quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Repetição da brincadeira


Outra tarde passava devagar. Havia chovido e o tempo não estava tão quente como de costume, estava até fazendo um friozinho bom. Era sábado e Renato estava em casa, assistindo a um filme quando o telefone tocou. Ele atendeu.
- Oi – disse ele, meio impaciente, afinal o filme estava numa parte boa e ele não gostava de interrupções.
- Oi – disse a voz do outro lado da linha. Era uma voz feminina. – Renato, é a Clara, lembra?
Claro que ele lembrava, afinal não havia muito tempo que eles estudaram juntos.
- Lembro sim. Lembro de todos da escola.
- Pois é. Tô te ligando porque uma pessoa pediu que eu ligasse...
- Quem? – Renato estava curioso.
- Lembra da Carol?
- Lembro muito bem. O que tem ela?
- Foi ela que pediu pra eu ligar pra você.
A Carol pediu pra Clara me ligar? Que estranho, pensou ele. Mas ele estava gostando. Ela era simplesmente a garota dos sonhos dele.
- Ela pediu que eu marcasse um encontro hoje à noite.
- Você está brincando, não é? Isso só pode ser uma brincadeira – disse ele, meio desconfiado.
- Não. Estou falando sério. Ela quer muito te ver. Disse que você poderia escolher o local e o horário.
Ele, ainda meio desconfiado, concordou. Disse o lugar e a hora em que se encontrariam. Seria às oito horas da noite no seu restaurante preferido.
No local combinado, perto das oito horas, lá estava ele, todo arrumado e perfumado. Esperou um pouco. Passaram quinze minutos além das oito e ele já começava a ter certeza de sua desconfiança, quando ela apareceu, deslumbrante. 
Ele não conseguia nem acreditar. Pensou que estava sonhando.
Ela se sentou. 
- Você está tão linda.
- Obrigada. Você também está ótimo – fez uma pausa e deu um sorriso. – Quanto tempo, né?
- Pois é. Eu sinto muita falta da escola, principalmente de você.
Ela ficou meio sem graça, aparecendo algumas manchas vermelhas em seu rosto.
- Por isso você pediu pra Clara me ligar? – disse ela.
- Na verdade, foi ela que me ligou, dizendo que você tinha pedido pra ela ligar.
Ela sorriu. Já tinha entendido a armação de Clara.
- A Clara sempre fez essas brincadeiras na escola, mas por essa eu não esperava – disse ela e olhou para ele. – Acho que ela resolveu fazer isso depois que eu disse pra ela uns dias atrás que eu sentia sua falta. Eu disse que das pessoas da sala a que mais sinto falta é você. Estranho, né? A gente nem tinha tanto contato...
Ela sente a minha falta, ele pensou.
- Eu pensei que fosse brincadeira dela. Que você não iria aparecer.
- Era mesmo uma brincadeira, mas pelo menos eu apareci – disse ela sorrindo. 
- Nunca pensei que você sentisse a minha falta. Sério, eu não esperava por isso, apesar de desejar que isso acontecesse.
O coração dele batia muito acelerado, mas parecia estranhamente calmo.
- Parece que você se enganou e se subestimou – ela disse e pegou na mão dele. – Acho que a Clara fez bem. Só assim pra gente conversar.
Eles sorriram, pediram algo para comer e conversaram por mais duas horas, como nunca tinham feito antes, mesmo estudando na mesma sala durante três anos.
No fim da noite, ela disse que tinha esperado muito para ter essa conversa e que não queria mais perder tempo. Queria começar um relacionamento sério e ele concordou completamente. Eles sentiram que seus pensamentos convergiam na mesma direção.
Ele a levou até à casa dela e, enfim, beijaram-se pela primeira vez, sentindo que haveriam muitos outros beijos. 
A noite tinha sido perfeita.

"E, hoje em dia, como é que se diz 'eu te amo'?". Trecho da música "Vamos fazer um filme", da Legião Urbana.

Esse post é repetição de uma postagem do dia 17/10/2009.
Achei interessante postar novamente, pois achei legal o texto e acho que poucas pessoas o viram.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Um sabor diferente

Juliano já tinha vivido muitas coisas na sua curta vida. Já tinha experimentado muitas emoções. E a sua vida estava agitada desde que tinha terminado um namoro de três anos há cerca de seis meses atrás.
Passou a sair muito com os amigos e algumas mulheres. Saia quase todos os dias, tentando se manter ocupado. Passava o dia todo trabalhando muito e à noite, quase sempre, saia para se divertir, distrair-se, passar o tempo.
Mas Juliano já começava a sentir falta de ter alguém com quem dividir o seu tempo, os seus momentos, as suas angústias.
Os seus “amigos”, ele sabia, fugiriam na primeira oportunidade em que surgisse um problema. As garotas com quem saía nem sequer queriam um segundo encontro. Parece que elas estavam querendo só mais um cara nas suas listas.
Ele estava quase sufocado, vivendo aquela vida agitada. Precisava de algo diferente.
Num domingo, num desses feriados prolongados, a cidade estava quase vazia. Juliano não tinha viajado com os amigos, como de costume. Decidiu tirar um tempo pra si. Refletir sobre a sua vida.
Ele estava numa praça. Havia poucas pessoas. De repente, ele viu surgir meio distante uma mulher. E, quanto mais ela se aproximava, mais ele percebia que ela era linda. E ela se aproximou cada vez mais e se sentou num banco próximo. Estava sozinha e parecia que estava triste. Parecia que estava refletindo.
Ele estava com medo de se aproximar, mas a sua vontade de falar com ela falou mais alto e logo ele se sentou no mesmo banco em que ela estava sentada. Ela disse “oi”, um pouco surpresa.
- Percebi que você parece triste – ele disse de um jeito delicado.
- Estou um pouco triste mesmo. Um pouco cansada.
- Eu estou do mesmo jeito. Que coincidência – ele disse, sorrindo. – A propósito, meu nome é Juliano.
Ele estendeu a mão para cumprimentá-la. E ela disse que se chamava Helena e apertou a mão dele.
- Eu já não sei o que fazer – disse ela. Ela parecia um pouco constrangida. – Eu não deveria estar falando com você e muito menos sobre o que eu quero falar.
- Não se preocupe. Você pode falar o que quiser. Prometo que vou ser um bom ouvinte – ele disse, tentando deixá-la mais à vontade.
- É que eu não tenho sorte com homens. Eles sempre me magoam muito. Por isso estou triste. Descobri recentemente que ele estava me traindo.
- Deve ter sido difícil. Mas você não deve se desanimar. Ainda vai encontrar o homem certo, quando menos esperar.
Juliano esperava que ele fosse esse homem. Começou a contar sobre a sua vida, suas angústias, e Helena percebeu que começava a se interessar por ele.
Trocaram telefones, começaram a se encontrar para conversar, e depois começaram a sair para jantar, e numa dessas saídas Juliano disse que queria namorar com ela, chegou perto  e a beijou com muito sentimento. Sentiu um sabor diferente e que sua vida mudaria completamente a partir daquele momento.

"Assim pude trazer você de volta pra mim, quando descobri que é sempre só você que me entende do início ao fim". Índios - Legião Urbana.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Um sorriso

Um sorriso. Um belo sorriso, e a vida de Jorge mudou completamente. Ele, que não tinha sorte nos relacionamentos, parecia ter encontrado a sua amada. Ela se chamava Amanda e apareceu na sua vida de repente, de um jeito meio inusitado.
E logo começaram a sair para almoçar, jantar e simplesmente lanchar. A companhia dela era sempre muito boa para ele e ele sempre queria estar ao lado dela.
 E então veio o primeiro beijo e as primeiras juras de amor. E Jorge tinha grandes planos para eles. Mas Amanda parecia não estar preparada para tantos planos. Queria simplesmente uma companhia, alguém que a divertisse e a levasse para bons lugares.
O coração de Amanda parecia pertencer a outro homem, o que ela nunca tinha falado para Jorge, mas ele, apesar de sua inocência e pouca experiência, já tinha percebido e começava a desconfiar que ela estivesse saindo com esse outro homem.
Então, Jorge mudou o seu comportamento e começou a tratá-la com um pouco mais de virilidade, e ela achou estranho, pois sempre gostava de como ele a tratava.
Depois de alguns dias, o relacionamento deles estava indo por água abaixo. Amanda já não tinha mais a diversão que queria e Jorge não tinha o amor que tanto esperava.
Parecia que nada mudaria, que tudo acabaria. Mas foi nesse momento ruim que Jorge e Amanda descobriram o amor que sentiam um pelo outro. Foi com o diálogo que ambos chegaram à conclusão de que nada poderia separá-los. Jorge disse que ela pensava em outro homem e ela disse que não havia homem algum. Só estava com medo de tantos planos; ainda não queria pensar no futuro, queria aproveitar o presente.
Amanda então se entregou ao amor. Ainda queria diversão, mas não queria só isso. Jorge voltou a ser quem sempre foi e as coisas se acertaram.

"E eu vou tratá-la bem
Prá que ela não tenha medo
Quando começar a conhecer
Os meus segredos". Segredos - Frejat.