terça-feira, 22 de setembro de 2015

Armação do destino

Renato estava em casa, vendo um filme quando o telefone tocou.
- Oi – disse ele, meio impaciente, afinal o filme estava numa parte boa e ele não gostava de interrupções.
- Oi – disse a voz feminina do outro lado da linha. – Renato, é a Clara, lembra?
- Lembro sim. Lembro de todos da escola.
- Pois é. Tô te ligando porque uma pessoa pediu que eu ligasse...
- Quem? – Renato estava curioso.
- Lembra da Carol?
- Lembro muito bem. O que tem ela?
- Foi ela que pediu pra eu ligar pra você.
A Carol pediu pra Clara me ligar? Que estranho, pensou ele. Mas ele estava gostando. Ela era simplesmente a garota dos sonhos dele quando estudaram juntos.
- Ela pediu que eu marcasse um encontro hoje à noite.
- Você tá brincando, né? Isso só pode ser uma brincadeira – disse ele, meio desconfiado.
- Não. Tô falando sério. Ela quer muito te ver. Disse que você poderia escolher o local e o horário.
- Por que ela não me ligou então?
Era uma pergunta válida. Ele ainda estava desconfiado.
- Ela não tem crédito...
Apesar de não estar convencido da resposta, ele concordou. Disse o lugar e a hora em que se encontrariam.
No local combinado, o seu restaurante preferido, perto das oito horas, lá estava ele, todo arrumado e perfumado. Sentou-se num dos cantos e esperou um pouco. Passaram-se quinze minutos além das oito e ele já começava a ter certeza de sua desconfiança, quando ela apareceu, deslumbrante.
Ele não conseguia nem acreditar. Pensou que estava sonhando. Ele se levantou e puxou a cadeira para que ela sentasse. Pegou numa das mãos dela e ela se sentou.
- Você está tão linda – ele disse, olhando-a de ponta à cabeça.
- Obrigada. Você também está ótimo – fez uma pausa e deu um sorriso. – Quanto tempo, né?
- Pois é. Eu sinto muita falta da escola, principalmente de você.
Ela ficou meio sem graça, aparecendo algumas manchas vermelhas em seu rosto.
- Por isso você pediu pra Clara me ligar? – disse ela.
- Na verdade, foi ela que me ligou, dizendo que você tinha pedido pra ela ligar – disse ele com um sorriso sem graça no rosto.
Ela sorriu. Já tinha entendido a armação de Clara.
- A Clara sempre fez essas brincadeiras na escola, mas por essa eu não esperava – disse ela e fez uma pequena pausa. – Acho que ela resolveu fazer isso depois que eu disse pra ela uns dias atrás que eu sentia sua falta. Eu disse que das pessoas da sala a que mais sinto falta é você. Estranho, né? A gente nem tinha tanto contato...
Ela sente a minha falta, ele pensou.
- Eu pensei que você não iria nem aparecer.
- Era uma armação, mas pelo menos eu apareci – disse ela sorrindo e ele também sorriu.
- Nunca pensei que você sentisse a minha falta. Sério, eu não esperava por isso, apesar de desejar que isso acontecesse.
O coração dele batia muito acelerado, mas parecia estranhamente calmo.
- Parece que você se enganou e se subestimou – ela disse e pegou na mão dele. – Acho que a Clara fez bem. Só assim pra gente conversar.
Ele aproveitou o momento, chegou bem perto dela e esperou que ela completasse o movimento do beijo.
Ela o beijou suavemente e eles ficaram agarradinhos ali por um tempo, namorando sem nenhuma pressa.
Depois pediram algo para comer e conversaram por mais duas horas, como nunca tinham feito antes, mesmo estudando na mesma sala durante três anos.
No fim da noite, ela disse que tinha esperado muito para ter essa conversa e que não queria mais perder tempo. Queria começar um relacionamento sério e ele concordou completamente. Eles sentiam que seus pensamentos convergiam na mesma direção.
Ele a levou para a casa dela e se beijaram mais uma vez, sentindo que muitos outros beijos viriam.

"E, hoje em dia, como é que se diz eu te amo?". Trecho da música "Vamos fazer um filme", da Legião Urbana.

sábado, 12 de setembro de 2015

Abordagem no banco

Lucas estava na fila do banco e logo percebeu que havia uma bela garota um pouco à sua frente. Sem perder tempo, ele foi até ela.
- Oi. Prazer, Lucas – disse ele olhando bem fundo nos olhos dela, demonstrando calma e confiança.
Ele estendeu a mão pra ela, mas ela não retribuiu o cumprimento. Olhou pra ele de um jeito constrangido, afinal havia várias pessoas ali.
- Te vi aqui e pensei em te conhecer. Não quero te atrapalhar. Só quero te conhecer. Provavelmente não vou ter outra oportunidade. Tudo bem?
Ela respondeu que estava bem, mas deu a entender que não queria mais conversa.
Algumas pessoas olhavam para aquela conversa como se aquilo fosse algo fora do comum. Uma delas tinha um olhar intimidador e outra, um olhar zombador.
- É. Eu sei que a gente não se conhece. Talvez seja meio estranho falar comigo, mas, na boa, vamos conversar como duas pessoas civilizadas. Que problema tem nisso?
Ele ainda demonstrava confiança e ela começou a sentir que queria falar com ele.
- Eu não sei – disse ela, um pouco insegura, mas sua tonalidade de voz indicava que queria que ele continuasse tentando.
- Mas eu sei. Não tem problema nenhum. Como é o seu nome?
- Marília.
- Puxa, Marília. Que nome lindo. É um prazer enorme falar com você – ele disse e fez uma pequena pausa. - Nessa hora eu deveria perguntar o que você faz e quantos anos você tem, mas eu prefiro perguntar se você gosta de comida japonesa - ele arriscou, observando que ela vestia uma camisa com uma estampa com desenhos japoneses. 
- Eu adoro comida japonesa. É a minha preferida.
- Sensacional! Que coincidência! Abriu um restaurante japonês perto da minha casa. A gente tem que ir lá conhecer. Me passa seu número pra gente combinar.
- Mas a gente nem se conhece direito...
- Exatamente, Marília. Por isso mesmo que a gente vai conversar mais pelo celular. E também não tem nenhum problema nisso, viu? Além do mais, eu já estou saindo, como a gente vai conversar mais, se você não me passar seu número?
- É verdade. Você tem toda razão – ela teve que admitir.
Ela digitou o número dela no celular dele e ele a abraçou.
- Caramba, você é muito cheirosa – ele disse e se despediu.
- Você não ia pagar algum boleto? – ela perguntou, pois ele não havia utilizado o caixa do banco.
- Não. Eu vi você entrando no banco e achei que tinha que falar contigo. Eu não ia me perdoar, se eu não tentasse vir aqui te conhecer.
Ela deu um sorriso incrédulo e lisonjeado ao mesmo tempo. Ele a abraçou novamente e se despediu.
Ele deu alguns passos em direção à porta do banco e o homem que tinha um sorriso zombador perguntou curioso:
- Como você fez isso?
E Lucas, com um leve sorriso e um gesto desinteressado, disse simplesmente:
- Agindo.

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Trecho da música Pra não dizer que eu não falei das flores de Geraldo Vandré.