. – Se você puder, é claro.
- Posso sim. Onde busco a senhora?
- Não me chame de senhora, por favor. Meu nome é Elisa e você já sabe disso. Você pode me pegar aqui mesmo às oito horas.
- Estarei aqui. Mas eu posso fazer uma pergunta?
- Pode sim.
- Você quer conhecer a cidade ou me conhecer?
- Os dois.
À noite, ele a levou para jantar num dos melhores restaurantes da cidade, conversaram muito e perceberam vários pontos em comum. Depois foram a dois pontos característicos da região e se divertiram bastante. Após um momento de silêncio, ele finalmente decidiu se aproximar e foi se aproximando calmamente até que ela o beijou de forma delicada e depois com intensidade.
- Eu espero não correr risco ao me envolver com minha linda chefe – disse ele com bom humor.
- Relaxa, seu bobo. Como você pode ver, eu sou uma chefe boazinha.

O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído.” Trecho da música Epitáfio da banda Titãs.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Você teve a sua chance

Ronaldo e Mariana estavam namorando há seis meses e ele então a convidou para morarem juntos na casa dele.
Tudo estava indo muito bem no começo e eles estavam se divertindo muito nessa fase. Era como se estivessem numa constante lua de mel.
Mas, depois de três meses, os pequenos defeitos um do outro começaram a aparecer.
Mariana já não achava Ronaldo tão romântico assim. Na verdade, muitas vezes ele a tratava de forma bruta e insensível.
Ronaldo já não achava Mariana tão madura assim. De fato, ela tinha manias infantis e sua voz fina não agradava mais.
Ele começou a chegar tarde em casa, geralmente depois de ter bebido algumas cervejas. E, certo dia, Mariana reclamou:
- Você sabe que eu não sou ciumenta, mas você está exagerando. Assim não vai funcionar.
- Não posso mais nem beber com meus amigos?
- Claro que pode, mas todo dia não dá!
Ele disse que ia melhorar, ia diminuir suas saídas com os amigos. E ele começou a chegar cedo em casa e, após tomar um banho rápido e de dar um beijinho nela, passava a noite quase toda jogando vídeo game. E, depois de alguns dias, Mariana novamente reclamou:
- Você sabe que eu não sou histérica, mas você está exagerando de novo. Assim não vai funcionar.
- Não posso mais nem jogar vídeo game?
- Claro que pode, mas todo dia não dá!
Ele disse que ia melhorar e no outro dia a levou para jantar e depois foram para uma festa com alguns amigos em comum.
Dias depois, Ronaldo começou a jogar futebol à noite três vezes por semana e nos dias livres não fazia nada diferente com Mariana.
Ela reclamou mais uma vez que o namoro estava virando uma rotina ruim. Mas dessa vez ele parece que não ouviu ou fingiu que não escutou, pois não mudou absolutamente nada.
Depois de mais uma noite de futebol com os amigos, quando ele chegou em casa, viu sua namorada sentada no sofá e havia duas malas ao redor. Ele ficou assustado e perguntou:
- O que é isso?
Ela se levantou, pegou as malas, começou a andar em direção à porta e disse apenas:
- Você teve a sua chance.
Depois de ela sair, ele ficou muito triste e decidiu dar um tempo para ela pensar melhor. Depois de uma semana, ele ligou para ela.
- Eu sei que errei, mas prometo que vou melhorar.
- Você já me disse isso antes e não melhorou. Infelizmente, não dá mais. Como eu disse, você teve a sua chance.
Ela desligou e ele desmoronou na cama. Passou dias mal e então começou a perceber que ele tinha mesmo que melhorar. Não por ela, mas por ele mesmo.
Tempos depois, com uma vida muito boa emocionalmente, ao relembrar dessa situação, ele sorriu e percebeu que foi a melhor coisa que já tinha acontecido na sua vida.


Já que você não está aqui, o que posso fazer é cuidar de mim”. Trecho da música Vento no litoral, da banda Legião Urbana.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Armação do destino

Renato estava em casa, vendo um filme quando o telefone tocou.
- Oi – disse ele, meio impaciente, afinal o filme estava numa parte boa e ele não gostava de interrupções.
- Oi – disse a voz feminina do outro lado da linha. – Renato, é a Clara, lembra?
- Lembro sim. Lembro de todos da escola.
- Pois é. Tô te ligando porque uma pessoa pediu que eu ligasse...
- Quem? – Renato estava curioso.
- Lembra da Carol?
- Lembro muito bem. O que tem ela?
- Foi ela que pediu pra eu ligar pra você.
A Carol pediu pra Clara me ligar? Que estranho, pensou ele. Mas ele estava gostando. Ela era simplesmente a garota dos sonhos dele quando estudaram juntos.
- Ela pediu que eu marcasse um encontro hoje à noite.
- Você tá brincando, né? Isso só pode ser uma brincadeira – disse ele, meio desconfiado.
- Não. Tô falando sério. Ela quer muito te ver. Disse que você poderia escolher o local e o horário.
- Por que ela não me ligou então?
Era uma pergunta válida. Ele ainda estava desconfiado.
- Ela não tem crédito...
Apesar de não estar convencido da resposta, ele concordou. Disse o lugar e a hora em que se encontrariam.
No local combinado, o seu restaurante preferido, perto das oito horas, lá estava ele, todo arrumado e perfumado. Sentou-se num dos cantos e esperou um pouco. Passaram-se quinze minutos além das oito e ele já começava a ter certeza de sua desconfiança, quando ela apareceu, deslumbrante.
Ele não conseguia nem acreditar. Pensou que estava sonhando. Ele se levantou e puxou a cadeira para que ela sentasse. Pegou numa das mãos dela e ela se sentou.
- Você está tão linda – ele disse, olhando-a de ponta à cabeça.
- Obrigada. Você também está ótimo – fez uma pausa e deu um sorriso. – Quanto tempo, né?
- Pois é. Eu sinto muita falta da escola, principalmente de você.
Ela ficou meio sem graça, aparecendo algumas manchas vermelhas em seu rosto.
- Por isso você pediu pra Clara me ligar? – disse ela.
- Na verdade, foi ela que me ligou, dizendo que você tinha pedido pra ela ligar – disse ele com um sorriso sem graça no rosto.
Ela sorriu. Já tinha entendido a armação de Clara.
- A Clara sempre fez essas brincadeiras na escola, mas por essa eu não esperava – disse ela e fez uma pequena pausa. – Acho que ela resolveu fazer isso depois que eu disse pra ela uns dias atrás que eu sentia sua falta. Eu disse que das pessoas da sala a que mais sinto falta é você. Estranho, né? A gente nem tinha tanto contato...
Ela sente a minha falta, ele pensou.
- Eu pensei que você não iria nem aparecer.
- Era uma armação, mas pelo menos eu apareci – disse ela sorrindo e ele também sorriu.
- Nunca pensei que você sentisse a minha falta. Sério, eu não esperava por isso, apesar de desejar que isso acontecesse.
O coração dele batia muito acelerado, mas parecia estranhamente calmo.
- Parece que você se enganou e se subestimou – ela disse e pegou na mão dele. – Acho que a Clara fez bem. Só assim pra gente conversar.
Ele aproveitou o momento, chegou bem perto dela e esperou que ela completasse o movimento do beijo.
Ela o beijou suavemente e eles ficaram agarradinhos ali por um tempo, namorando sem nenhuma pressa.
Depois pediram algo para comer e conversaram por mais duas horas, como nunca tinham feito antes, mesmo estudando na mesma sala durante três anos.
No fim da noite, ela disse que tinha esperado muito para ter essa conversa e que não queria mais perder tempo. Queria começar um relacionamento sério e ele concordou completamente. Eles sentiam que seus pensamentos convergiam na mesma direção.
Ele a levou para a casa dela e se beijaram mais uma vez, sentindo que muitos outros beijos viriam.

"E, hoje em dia, como é que se diz eu te amo?". Trecho da música "Vamos fazer um filme", da Legião Urbana.

sábado, 12 de setembro de 2015

Abordagem no banco

Lucas estava na fila do banco e logo percebeu que havia uma bela garota um pouco à sua frente. Sem perder tempo, ele foi até ela.
- Oi. Prazer, Lucas – disse ele olhando bem fundo nos olhos dela, demonstrando calma e confiança.
Ele estendeu a mão pra ela, mas ela não retribuiu o cumprimento. Olhou pra ele de um jeito constrangido, afinal havia várias pessoas ali.
- Te vi aqui e pensei em te conhecer. Não quero te atrapalhar. Só quero te conhecer. Provavelmente não vou ter outra oportunidade. Tudo bem?
Ela respondeu que estava bem, mas deu a entender que não queria mais conversa.
Algumas pessoas olhavam para aquela conversa como se aquilo fosse algo fora do comum. Uma delas tinha um olhar intimidador e outra, um olhar zombador.
- É. Eu sei que a gente não se conhece. Talvez seja meio estranho falar comigo, mas, na boa, vamos conversar como duas pessoas civilizadas. Que problema tem nisso?
Ele ainda demonstrava confiança e ela começou a sentir que queria falar com ele.
- Eu não sei – disse ela, um pouco insegura, mas sua tonalidade de voz indicava que queria que ele continuasse tentando.
- Mas eu sei. Não tem problema nenhum. Como é o seu nome?
- Marília.
- Puxa, Marília. Que nome lindo. É um prazer enorme falar com você – ele disse e fez uma pequena pausa. - Nessa hora eu deveria perguntar o que você faz e quantos anos você tem, mas eu prefiro perguntar se você gosta de comida japonesa - ele arriscou, observando que ela vestia uma camisa com uma estampa com desenhos japoneses. 
- Eu adoro comida japonesa. É a minha preferida.
- Sensacional! Que coincidência! Abriu um restaurante japonês perto da minha casa. A gente tem que ir lá conhecer. Me passa seu número pra gente combinar.
- Mas a gente nem se conhece direito...
- Exatamente, Marília. Por isso mesmo que a gente vai conversar mais pelo celular. E também não tem nenhum problema nisso, viu? Além do mais, eu já estou saindo, como a gente vai conversar mais, se você não me passar seu número?
- É verdade. Você tem toda razão – ela teve que admitir.
Ela digitou o número dela no celular dele e ele a abraçou.
- Caramba, você é muito cheirosa – ele disse e se despediu.
- Você não ia pagar algum boleto? – ela perguntou, pois ele não havia utilizado o caixa do banco.
- Não. Eu vi você entrando no banco e achei que tinha que falar contigo. Eu não ia me perdoar, se eu não tentasse vir aqui te conhecer.
Ela deu um sorriso incrédulo e lisonjeado ao mesmo tempo. Ele a abraçou novamente e se despediu.
Ele deu alguns passos em direção à porta do banco e o homem que tinha um sorriso zombador perguntou curioso:
- Como você fez isso?
E Lucas, com um leve sorriso e um gesto desinteressado, disse simplesmente:
- Agindo.

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Trecho da música Pra não dizer que eu não falei das flores de Geraldo Vandré.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Nós precisamos conversar

Um sorriso. Bastou um belo sorriso e a vida de Jorge mudou completamente. Ele, que não tinha sorte nos relacionamentos, parecia ter encontrado a sua amada. Ela se chamava Amanda e apareceu na sua vida de repente, de um jeito meio inusitado.
Logo começaram a sair para almoçar, jantar e simplesmente conversar. A companhia dela era sempre muito boa para ele, que sempre queria estar ao lado dela.
E então veio o primeiro beijo e as primeiras juras de amor. E Jorge tinha grandes planos para eles. Mas Amanda parecia não estar preparada para tantos planos. Queria simplesmente uma companhia, alguém que a divertisse e a levasse para bons lugares.
O coração de Amanda parecia pertencer a outro homem e Jorge, mesmo com sua pouca experiência, já tinha percebido e começava a desconfiar que ela estiva saindo com outra pessoa.
Então, Jorge mudou o seu comportamento e começou a tratá-la com um pouco mais de virilidade, e ela achou estranho, pois sempre gostava de como ele a tratava.
Depois de alguns dias, o relacionamento deles estava indo por água abaixo. Amanda já não tinha mais a diversão que queria e Jorge não tinha o amor que tanto esperava.
Parecia que nada mudaria, que tudo acabaria. Mas foi nesse momento ruim que Jorge e Amanda descobriram o amor que sentiam um pelo outro. Foi com o diálogo que ambos perceberam que se amavam. Jorge disse que ela pensava em outro homem e ela disse que não havia homem algum. Só estava com medo de tantos planos; ainda não queria pensar no futuro, queria aproveitar o presente.
Amanda então se entregou ao amor. Ainda queria diversão, mas não queria só isso. Jorge voltou a ser quem sempre foi e as coisas se acertaram.


Nós precisamos conversar. Decidir o que vai ser”. Trecho da música Frente a frente, da dupla Matogrosso e Mathias.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Preconceito

Clara havia acabado de sair do banco, quando entrou numa loja de roupas, querendo comprar o vestido que ela tanto sonhava. Nesse momento, apareceu uma moça, uma vendedora cheia de sorrisos.
Clara foi direto ao vestido. Ela já sabia o preço, mas perguntou mesmo assim.
- Trezentos e cinquenta reais – disse a vendedora, com um pouco de indiferença, talvez porque Clara não estava bem vestida, ou porque Clara era negra ou simplesmente porque aquele vestido era o mais caro da loja.
- Qual é o desconto? – perguntou Clara, sabendo que não teria nenhum desconto.
- Esse é o preço para pagamento à vista ou no cartão – disse a vendedora, já olhando para a madame que chegava toda arrumadinha, olhando as primeiras peças da loja. – Enquanto você escolhe, vou atender aquela mulher – disse, demonstrando um pouco de insatisfação por atender Clara, como se soubesse que ela não compraria nada.
- Espere. Eu já escolhi. Eu quero esse vestido. Onde posso experimentar?
A vendedora, meio surpresa, indicou o vestuário e saiu rapidamente para auxiliar a madame, que olhava quase tudo e ia selecionando vários itens para experimentar, porém não comprou nenhum.
Então, Clara, que demorou no vestuário porque estava visualizando o vestido em todas as posições possíveis, saiu do provador e disse à vendedora que o vestido estava perfeito. Queria levá-lo. Ia pagar com o cartão de crédito.
A vendedora demorou para acreditar quando percebeu que o cartão tinha saldo suficiente. Olhou novamente para Clara, surpresa e desnorteada, e lhe entregou o vestido.
Clara saiu da loja quase chorando. Só não chorou porque já havia passado por situações piores.
A vendedora sentiu-se estranhamente vazia e, ao mesmo tempo, cheia de preconceitos. Teve vontade de chorar.

"Não seja um imbecil. Não seja um ignorante. Não se importe com a origem ou a cor do seu semelhante". Trecho da música Racismo é burrice de Gabriel, o pensador.

domingo, 2 de agosto de 2015

Voz distante

A sua voz estava distante,
tão cortante e fria,
tão vazia e chocante.
Nenhum sentimento havia,
a não ser o pior sentimento,
tão nojento e repugnante,
tão incessante e rabugento,
mas o seu olhar é penetrante.
E na sua expressão tanta crueldade,
tanta falsidade e indecência,
tanta truculência e perversidade.
O seu estado beira à indigência.

Decidi ir embora, assustado,
com tanta inimizade e arrogância.
E depois de meses me vi obrigado
a manter uma certa distância.


"Tem gente que machuca os outros. Tem gente que não sabe amar". Trecho da música "Mais uma vez" de Renato Russo.

sábado, 18 de julho de 2015

Vamos fugir


Rafael estava em casa, vendo um seriado legal num serviço de streaming, mas um sentimento de tédio começou a se instalar em sua cabeça.
Passados alguns minutos, ele decidiu pôr um fim naquela sensação e colocou em prática um plano maluco que há muito tempo ele tinha bolado.
Pegou seu telefone e abriu um desses aplicativos de conversação pela internet. Foi passando os seus contatos um por um e chegou em Karol, uma garota que ele sabia que toparia qualquer aventura, desde que fosse com ele.
Ele a chamou para conversar e inicialmente perguntou se ela estava bem e se estava livre naquele início de tarde. Ela, instantaneamente, respondeu que estava ótima e que estava completamente livre e queria sair.
Pois eu tenho uma boa notícia pra você! Estou querendo embarcar numa aventura incrível e resolvi te chamar pra ir comigo. Você topa? – ele disse, encaminhando a mensagem para ela.
Com certeza! Você passa aqui? – ela respondeu, entusiasmada.
Arrume suas malas porque vamos fugir. Te pego daqui uma hora.
Ele explicou rapidamente como seria a aventura e o que ela tinha que levar. Ela disse que estaria pronta a tempo e queria aproveitar ao máximo aquela aventura.
Ele a pegou no horário combinado e eles pegaram a estrada rumo ao desconhecido. Duas horas depois, pararam num lugar paradisíaco, pouco conhecido, à beira do mar. A vista era linda e eles decidiram mergulhar e aproveitar a natureza.
Estava ficando tarde e ele, então, montou uma barraca e fez uma fogueira. Ele preparou a comida, simples e deliciosa e, após comerem, pegou seu violão e ficaram cantando músicas por quase uma hora. Depois entraram na barraca e o clima romântico perdurou até altas horas, quando só então, exaustos e suados, cansaram-se e dormiram.
Pela manhã, desmontaram a barraca e partiram para outro lugar magnífico, repleto de cachoeiras e pequenos montes. A paisagem era incrível e eles mergulharam e aproveitaram cada instante. Eles estavam tão alegres, que pareciam uma criança brincando num parque pela primeira vez.
À noite, ela cozinhou e eles cantaram outras músicas, contaram histórias engraçadas e repetiram o romantismo na barraca.
O roteiro seguiu esse mesmo estilo por mais três dias, em lugares fantásticos e pouco explorados. Ela se sentia maravilhosamente bem, aproveitando cada momento, e ele estava orgulhoso por colocar seu plano em prática.
No final da aventura, ele a deixou em casa, sentindo que queria mais passeios como aquele e com uma pontinha de saudade dela. Olhou nos olhos dela e a beijou intensamente. Em seguida, disse apenas: A gente se vê, baby.
Ela, emocionada, ficou com a sensação de que ele voltaria em breve. Nunca se sabe.



Vamos fugir deste lugar, baby. […] Qualquer outro lugar ao sol, outro lugar azul.” Trechos da música Vamos fugir da banda Skank.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Desespero

A madrugada passava devagar. Vanessa não sabia o que fazer; não tinha nem conseguido dormir depois do que se passou na noite anterior. Ela só conseguia pensar em Ricardo. Como ela tinha chegado nesse ponto? Não conseguia se perdoar pelo que tinha feito consigo mesma e também com o seu namorado (na verdade, ex-namorado).
Ele havia descoberto o segredo dela. Mas como ele tinha descoberto? Ela fazia tudo tão escondido, tão calculado. Como dizem, parece que a mentira tem mesmo perna curta.
Já havia quase um ano que ela tinha um amante e ele nem sequer desconfiava. Tudo parecia tão perfeito. Pra ela, é claro. E ele também achava tudo muito bom, até ontem.
Ela nem sabe, mas ele descobriu a traição de uma forma tão simples. Ela estava “dando muita bandeira” ultimamente e ele estava mais do que desconfiado. Bastou esperar um pouco perto da casa dela, depois que ele supostamente tinha saído de lá. Não passaram nem vinte minutos e um garoto chegou de carro. Desceu, tocou a campainha e ela logo apareceu, toda arrumada, e entrou no veículo. Isso tinha acontecido há dois dias.
No outro dia, Ricardo não apareceu na hora em que costumava chegar. Esperou alguns minutos e nada. Ligou para o celular dele. Fora de área ou desligado. Ligou na casa dele. Ninguém atendeu. Ela, então, ficou angustiada.
Depois de alguns minutos, ele ligou.
- Eu já sei de tudo. Acabou – a voz dele parecia muito triste.
- Como assim? Não estou entendendo – ela ainda tentava mudar a situação.
- Você vai se arrepender para sempre.
Ela tentou falar algo, mas ele já tinha desligado.
Ela não tinha conseguido dormir. Logo que amanheceu, foi para a casa de Ricardo. Chegando lá, viu uma ambulância. Ela não estava gostando do que estava acontecendo. Um corpo estava sendo levado para a ambulância. A mãe de Ricardo olhou para ela com uma expressão de dor e depois de desprezo. Todos a olhavam e alguém gritou “piranha”.
Ricardo havia cortado os pulsos. Estava morto e havia deixado uma carta, contando tudo.
Vanessa saiu dali correndo, completamente desesperada.


Aonde está você agora, além de aqui dentro de mim?”. Trecho da música Vento no litoral, da banda Legião Urbana.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Na praça

As coisas não estavam indo bem na vida de Plínio. Ele estava com dificuldades na faculdade e no seu trabalho, sem falar na sua vida amorosa, que praticamente deixou de existir há algum tempo.
Ele estava dando um tempo; não queria mais se envolver com ninguém desde que foi rejeitado um ano atrás pela mulher que ele considerava o amor de sua vida.
E, num desses dias comuns, que nada tem de especial, Plínio foi pra praça perto de sua casa, refletir e pegar um ar fresco. Ele só não sabia que mais uma pessoa tinha ido lá pelo mesmo motivo.
Ela estava sentada no banco ao lado, tão pensativa, que o fez imaginar o que a afligia tanto. Mas ele não queria conversar; já tinha até perdido a prática. Mas não esperava que ela fosse se sentar ao lado dele e começar a falar.
Acho que você não se lembra de mim, mas nós somos quase vizinhos. Já te vi algumas vezes na rua e tinha vontade de falar com você, mas nunca dava certo – disse ela, sem rodeios.
Ele, então, disse como se chamava e perguntou o nome dela. Ela disse que se chamava Laura, tinha 19 anos e estava muito triste, apesar de ele não ter perguntado. Ela falou que se sentia perdida, teria que fazer o curso que seus pais escolheram para ela, mesmo sem gostar do ramo. E não era só isso: seu ex-namorado, paranoico, não a deixava em paz, vivia sendo perseguida por ele, que já havia até ameaçado alguns amigos dela.
Ele ouviu tudo paciente e atenciosamente. Foi aí que ela perguntou por que ele estava tão preocupado e ele inicialmente não quis se abrir, mas aos poucos foi ficando aliviado depois de contar todos os seus problemas e eram muitos.
Já no final da tarde, ela disse que tinha que ir embora, mas antes, meio sem jeito, falou que desejava saber se ele queria sair com ela.
Apesar de você ter um namorado paranoico, eu gostaria muito de sair com você – disse ele, sem pestanejar.
Ela sorriu e o abraçou. Ele aproveitou o momento e a beijou, sentindo que ainda se beijariam muitas outras vezes. Ficaram ali mais uma pouco, namorando.
Dois dias depois saíram e eles sentiam que estavam na mesma situação, que estavam cada vez mais conectados. Saíram mais algumas vezes naquele mês e ele, que no começo ficou um pouco desconfiado, finalmente a pediu em namoro e ela aceitou prontamente, pois gostou dele desde o começo.


Tudo pode mudar, tudo pode estar onde menos se espera”. Trecho da música Onde Menos Se Espera, da banda Engenheiros do Hawaii.