segunda-feira, 29 de junho de 2015

Na praça

As coisas não estavam indo bem na vida de Plínio. Ele estava com dificuldades na faculdade e no seu trabalho, sem falar na sua vida amorosa, que praticamente deixou de existir há algum tempo.
Ele estava dando um tempo; não queria mais se envolver com ninguém desde que foi rejeitado um ano atrás pela mulher que ele considerava o amor de sua vida.
E, num desses dias comuns, que nada tem de especial, Plínio foi pra praça perto de sua casa, refletir e pegar um ar fresco. Ele só não sabia que mais uma pessoa tinha ido lá pelo mesmo motivo.
Ela estava sentada no banco ao lado, tão pensativa, que o fez imaginar o que a afligia tanto. Mas ele não queria conversar; já tinha até perdido a prática. Mas não esperava que ela fosse se sentar ao lado dele e começar a falar.
Acho que você não se lembra de mim, mas nós somos quase vizinhos. Já te vi algumas vezes na rua e tinha vontade de falar com você, mas nunca dava certo – disse ela, sem rodeios.
Ele, então, disse como se chamava e perguntou o nome dela. Ela disse que se chamava Laura, tinha 19 anos e estava muito triste, apesar de ele não ter perguntado. Ela falou que se sentia perdida, teria que fazer o curso que seus pais escolheram para ela, mesmo sem gostar do ramo. E não era só isso: seu ex-namorado, paranoico, não a deixava em paz, vivia sendo perseguida por ele, que já havia até ameaçado alguns amigos dela.
Ele ouviu tudo paciente e atenciosamente. Foi aí que ela perguntou por que ele estava tão preocupado e ele inicialmente não quis se abrir, mas aos poucos foi ficando aliviado depois de contar todos os seus problemas e eram muitos.
Já no final da tarde, ela disse que tinha que ir embora, mas antes, meio sem jeito, falou que desejava saber se ele queria sair com ela.
Apesar de você ter um namorado paranoico, eu gostaria muito de sair com você – disse ele, sem pestanejar.
Ela sorriu e o abraçou. Ele aproveitou o momento e a beijou, sentindo que ainda se beijariam muitas outras vezes. Ficaram ali mais uma pouco, namorando.
Dois dias depois saíram e eles sentiam que estavam na mesma situação, que estavam cada vez mais conectados. Saíram mais algumas vezes naquele mês e ele, que no começo ficou um pouco desconfiado, finalmente a pediu em namoro e ela aceitou prontamente, pois gostou dele desde o começo.


Tudo pode mudar, tudo pode estar onde menos se espera”. Trecho da música Onde Menos Se Espera, da banda Engenheiros do Hawaii.


sábado, 20 de junho de 2015

Mais um pouco de suspense

 Mario estava preocupado. Eliane, sua filha, não havia voltado para casa e isso nunca tinha acontecido. Ligou para várias pessoas, mas ninguém sabia o paradeiro dela.
Mais cedo, Eliane saiu para o trabalho e pegou o metrô, como fazia diariamente. Ela estava sentada num dos bancos, sozinha. Um homem bem vestido chegou ao lado dela e perguntou gentilmente se poderia se sentar ali e ela disse que sim.
Ele deu um sorriso, sentou-se e se apresentou, estendendo a mão direita para cumprimentar Eliane.
- Gabriel. Muito prazer.
Ela retribuiu o cumprimento e ele logo começou uma conversa divertida sobre o seu trabalho e como não tinham se encontrado antes, já que ele pegava o mesmo metrô há muito tempo.
Depois de algum tempo, Gabriel, que causou uma boa impressão em Eliane, fez um convite para tomarem um café assim que chegassem à estação que ela desembarcaria. Havia um tempo disponível até que ela entrasse no trabalho e então ela aceitou a proposta.
Eles desceram do metrô e foram andando pela estação, quando Gabriel a puxou para entrar numa porta utilizada somente por funcionários que trabalham naquele local. Ela o seguiu, acreditando que teria um encontro amoroso às escondidas.
À noite, Mario recebeu uma ligação que o deixou completamente desesperado. Sua filha estava morta. Havia sido estuprada e mutilada.
Ele logo confirmou a informação, pois estava passando na televisão e soube que Gabriel já havia matado outras cinco mulheres em circunstâncias muito semelhantes, mas só agora essa informação foi revelada pela polícia.
A sua filha não iria mais voltar e no seu íntimo surgia um grande sentimento de vingança.


“Podem até maltratar meu coração, que meu espírito ninguém vai conseguir quebrar.” Trecho da música Um dia perfeito da banda Legião Urbana.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Pôr do sol

O dia estava lindo. Um sol magnífico brilhava no ar e o céu estava completamente azul, sem nenhuma nuvem.
Fabrício tinha combinado um encontro com a sua colega de faculdade. Mas não era um encontro romântico (bem que ele queria); era só um trabalho da faculdade.
Era apenas o primeiro período da faculdade e, por isso, Fabrício não a conhecia muito bem. Pra falar a verdade, ele nem se lembrava do nome dela.
Lá pelas três horas da tarde, ela chegou à casa dele e logo começaram a fazer o trabalho. Era algo sobre física nuclear e eles estavam meio perdidos, sem saber o que fazer exatamente. Mas, no final, conseguiram reunir o que tinham pesquisado e o trabalho não ficou muito a desejar.
Perto das cinco da tarde, quando terminaram o trabalho, Fabrício a convidou para lanchar perto da sua casa, na beira do rio que banhava a cidade. Lancharam e Fabrício logo perguntou o nome dela. Ela, um pouco decepcionada, disse que se chamava Ana.
Fez-se um silêncio. Fabrício olhava o pôr do sol. Ele, que já estava acostumado a acompanhá-lo dali, encantou-se mais uma vez, pois a visão era linda. O sol se pondo entre nuvens que traçavam desenhos coloridos entre laranja, roxo, vermelho e outras cores que nem tinham nomes.
Ana disse que ainda não tinha visto nada igual. Fabrício também fez que sim e, chegando mais perto dela, perguntou o que realmente queria saber.
- Você tem namorado?
Ela disse que não, que há muito tempo não tinha., pois ninguém queria nada sério.
Ele disse que queria algo mais do que sério e ela sorriu, duvidando.
- A sua fama na faculdade diz o contrário – ela respondeu.
- E você perguntou por mim na faculdade? - disse ele, sorridente.
Ela fez que sim, meio sem graça.
- Essa fama ficou para trás – disse ele, pegando nas mãos dela. – Você deve ter perguntado pra pessoa errada, talvez uma mulher invejosa e ciumenta que insiste em me denegrir, só por que a deixei no ano passado. Por acaso, não foi com a Vera que você conversou, foi?
Ela fez que sim novamente, ainda mais embaraçada.
- Tá vendo? As aparências enganam.
Ela o beijou e eles ficaram ali, curtindo aquele lindo pôr do sol, abraçados.


Pra onde tenha sol é pra lá que eu vou”. Trecho da música O Sol da banda Jota Quest. 

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Menoridade

Edilene estava indo para o trabalho em sua motocicleta, quando foi abordada por um assaltante, que a matou e levou consigo o veículo.
O assaltante foi preso mais tarde e aparentemente tem apenas 17 anos. É, portanto, considerado menor infrator pela legislação atual.
Esse triste fato ocorreu ontem na minha cidade e causou grande repercussão nos veículos de comunicação e num desses aplicativos de conversação utilizados em smartphones.
Em meio à comoção por mais uma morte causada por um adolescente e à recente inclusão de projeto de lei sobre o tema para apreciação pelo Congresso Nacional, a população em geral é favorável à redução da idade em que se adquire a capacidade civil e penal.
Em tempos de comoção com crimes graves, as pessoas são quase sempre favoráveis ao aumento de penas e redução de benefícios aos acusados.
A maioria dos especialistas na área criminal é contra essa redução, pois já existe uma lei que prescreve algumas sanções, mas essa lei – como tantas outras - não está sendo cumprida pelo Estado, especialmente quanto às medidas socioeducativas e a reinserção na sociedade. Além disso, a redução não reduziria a violência, pois o Estado estaria tratando do efeito e não da causa dessa violência.
Eu estou do lado dos especialistas. E qual é a sua opinião?


O dia terminou. A violência continua. [...] Não é por causa do álcool, nem é por causa das drogas. A violência é nossa vizinha. [...] Violência gera violência. Violência doméstica, violência cotidiana. [...] Não existe razão, nem existem motivos. [...] É difícil acreditar que somos nós os culpados. É mais fácil culpar Deus ou então o diabo” Trechos da música Violência, da banda Titãs.