terça-feira, 25 de julho de 2023

Arrisque-se

 

Martinho só tinha 24 anos, mas ele dizia que sabia tudo, quando o assunto era mulher. Brincava com os corações delas, como se elas não tivessem sentimentos. Desfazia-se delas da mesma maneira que as conquistava: rapidamente e sem nenhuma emoção. Era um típico conquistador, que não aceita não como resposta.

E então ele conheceu uma mulher na faculdade em que estudava. Aos poucos, ele começou a se aproximar dela, rodeando o grupo de amigos e chegando cada dia mais perto, até que ela se acostumasse com a presença dele. Quanto mais ele se aproximava, mais ele sentia que a queria.

Uma semana depois, ele decidiu que já estava na hora de partir para o ataque. Quando o grupo de amigos se dispersou e ela ia saindo, passando ao seu lado, ele a chamou:

Oi, Raiane – ele disse e ela se virou para ele, que a olhou nos olhos. – Puxa, é meio estranho… Você estuda aqui há um bom tempo e só recentemente eu te vi e me senti na obrigação de te conhecer.

Você não me viu porque estava muito ocupado com as outras garotas da faculdade – ela disse friamente.

Ah… Então você fez uma pesquisa sobre por mim… – ele falou de modo a deixar subentendido que ela estava interessada nele.

Não. A sua fama que se espalhou pela faculdade. E é melhor você não perder seu tempo comigo porque eu não me interesso por cafajestes – disse ela e saiu, sem dar oportunidade de defesa.

Raiane não se deixou seduzir pelos truques baratos de Martinho e ele se sentiu perdido e, então, decidiu que não descansaria até tê-la ao seu lado. Talvez porque ele quisesse parar de ser um conquistador e quisesse realmente amar pela primeira vez. Ou talvez somente porque um conquistador sempre quer conquistar alguém que não cede tão fácil.

Ele se aproximou ainda mais e passou a fazer todo tipo de proposta (um almoço, um jantar, um lanchinho, um cafezinho, uma caminhada ou simplesmente uma conversa). Ela não aceitava as diversas propostas, mantinha-se distante e se negava a dar o número de seu celular.

Dias depois, durante o intervalo, ele levou lindas flores e uma cesta com chocolates e outras guloseimas, além de um bilhete. Ela não disse uma palavra, mas ficou com o rosto vermelho, talvez por vergonha, talvez por alegria.

No bilhete havia poucas palavras escritas. Vou te provar que não sou um cafajeste. Arrisque-se.

Aquela última palavra ficou na cabeça dela e, no mesmo dia, ela ligou no número que ele tinha deixado no bilhete. Disse que estava cansada daquele joguinho e aceitava sair com ele. No jantar, ele disse que aquela seria sua última tentativa, pois não queria ser inconveniente. Ela disse que estava interessada, mas era difícil se arriscar assim, pois não queria ser só mais uma conquista. Ele disse que queria namorar e que estava apaixonado, pois ela tinha despertado nele sentimentos que nunca tinha sentido.

Ela então se entregou e eles se beijaram pela primeira vez e ele sentiu que valeu a pena todo aquele investimento.

Nos outros dias, eles continuaram se encontrando e o amor nasceu no coração de Martinho. Uma semana depois, ela o chamou para jantar na casa dela e tudo saiu muito bem, mesmo depois de adormecerem juntos na mesma cama, o que ele nunca fazia.

Ao amanhecer, ele chegou a se questionar se deveria pular fora e voltar a ser o cafajeste que ele foi durante toda a sua vida. Mas, ao vê-la dormindo ao seu lado, ele teve certeza que não queria estar em nenhum outro lugar.

Martinho pediu Raiane em casamento depois de seis meses e ela aceitou prontamente. Quem diria, o conquistador foi finalmente conquistado.


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Quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração”. Trecho da música Eduardo e Mônica, da banda Legião Urbana.