Carla
estava em casa num sábado pela manhã quando ouviu a campainha
tocar. Ao abrir a porta, um entregador lhe deu lindas flores. Não
havia nenhum bilhete. Nada. Que
estranho,
ela pensou.
Na
segunda feira, ela recebeu uma cesta de chocolate em seu local de
trabalho. Dessa vez, havia um bilhete, que dizia somente: “Você
vai ter que adivinhar”.
Ela
nunca tinha recebido nenhum presente assim. Estava feliz, mas não
tinha nenhuma ideia de quem era o seu misterioso presenteador.
Na
quarta, ela estava na academia quando recebeu um buquê de rosas
vermelhas com um pequeno ursinho de pelúcia. O bilhete dessa vez
dizia:
Acho
que vou ter que te dar alguma dica, não é mesmo? Para limitar as
opções, devo dizer que estou no seu raio de conhecidos.
A
dica não ajudava tanto assim, mas tinha que ser alguém que soubesse
seu endereço pessoal, profissional e sua academia.
Juliana,
sua amiga de trabalho, estava adorando esse pequeno jogo e já tinha
escolhido o seu favorito: o novato no trabalho. Outras amigas da
academia e colegas de trabalho estavam entusiasmadas, fazendo suas
apostas.
Carla
torcia para que não fosse o novato, afinal ele era meio grosseiro
com ela. Ela se sentia lisonjeada e feliz, mas não demonstrava
entusiasmo, pois não queria se decepcionar, se fosse apenas alguma
brincadeira sem graça.
Dois
dias depois, recebeu algo que ela tinha comentado no trabalho para
poucas pessoas: um conjunto de brincos estilo filtro de sonhos. O
bilhete dizia:
Acho
que agora a sua busca ficou bem restrita. Gostaria de jantar com você
amanhã. Espero que você me descubra até lá.
Agora
só restavam três pessoas: o novato, seu chefe e o gerente de
vendas. Ela descartou o novato de cara. Seu chefe e o gerente eram
solteiros, mas nunca demonstraram nenhum interesse direto nela.
Trabalhavam juntos há cerca de um ano, eles sempre se mostravam
simpáticos, mas nada além disso.
Ela,
então, decidiu seguir seu coração e, perto do final do expediente,
foi até a sala daquele que ela gostaria que fosse o seu admirador
misterioso.
– Oi
– disse ela, e ele fez um sinal para que ela continuasse. – Me
desculpe. Eu não sei como dizer isso – ela estava claramente
nervosa. – É que eu recebi alguns presentes essa semana… flores,
chocolates… e não havia identificação do remetente, apenas
algumas dicas nos bilhetes. E eu pensei que poderia ser você.
– E
por que você pensou isso? – ele perguntou de forma delicada,
aparentemente surpreso. Ela percebeu que não era ele e ficou
cabisbaixa.
– As
dicas apontavam para você e outra pessoa. Mas parece que me enganei.
– Eu
não disse que não era eu. Apenas queria saber por que você pensou
isso. Você deve ter algum motivo.
– Os
bilhetes continham dicas e eu achei que era você. Simples assim –
ela não quis revelar que desejava que fosse ele.
– Então
você queria que eu fosse seu admirador secreto? – ele perguntou
sem demonstrar nenhuma emoção.
– Você
é? – ela perguntou apressadamente.
– Você
não respondeu a minha pergunta…
– Você
tem razão, mas eu disse que poderia ser você e você veio com uma
pergunta – disse ela, meio impaciente, e começou a suspeitar que
ele estava interessado.
– É
que gosto de saber os motivos das coisas. E, além disso, eu gostaria
de saber se você queria que fosse eu.
– Por
que você quer tanto saber isso? Você está me enrolando novamente…
Parece que você está interessado fazendo essas perguntas – ela
achou um meio de prolongar o assunto e levar a tensão pro outro
lado.
– E
se eu estivesse interessado?
– Ainda
assim eu não saberia se foi você quem me mandou os presentes.
– Você
tem razão. É melhor eu parar de mistério, não é mesmo? – ele
fez uma pausa e ela ficou esperando ele continuar. – O que você
faria se eu dissesse que fui eu?
– Você
faz muitas perguntas. Responda e depois você saberá.
– Eu
só queria estender um pouco mais nosso jogo, mas para que fique bem
claro eu sou o seu admirador secreto.
– É
uma pena. Eu não posso me envolver com meu chefe… É contra meus
princípios – ela fez uma expressão séria e ele ficou cabisbaixo.
Depois ela deu uma risada. – Estou brincando, chefinho. Você me
busca amanhã às oito?
– Será
um prazer – ele disse sorrindo, e ela se virou para sair da sala.
– Ah.
Adorei sua criatividade – ela disse, antes de ir.
“Eu
já te via muito antes nos meus sonhos. Eu procurei a vida inteira
por alguém como você.”
Trecho da música Dias de luta, dias de glória, da Charlie Brown Jr.