terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Vamos viver nossos sonhos (Feliz ano novo)

O ano já está quase acabando e eu percebo que passou tão rápido, que nem deu para pensar muito sobre tudo o que aconteceu.
Nesses últimos dias, é tempo de muitas confraternizações, em que teoricamente tentamos estreitar os laços, mas muitas vezes a distância só aumenta, ainda mais em tempos de redes sociais, que parecem ser cada vez mais antissociais e nos divide e nos isola, mesmo estando tão perto.
Mas desejamos que o próximo ano seja melhor e, sinceramente, 2019 não foi exatamente o melhor ano pra muita gente. Tantas pessoas morreram, perderam as esperanças, bens materiais, em meio a tantas tragédias e eventos catastróficos.
Foi um ano turbulento e tudo isso deveria nos unir, nos fortalecer, mas parece que estamos anestesiados, vivendo no automático.
Espero que isso mude e que 2020 seja um ano muito abençoado e com mais união, com mais amor, gentileza, generosidade e felicidade. Sem falsas promessas e com muitos planos, metas e objetivos, que possam se concretizar.
Que possamos buscar ser melhor a cada dia e, assim, no final do outro ano festejaremos com muita alegria nossa melhora coletiva.
Vamos buscar nossos sonhos, afinal ainda não é tarde pra fazer o que você sempre sonhou.

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Vamos viver nossos sonhos. Temos tão pouco tempo”. Trecho da música Como tudo deve ser, da banda Charlie Brown Jr.


segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Ela me disse que eu não podia falar sobre isso

João Pedro e Joaquim estavam conversando tranquilamente sobre os mais diversos assuntos e, de repente, Joaquim lembrou algo interessante e decidiu fazer uma pergunta pro seu amigo.
Cara, ouvi falar que você tá pegando a Carol… É verdade?
Infelizmente, não posso te falar sobre isso porque ela me disse que não era pra eu falar sobre isso.
Joaquim, então, deu uma gargalhada das boas e um tapinha em João Pedro.
Se ela te disse isso, então você pegou…
Ela me disse que eu não podia falar sobre isso.
Mano, você é muito vacilão. Você não podia falar que ela te disse isso!
Putz… Mas ela não me disse que eu não podia falar que ela me disse isso…
Você é uma figura mesmo, meu amigo. Mas fica tranquilo que não vou falar nada. Só que já tá rolando uns comentários…
Pelo menos eu não falei nada, né?
Eles então sorriram e continuaram conversando sobre outros assuntos.

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Vem cá, não conta pra ninguém não. […] e deixe que eles falem sobre o que não sabem”. Trechos da música Não Conta Pra Ninguém, da banda 1Kilo.

PS: não concordo com esse tipo de atitude machista.


segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Mensagens mágicas (infalíveis)

Leonardo estava procurando mensagens mágicas, que fizessem a sua nova paixonite se apaixonar instantaneamente.
Desde os seus doze anos, ele vinha colecionando amores platônicos, mas, agora aos vinte, ele já deveria saber que essas paixonites são apenas idealizações, que quase nunca se confirmam.
Ele encontrou vários vídeos e textos sobre essas mensagens na internet e comprou dois cursos de mensagens, que prometiam resultados incríveis.
E ele mandou algumas mensagens para Ana e ela se impressionou inicialmente, pois elas eram engraçadas e chamaram sua atenção.
Mas, a partir daí, o problema surgiu. O curso não ensinava como continuar a conversa, até dava algumas dicas, mas Leonardo precisava de mensagens prontas e teve que procurar outros cursos, mas as frases não combinavam com seu estilo e ele ficou perdido, sem saber o que fazer.
Ele até enviou outras mensagens para Ana, mas ela já não se mostrava tão impressionada assim. Na verdade, algumas vezes ela nem o respondia, apenas visualizava, e Leonardo se deu conta que mensagens mágicas não existem.
Assim como Leonardo, milhares de homens estão procurando mensagens infalíveis, que deixarão loucamente apaixonada a mulher que eles gostam. Como num passe de mágica, as garotas ficariam hipnotizadas. Se liga, cara. Isso não existe.
Mas, talvez você consiga arrumar um encontro usando algumas dessas mensagens, o que você vai falar nesse encontro? Vai decorar algumas frases? Se ela perguntar alguma coisa diferente, o que você vai dizer? Vai improvisar? Ser você mesmo?
Eu espero que você consiga desenvolver uma conversa normal. Você não precisa ser o cara das melhores conversas do mundo. Você não precisa de frases mirabolantes.
Pensa bem. Se ela aceitou sair com você, isso já é um grande sinal que ela tem algum interesse em você. Ela não sairia com alguém que ela não tenha nenhum interesse!
Às vezes, parece que você não entende que ela é uma pessoa comum, que pode estar tímida, nervosa, e ela também tem que ter mais do que um rostinho bonito. Ela precisa saber conversar, ter algo em comum com você.
Ela tem que demonstrar algo que você admira. Ela não está acima de você. Vocês estão no mesmo nível. Se valoriza, cara. Seja homem.
Ela pode estar passando por problemas amorosos também, pode estar com baixa autoestima… Então, seja educado e compreensivo.
Eu espero que dê tudo certo, mas, se não der, a vida continua, a fila anda, o baile segue. Existem tantas e tantas mulheres legais por aí, mas você já sabe disso. Então por que está tão preocupado, tão ansioso?
Relaxa, respira, fica tranquilo, que uma hora as coisas vão dar certo.

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Just don't forget to breathe. Please, don't forget to breathe. (Apenas não esqueça de respirar. Por favor, não esqueça de respirar)”. Trechos da música Better Off, da banda Foo Fighters.


segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Talvez ainda não seja tarde

Talvez ainda não seja tarde.
Talvez você ainda me aguarde
e espere que me torne o homem ideal,
romântico, sensível e sentimental.

Você pode não ter desistido de mim.
Então por que vou desistir de você?
Talvez ainda não seja o fim.
Eu sinceramente não consegui esquecer.

O que tivemos foi tão sincero,
tão espontâneo e inesperado.
Quanto mais lembro, mais quero
estar novamente ao seu lado.

Você ainda me ama. Talvez.
Sei que fiz algo errado,
mas quem nunca fez?
Escute a voz de um apaixonado.

Juntos, podemos tentar outra vez,
reviver o encanto que se desfez.

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Hoje eu acordei e te quis por perto”. Trecho da música “O Retorno de saturno”, da banda Detonautas.





quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Policiais bandidos

João estava voltando do trabalho, quando presenciou uma cena inusitada: policiais efetuando a prisão de outros policiais.
E o que mais chamou a sua atenção foi o fato de que um traficante estava sendo escoltado por policiais, que estavam no carro oficial da corporação e davam proteção ao bandido.
O criminoso estava fugindo para um local seguro, pois foi avisado que o morro que ele dominava seria invadido e pacificado pela polícia.
Algumas pessoas filmavam a cena, tiravam fotos. Outras pessoas, mais exaltadas, gritavam:
Vergonha! Vergonha!
A Polícia, que deveria preservar a ordem pública e a segurança das pessoas e do patrimônio, estava protegendo um traficante, chefe de uma organização criminosa. Quanta ironia!
Na verdade, não foi a instituição Polícia; foram só alguns policiais. E esses eram bandidos.
É bom que se diga, os demais policiais, até prova em contrário, são boas pessoas que cumprem fielmente seus deveres.
Enquanto isso, João estava pensativo. Não imaginava que esse tipo de coisa acontecia. Ele vinha de uma cidade pequena, onde as pessoas ainda acreditavam em alguns valores, tinham alguns princípios e, sobretudo, eram honestas e solidárias.
Policiais dando proteção a bandidos? Isso não acontecia na sua cidade natal, afinal lá não tinha mais do que dez policiais e todos se conheciam…

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Polícia para quem precisa de polícia”. Trecho da música Polícia, da banda Titãs.



quarta-feira, 31 de julho de 2019

Sede de justiça

Zezinho era um legítimo cidadão brasileiro. Ao contrário da maioria da população, ele agia e não apenas falava. Enquanto os outros protestavam com palavras duras, Zezinho corria atrás de meios de mudar efetivamente o país.
Ele era um trabalhador. Passava mais do que oito horas no trabalho todos os dias, seis vezes por semana. Quando sobrava um tempinho, ele via as notícias da sua cidade, seu estado, seu país. E ele se interessava mais pela parte política dos noticiários.
Sempre que podia, estava na Câmara de Vereadores, cobrando melhorias e exigindo publicidade e transparência de todas as ações governamentais. Queria saber o motivo de tanto superfaturamento nas licitações.
Ele simplesmente não entendia por que um cento de copos descartáveis, que ele comprava por dois reais, custava cinco reais para o Município. Se o ente público comprava caixas e caixas de copos, o preço deveria ser mais baixo, não é? Assim ele pensava, mas os corruptos não entendiam desse modo, afinal queriam lucrar cada vez mais.
E Zezinho investigava, investigava e sofria ameaças de morte. E um de seus amigos dizia:
Deixa isso de mão, Zé.
Mas Zé não deixava porque esse era o seu jeito. Tinha nascido para fazer aquilo. Não sabia ficar calado, consentindo com toda aquela roubalheira.
Zezinho entregou provas à Polícia. Cumpriu o seu dever como cidadão.
O delegado, amigo de um dos investigados, arquivou o caso numa de suas gavetas. Informou a situação ao prefeito, que estava mais do que envolvido com o esquema.
No dia seguinte, Zezinho saía do trabalho, contente e tranquilo. Tinha feito a sua parte. Um motoqueiro aproximou-se e o sujeito que estava sentado na garupa da moto efetuou cinco disparos. Três deles acertaram o peito de Zezinho, que caiu e, antes de morrer, pensou na sua família, seus três filhos e, ainda assim, não se arrependeu, pois estava de consciência limpa e tinha cumprido a sua missão. Ainda deu tempo de pensar numa passagem bíblica: bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.
Um dia depois, houve passeata na cidade. O caso teve repercussão nacional, pois Zezinho, apesar de ser um cidadão humilde, tinha alguns amigos influentes.
Dias depois, o delegado, o prefeito e outras “autoridades” foram presos. Zezinho era precavido. Tinha tudo documentado num lugar seguro e acessível a três pessoas de sua inteira confiança.

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Brasil, mostra a tua cara. Quero ver quem paga pra gente ficar assim.” Trecho da música Brasil do cantor e compositor Cazuza.


quarta-feira, 26 de junho de 2019

Era pra ser um dia normal (morte precoce)

Jadiel e seu amigo Jorge combinaram de beber no final de semana. E Jorge chamou mais dois conhecidos dele.
Eles foram para um bar no centro da cidade e começaram a beber e a conversar, como muitas outras pessoas fazem nos fins de semana e até em dias de trabalho.
Tudo estava tranquilo. Eles estavam sentados na calçada e a todo momento passavam carros e motos pela rua. E uma dessas motos parou em frente a eles. Dois sujeitos estavam na moto e ambos usavam capacetes com viseiras pretas.
O sujeito que estava na garupa da moto desceu e sacou uma arma. Atirou três vezes e acertou os dois conhecidos de Jorge, que se feriram sem gravidade. Acertou também o peito de Jadiel, que já caiu morto.
Os dois sujeitos saíram dali rapidamente, quase sem serem notados. E a placa da moto? Alguém anotou? Ninguém viu placa alguma, provavelmente porque havia sido retirada.
Jorge ficou desesperado. Ele sabia que os dois sujeitos tinham vindo matá-lo. Sabia o motivo: havia transado com uma mulher casada e o marido, sabendo do acontecido, havia prometido vingança.
Jadiel não havia feito nada de errado. Estava apenas se distraindo depois de uma semana exaustiva de trabalho.
Era jovem. Faria vinte e um anos de idade em poucos dias.
Mas não vai mais comemorar seus aniversários porque morreu de forma precoce e banal.

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A violência é tão fascinante e nossas vidas são tão normais.” Trecho da música Baader-Meinhof Blues, da banda Legião Urbana.


quinta-feira, 30 de maio de 2019

Gratidão

Joana era advogada e teve que trabalhar num caso criminal até as primeiras horas do outro dia. Estava se sentindo exausta, quando finalmente encerrou suas atividades e fechou a porta do escritório. Nesse momento, veio em seu pensamento que ela não deveria trabalhar tanto assim, que essa não era a vida que ela tanto quis ao estudar o curso de Direito e que, mesmo trabalhando tanto, o resultado financeiro não era bom o bastante.
Mas, de repente, ela viu um catador de lixo, um senhor já idoso, de cabelos brancos, sorrindo e conversando alegremente com dois garis, que também estavam trabalhando naquele horário.
O senhor parecia cansado, estava naturalmente sujo após várias horas catando lixo e caminhava devagar, arrastando seus pés descalços, acostumados a percorrer longas distâncias. Ele usava roupas modestas e que estavam rasgadas em diversos lugares, mas parecia contente com a quantidade de tralhas que tinha juntado em seu carrinho.
Do outro lado da avenida, um morador de rua dormia ao relento, deitado em uma “cama” de papelão e enrolado com um emaranhado de panos, que não suportaria um frio intenso.
Joana se sentiu mal, pois instantes atrás estava resmungando e reclamando de seu trabalho, sua vida, mas agora isso parecia tão pequeno diante das dificuldades daquele senhor, que deveria estar com seus netos curtindo sua aposentadoria, e diante daquele morador de rua, que parecia tão indefeso naquele lugar, abandonado pela sociedade e pelo poder público.
Ficou pensando também nas adversidades daqueles dois garis, que tinham um trabalho digno, mas provavelmente não queriam trabalhar naquele horário, e estavam alegres, pois era aquele trabalho que levava o sustento para suas famílias.
Ela se sentiu tão vazia e ficou pensando na vida, no quanto deveria ser grata, pois sua vida tinha mudado tanto, desde que saiu da sua pequenina cidade natal, mesmo diante das dificuldades de seus pais para dar uma criação que permitisse que ela fizesse uma faculdade, algo que eles não puderam fazer.
Pegou sua carteira e viu que tinha pouco dinheiro ali, mas aquele pouco seria muito nas mãos daquele morador de rua e ela colocou a quantia por baixo do papelão que ele dormia e se sentiu melhor.
Foi para casa ainda pensativa, mas com a consciência tranquila por ter feito o que podia ser feito naquele momento. Passaria a ser mais grata mesmo nos momentos ruins e a valorizar mais as pessoas importantes de sua vida.

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Mas digo sinceramente na vida a coisa mais feia é gente que vive chorando de barriga cheia”. Trecho da música Maneiras, de Zeca Pagodinho.


terça-feira, 30 de abril de 2019

Um dia no Judiciário

Agenor, servidor da Justiça, chegou cedo ao trabalho, bateu o ponto, conversou um pouco com seus colegas, fez algumas piadas sobre futebol e depois começou a trabalhar.
Era um dia normal e as pessoas chegavam para as suas audiências e lotavam as dependências do Juizado Especial Cível, juizado de pequenas causas, como é chamado normalmente.
De repente, uma pessoa chegou, parecendo desesperada, perguntando quando seu processo teria um fim.
Moço, o gás lá de casa acabou. Tô precisando desse dinheiro.
O servidor, muito calmo e tentando ser o mais claro possível, disse:
Meu senhor, se você for depender do dinheiro desse processo para colocar gás na sua casa, infelizmente sua família vai passar fome. Esse dinheiro, se sair mesmo, ainda vai demorar um pouco.
Enquanto Agenor falava, outro servidor, que estava em outra sala, achou graça da situação e caiu na gargalhada. E pensou se não fosse trágico, seria cômico.
O senhor não acreditou muito no servidor e decidiu que queria falar com o juiz.
Pois eu vou falar com o juiz. Ele tem que resolver meu caso. É urgente. Eu tô precisando.
O servidor, ainda mantendo a calma, tentou esclarecer mais uma vez a situação:
Meu senhor, você vê esses processos? – o servidor mostrou uma prateleira cheia de processos. – Todas essas pessoas estão precisando, talvez até mais do que o senhor.
Mas o meu caso é urgente…
Eu entendo, senhor. Tudo aqui é urgente, mas eu vou tentar analisar o seu caso esses dias, mas não garanto que o senhor vá ganhar a causa. E, mesmo que o senhor ganhe, pode ser que demore um pouco para o senhor receber esse dinheiro. Eles podem recorrer, não pagar, retardar, embargar…
Oh, meu Deus, eu pensei que esse dinheiro já tava garantido; já até comprei umas coisas confiando nesse dinheiro. O advogado me disse que essa a gente ganhava fácil…
Ganhar é uma coisa. Pegar o dinheiro é outra coisa. Às vezes, tem gente que ganha, mas não leva. O senhor não devia comprar coisas confiando num dinheiro que pode nem sair.
O senhor já estava ficando mais do que desesperado e parecia não compreender a situação.
Pra ficar bem claro, senhor, eu vou analisar o seu processo, vou levar pro juiz, que vai dizer se você tem razão ou não. Se o senhor tiver razão, a outra parte pode recorrer e aí vai demorar mais um pouco. Se não recorrerem, aí eles tem o prazo para pagar. Se eles não pagarem, o senhor pede a penhora. Se for encontrado dinheiro ou bens para penhorar, eles ainda podem embargar, e aí pode demorar mais um pouquinho pra sair outra decisão. Depois disso, eles ainda podem recorrer de novo…
Meu Deus, só devedor tem direito nesse país…

O senhor, já com a idade avançada, saiu desconsolado, sem saber como pagaria o gás de sua casa.

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 “Vamos esquecer a nossa gente, que trabalhou honestamente a vida inteira e agora não tem mais direito a nada.”. Trecho da música Perfeição, da banda Legião Urbana.




quarta-feira, 27 de março de 2019

O amor não é um jogo

Jair conheceu Nadine numa balada sertaneja. Já estava quase no final da festa quando ele a avistou e foi até ela para conversar. Eles estavam alegres, como é de se esperar numa balada desse tipo. Já tinham bebido alguns drinks, mas ela disse que estava de saída porque suas amigas estavam indo embora.
Ele, então, pediu o número do celular dela e ela o passou numa boa e se despediu.
No outro dia, Jair a chamou para conversar por meio de um aplicativo de celular e eles conversaram bastante. A conversa estava fluindo muito bem. Mas, quando ele a chamou para sair, ela disse que eles precisavam conversar mais, pois ela não o conhecia muito bem.
Faz sentido, ele pensou. E então eles conversaram por mais uma semana, todos os dias, e o papo geralmente era bem agradável, mas algumas vezes ela demorava muito para responder e outras vezes não respondia.
Ele ligou o sinal de alerta, mas continuou conversando com ela e finalmente eles marcaram um encontro num bar/restaurante com boa música sendo tocada ao vivo.
Eles conversaram alegremente durante um tempo, comeram alguns aperitivos e tudo parecia que ia muito bem, apesar de ela mexer muito no celular. Ele, então, olhou bem fundo nos olhos dela e disse:
Eu gosto de você. Estamos conversando há algum tempo, mas ainda não sei se você me quer também. É muito simples. É só dizer sim ou não.
Mas ela pensou que o amor era um jogo, que tinha que dificultar as coisas e disse que não sabia. Realmente ela não sabia que ele estava cansado de joguinhos, de complicação, estratégias, fórmulas…
Quando você souber me avisa. Gosto de pessoas decididas, de quem sabe o que quer – ele disse, tentando ser o mais educado possível.
Ele chamou a garçonete, pagou a conta, despediu-se brevemente e saiu.
Ela ficou mais um tempo ali sentada, pensando; parecia impressionada. Ela não estava acostumada a ser tratada assim. A maioria dos homens que ela se relacionava fazia quase tudo o que ela queria e ficava implorando por atenção.
Nadine ficou pensativa por alguns dias, mas só o chamou para conversar uma semana depois. Ela disse que queria marcar outro encontro, mas ele disse que já estava saindo com outra mulher. A fila anda, ele pensou. E ela percebeu que perdeu uma grande oportunidade.

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Só dizer sim ou não, mas você adora um se”. Trecho da música Se, do cantor Djavan.


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Carnaval

Era carnaval. Carla estava em sua cidade, no sábado de carnaval, esperando o outro dia para viajar para um local mais tranquilo. Ela só não esperava que a sua casa fosse ficar tão cheia. Pensou que nesse ano de crise o movimento na cidade fosse menor.
Carla mal esperava o dia passar para poder viajar para um interior ali perto, um local bem mais calmo, cheio de cachoeiras e lugares exóticos.
Paulo, uma das muitas pessoas que estavam na casa dela nesses dias, ouviu Carla falando que ia viajar para um lugar mais tranquilo e ficou pensando se deveria perguntar se poderia ir junto, afinal ele gostava de folia no carnaval, mas também gostava de descanso. Além disso, percebeu que seria uma ótima oportunidade de conseguir enfim ter coragem de falar com Carla. No ano passado, ele até tentou, mas ela viajou tão rápido que ele não teve tempo.
Nesse ano, ele não queria perder tempo. Falou com uma amiga de Carla que também ia viajar e perguntou se poderia ir junto e ela disse que sim. Ele perguntou se Carla tinha namorado e ela disse que não. Ele disse que pensava nela desde o ano passado e a amiga de Carla riu. Disse que seria difícil, pois Carla estava triste, tinha terminado um namoro há pouco tempo.
Essa é a minha oportunidade, pensou Paulo.
Chegando ao local, Paulo foi direto. Disse que desde o ano passado ele esperava uma chance para conversar com ela.
Eu não sei explicar, mas gostei de você logo que te vi – ele disse olhando pros olhos dela de um jeito que ela soube que era verdade.
Toda aquela beleza natural ajudou Paulo a conseguir o que queria. Carla não esperava nada daquilo, só queria relaxar naquele feriado, mas decidiu dar uma chance pra ele, afinal ela tinha que se alegrar: era carnaval.

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Hoje eu quero paz, eu quero amor.” Trecho da música Não me conte os seus problemas, da banda Eva e Ivete Sangalo.




segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Aceitação (autoestima)

Rosana estava triste, sentia-se sozinha, solitária, queria ficar isolada para que ninguém mais lhe dissesse que ela estava gordinha, acima do peso, fofinha e outras palavras semelhantes.
Algumas vezes nem era necessário que as pessoas falassem, pois as expressões faciais e os olhares críticos já a atingiam como uma flecha envenenada. E algumas dessas expressões eram bem piores do que palavras.
Ela não tinha sossego, não era feliz, não se divertia, não apreciava a própria companhia, pois sempre achava algum defeito pra ficar se martirizando, mesmo quando ninguém dizia e nem demonstrava nada.
Sua irmã, que era magrinha, também não gostava do corpo dela, pois queria ter uma silhueta sarada, bem definida.
Rosana viu entrevistas de mulheres lindas, capas de revistas, modelos, atrizes, cantoras, que também não aceitavam sua imagem no espelho. Elas sempre tinham algum detalhe que as deixavam insatisfeitas e algumas delas já realizaram vários tratamentos e cirurgias estéticas.
Rosana não estava tão acima do peso ideal assim e começou a se fazer algumas perguntas. O que é peso ideal? Quem definiu isso? Quem pode dizer qual é meu peso ideal? E então ela gritou um palavrão bem alto e foi algo extremamente libertador.
Ela, então, caiu na real. De repente, ela percebeu que devia se aceitar, que devia gostar de si mesma, que pequenos defeitos são comuns e é preciso conviver com eles. E isso não significa que ela não devia se cuidar, fazer exercícios e diminuir a comida não tão saudável assim. Ela faria isso, mas sem pressão, sem sacrifícios.
Daqui a pouco, aquelas pessoas que a criticavam vão falar que ela é persistente, que teve força de vontade pra diminuir seu peso, mas não era por causa de alguns elogios que ela estava fazendo isso.
Ela ia fazer isso por ela mesmo e não pelos outros. Elas poderiam continuar dizendo que ela estava gordinha, mas agora ela seria a gordinha mais feliz do mundo.

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Je n'ai qu'une philosophie être acceptée comme je suis. [Apenas tenho uma filosofia ser aceita como sou].” “I'm no beauty queen. I'm just beautiful me. [Eu não sou a rainha da beleza. Eu apenas sou bonita como sou].” Trechos das músicas Ma Philosophie e Who Says, das cantoras Amel Bent e Selena Gomez.


quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Contatinho

Carla era jovem, cursava o terceiro período do curso de Engenharia Civil e começou a se envolver amorosamente com Ricardo, que estudava na mesma faculdade.
Logo no início, ele disse que não queria nada sério, nada de compromisso, namoro nem nada parecido. O máximo que poderiam ter era uma espécie de amizade-colorida.
No começo, ela aceitou numa boa e até gostou desse tipo de envolvimento. Afinal de contas, ela não teria que dar satisfação do que estava fazendo, pra onde iria, com quem estava. E ainda teria alguém pra ficar quando quisesse. Parecia perfeito.
Ela o achava divertido e despojado e eles se davam muito bem durante o pouco tempo que passavam juntos.
Mas, depois de três meses, o que parecia perfeito começou a não ser mais suficiente. Ela queria mais, queria passear de mãos dadas, pegar um cineminha, queria alguém mais presente, alguém que ela pudesse contar quando as coisas não estivessem bem, que a apoiasse, que não fosse embora logo depois de fazer amor, que a levasse para viagens maravilhosas e que a olhasse nos olhos e sentisse que é amada. E tantas outras coisas que um simples contatinho nunca poderia dar a ela.
Passados mais um mês, sempre que ele ia embora, ela se sentia triste, depressiva, sozinha, nervosa e angustiada. Certa vez, ela disse como se sentia e que ele era o culpado.
Eu sinto muito, muito mesmo – ele disse e parecia muito triste. – Eu gostaria de poder te dizer que a gente vai ficar juntos, que eu te amo e que tudo vai ficar bem, mas infelizmente não é o que sinto. Eu queria mesmo. Você é uma pessoa maravilhosa e eu não estou brincando. É a pura verdade. Mas eu não posso fingir que gosto de você a ponto de começar um namoro… Infelizmente. A única coisa que posso fazer é ir embora e ser um amigo quando você precisar, um amigo mesmo. Nada de amizade-colorida.
Ela ficou extremamente triste e concordou em dar um fim no seu lancinho. Essa palavra veio na sua mente e ela se sentiu mal. Ao menos continuariam amigos, pelo menos por um tempo. Ela não o odiava, afinal estava tudo muito claro desde o início.
Mas ela estava decidida. Nada de contatinhos. Sua vida mudaria a partir dali. Seria feliz com alguém que a amasse de verdade. Ela chorou, sabendo que o tempo curaria suas feridas e que a vida estava apenas no início.

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Eu sei que você quer alguém pra apresentar pros pais, postar uma foto juntos nas suas redes sociais. Viajar fim de semana, combinar os pijamas, beber no mesmo copo, comer no mesmo prato. Desculpa, eu sou o cara errado. Eu não nasci pra ser mozão. Nasci pra ser contatinho.” Trecho da música O cara errado, do cantor Wesley Safadão.