terça-feira, 28 de abril de 2015

Fora da biblioteca (continuação do post anterior)

Depois daquela tarde na biblioteca, Marcelo chamou Renata para dar uma volta e eles foram andando de mãos dadas por cerca de duzentos metros e, então, ela, que não conseguia ficar sem falar por muito tempo, perguntou:
- Aonde estamos indo?
Ele sorriu, ficou de frente para ela, colocou as mãos dele nas costas dela e a puxou para perto e disse, olhando bem fundo dos olhos dela:
- Seja paciente, meu bem. Você logo saberá. Um pouco de suspense é sempre bom.
Ele chegou bem perto do rosto dela e percebeu que as bochechas dela ficaram avermelhadas. Passou uma de suas mãos pelo rosto dela e disse:
- Você é tão linda.
Ela ficou esperando o beijo, mas ele recuou, deu um leve sorriso, pegou novamente a mão dela e voltaram a caminhar. Ele quer me deixar louca, ela pensou.
Andaram mais um pouco e chegaram num lugar especial, uma espécie de lanchonete, com choperia, cafeteria e música ao vivo.
Era sexta. Já estava quase anoitecendo e as pessoas estavam chegando, vindo do trabalho para o happy hour. Eles se sentaram lado a lado numa mesa de canto, uma garçonete bem vestida os atendeu e eles pediram algo para comer, afinal estavam famintos depois de uma tarde de estudo e conversa na biblioteca. Ele se virou para ela, que se concentrou no olhar dele. Então, ele disse o que realmente queria dizer há algum tempo.
- Eu estou gostando de você e já faz alguns dias que me vejo pensando em você e no quanto me divirto quando estamos juntos na biblioteca. É a melhor parte do dia. Eu quero que a gente passe mais tempo juntos.
- Pois vamos passar muito tempo juntos – ela se apressou em dizer. - Você é tão romântico. Estava procurando alguém assim, mas nunca encontrava.
- A gente tem algumas diferenças... Você é muito espontânea e fala bastante – ele disse, enquanto ela pensava que tudo estava indo por água abaixo. - Mas eu quero estar com você e acredito que vamos nos dar bem.
Ela, surpreendentemente, ficou calada, esperando que ele a beijasse e ele chegou mais perto do rosto dela e disse:
- Seria clichê se eu te beijasse agora?
Ela não respondeu. Apenas riu e o beijou delicadamente, sentindo-se apaixonada.


“Você me falou pra eu não me preocupar, ter fé e ver coragem no amor”. Trecho da música Último romance, da banda Los Hermanos.
PS: Continuação da postagem anterior "Biblioteca".

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Biblioteca

Era um dia chuvoso, como poucos naquela época quente. Marcelo queria descansar, dormir e não pensar em mais nada. Mas ele precisava estudar. Então, foi à biblioteca da faculdade. Lá ele poderia se concentrar mais, já que em sua casa quase sempre tem muita gente e muito barulho.
Quando chegou não havia quase ninguém, mas com o passar do tempo a sala da biblioteca foi ficando quase cheia. E foi então que uma garota chegou e se sentou ao seu lado.
- Oi – disse ela e estendeu a mão para ele. – Meu nome é Renata.
- O meu é Marcelo – disse, apertando a mão dela. – Nunca te vi por aqui antes...
- É a minha primeira vez mesmo. Sou novata aqui. Entrei agora na faculdade e os professores já passaram um monte de trabalhos.
Marcelo sorriu. Ia voltar a estudar, mas ela resolveu fazer uma pergunta.
- Você chegou aqui cedo, né? Parece que já leu quase tudo.
- Cheguei aqui há duas horas e ainda preciso ler muito mais, infelizmente.
- Mas você pode me dizer quantos anos tem, né?
Marcelo era meio tímido e já estava ficando impaciente com tantas perguntas.
- Eu tenho 22 e preciso estudar para fazer a minha monografia.
Ele já estava virando de lado para estudar, quando ela disse que tinha 17 anos e morava perto da faculdade. Não tinha namorado faz tempo e que nem pensava em namorar enquanto estivesse na faculdade. Depois perguntou sobre ele, sem perceber que ele não estava gostando nada daquela conversa.
- Não moro muito perto da faculdade. Não tenho namorada e também não pretendo namorar enquanto estiver na faculdade – ele disse a primeira coisa que veio a sua cabeça.
- Puxa, então somos muito parecidos. Que coincidência.
E ela ficou ali, perguntando sobre ele e falando sobre ela mesma e sobre outras coisas. Nem percebia que ali era uma biblioteca e que ele estava quase a ponto de explodir de tanta impaciência.
Nos outros dias, ela sempre se sentava ao lado dele e começava a falar sem parar. E Marcelo guardava a sua impaciência para si mesmo e tentava ser o mais gentil possível. Até que certo dia ele olhou nos olhos dela e percebeu o quanto ela era bonita e o quanto ela estava sendo importante nesses últimos dias, mesmo sem ele perceber. Ele começava a sentir falta dela, quando ele ia pra casa, e ficava contando as horas para ir à biblioteca novamente. Ele quase nem falava; só observava ela falando e olhava cada detalhe do corpo dela.
Dias depois ele teve coragem de chamá-la pra sair e ela aceitou prontamente, parecendo que já estava esperando há muito tempo por isso.


“O amor pode te tocar em qualquer momento”. Trecho da música Jamais será tarde demais, da banda Rosa de Saron.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Efeito manada

Numa época de excesso de informação, o efeito manada está reinando.
E o que é esse efeito? De modo bastante simples, é o ato de seguir alguém ou uma ideia sem saber o motivo. Seguir porque muita gente está seguindo, por estar na moda. Isso ocorre porque é da natureza humana buscar aprovação.
Se está havendo uma manifestação na cidade e você pergunta pra algumas pessoas o motivo de estarem participando do protesto, muitos irão dizer que foram porque todos os seus amigos também foram. A maioria sequer saber o motivo do protesto e, se sabe, não entende realmente aquele motivo. Vai protestar por protestar e acaba manobrado por grupos políticos.
E alguns dizem que é legal se manifestar, que demonstra consciência política e insatisfação, que é um ato de cidadania, mas se você pergunta qual é a sua consciência política, eles não sabem responder.
É claro que há pessoas ali que sabem o que estão fazendo, mas a grande maioria está naquele local pelo efeito manada.
Em tempos de redes sociais tão utilizadas, percebemos facilmente isso. Muitas pessoas curtindo imagens e vídeos e seguindo páginas simplesmente porque muitas outras pessoas tinham feito isso antes e sequer pararam pra pensar se realmente gostavam daquilo. É algo quase automático.
Na moda também vemos isso constantemente. Roupas e acessórios extravagantes em alta no momento de seu lançamento, muita gente aderindo e depois de seis meses ninguém mais usa.
Também é da natureza humana concordar com a opinião de “especialistas”.
Lembro que um professor escritor disse que sempre escreveu sobre um determinado tema do mesmo modo que todos os outros escritores escrevem sobre aquele assunto. Um belo dia, ele lê o que ele escreveu e percebe que aquilo não faz sentido algum e vê o quanto esteve cego aquele tempo todo. É, na verdade, um copiar e colar sem analisar o conteúdo.
Era mais ou menos como se dissessem que 2+2=5 e todos concordassem com aquela afirmação manifestadamente falsa. Uma mentira contada um milhão de vezes acaba se tornando verdade, se for contada como verdade. Já utilizaram esse mecanismo para alienar pessoas a matarem outras no nazismo e até em regimes considerados democráticos.
O efeito manada já fez muito estrago. Então, é melhor pensar duas vezes antes de fazer alguma coisa ou seguir uma ideia.
Mas alguém pode dizer: - A vida é minha. Eu curto e sigo o que eu quiser!
E eu respondo: - É claro! Seja feliz!


Seria mais fácil fazer como todo mundo faz.” Trecho da música Outras frequências da banda Engenheiros do Hawaí.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Passagens pela polícia

Mario estava preocupado. Sua filha não havia voltado para casa e isso nunca tinha acontecido. Ligou para várias pessoas, mas ninguém sabia o paradeiro da sua filha.
E então recebeu uma ligação que o deixou completamente desesperado. Sua filha estava morta. Havia sido estuprada e mutilada e infelizmente era verdade. Estava passando na televisão.
O repórter estava falando que o assassino foi pego e estava preso, embora não entendesse como antes do crime ele poderia estar solto com três condenações anteriores e oito passagens pela polícia.
Aí um suposto especialista disse que existe o princípio da presunção da inocência e alguns institutos benéficos, como a liberdade provisória.
Um policial foi entrevistado e disse que o estuprador, quando passava pela polícia, tinha o atrevimento de pedir um cafezinho e falava que logo seu advogado iria tirá-lo dali e que veio só cumprimentar o delegado.
Mario, que não entendia nada sobre isso, estava transtornado com a morte de sua filha e indignado com o nosso sistema legal, que permite que assassinos e estupradores fiquem livres para cometerem mais crimes.
A sua filha não iria mais voltar e era isso que realmente o preocupava.


“Os assassinos estão livres. Nós não estamos.” Trecho da música O Teatro dos Vampiros da banda Legião Urbana.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Milagres

Osvaldo pensava que nada mais em sua vida daria certo.
Ele estava desempregado, sua namorada o abandonou a ver navios e a sua mãe estava quase morrendo no hospital.
Ele chegou a pensar em suicídio, mas orou a Deus e se sentiu melhor, depois de ler algumas passagens da Bíblia.
Os dias passavam e tudo parecia cada vez pior: o dinheiro acabando, a saudade aumentando, a sua mãe piorando.
E, então, surgiu uma luz no fim do túnel.
Um amigo seu apareceu depois de muito tempo e lhe chamou para trabalhar com ele no novo negócio que ele estava abrindo.
Lá ele conheceu Michele, sua colega de trabalho, e começaram a conversar e ela estava numa situação parecida com a dele. O ex-namorado dela tinha morrido de câncer.
Eles foram se aproximando cada vez mais e começaram a sair pra lanchar, pra jantar ou para simplesmente conversar.
Chegou um momento em que ele a pediu em namoro e ela aceitou prontamente, afinal ela estava gostando dele.
A mãe de Osvaldo começou a melhorar misteriosamente. O médico não soube explicar como o câncer no intestino dela havia sumido.
E Osvaldo começou a acreditar que milagres aconteciam e louvou a Deus por tudo.


E perceba que só ele pode compreender o seu interior e a suas dores afastar, o seu sonho realizar, a sua vida transformar.” O sol da meia noite – Rosa de Saron.