domingo, 31 de março de 2024

Mal-humorada

 

Rita era universitária, fazia o curso de Direito, tinha casado há poucos meses e tinha uma vida que aparentava ser feliz, especialmente nas redes sociais. Lá sua vida era uma maravilha, cheia de viagens para lugares magníficos e saídas noturnas para restaurantes e boates chiques.

Entretanto, por mais que sua vida estivesse aparentemente muito bem resolvida, ela vivia resmungando de coisas banais, estava quase sempre mal-humorada.

Na sala de aula, ela não cumprimentava a maioria das pessoas e algumas vezes até virava a cara. Reclamava das aulas e dos professores, alegando que estes não sabiam passar o conteúdo. Devia ser esse o motivo de suas notas baixas.

Recentemente, ela começou a realizar uma obra na fachada da casa, mas depois de uma semana decidiu refazer tudo novamente porque não tinha gostado do visual que ela mesma tinha pretendido com a mudança.

O responsável pela obra já conhecia a fama de Rita, pois seus colegas já o tinham avisado que ela gostava de desfazer projetos. Na construção da casa, três mestres de obras pediram para abandonar o projeto porque não suportaram as exigências dela. Como era uma obra pequena, ele tinha aceitado, mas estava querendo desistir da empreitada.

- Ninguém aguenta essa mulher – ele chegou a dizer ao seu ajudante.

Dias atrás, ela estava assistindo uma reportagem sobre pessoas que passaram por situações dramáticas, mas que preferiam ver o lado bom das coisas, como um homem que perdeu uma perna e, depois de meses de depressão, viu sua vida se transformar completamente e se sentia muito mais feliz do que antes do acidente.

Havia também um pequeno agricultor que tinha perdido uma plantação inteira por causa das condições climáticas adversas. Ele sabia do prejuízo financeiro, da crise que estava passando, mas preferia sorrir e agradecer porque tinha uma terra para plantar e uma família linda para cuidar, afinal seu neto tinha acabado de nascer.

Essas histórias eram emocionantes para a maioria das pessoas, mas Rita não conseguia ver motivos para sorrir ou agradecer e a sua mente só via as perdas da perna e da plantação.

Algumas pessoas diziam que ela era assim porque era mal-amada e que seu esposo não a satisfazia, mas não era esse o caso. Eles se davam bem, tinham um relacionamento dentro da normalidade.

E ele era um sujeito alegre, divertido, simpático, educado e conhecido por seus amigos como gente boa. Ele parecia não ver os defeitos da mulher. Mas ultimamente ele tinha começado a notar algumas indelicadezas da parte dela e uma dúvida começou a surgir em sua mente.

Seu marido tentou salvar seu casamento durante alguns meses, mesmo não vendo melhoria no humor dela. Mas ela não queria mudar, talvez pensasse que não tinha motivos para isso e que era assim mesmo e continuaria assim e ele teria que aceitá-la do jeito que ela é.

Ele tentou utilizar argumentos lógicos e exemplos de pessoas que mudaram de atitude e tiveram grandes resultados, mas ela parecia nem ouvir. Seu mau-humor tinha interferido na sua maneira de enxergar o mundo e de ouvir opiniões divergentes. Ela estava fechada para novas formas de ver a vida e por isso o seu casamento acabou e suas amizades desapareceram.

E, de repente, ela se viu sozinha. Quem sabe uma hora dessas ela consiga ver o lado positivo das coisas e sua vida mude para melhor.

 

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Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente. A gente muda o mundo na mudança da mente. E quando a mente muda a gente anda pra frente.” Trecho da música Até quando, de Gabriel, o Pensador.



quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Vício nas redes (anti) sociais (disfunção da realidade)

 

Ariane era uma garota antenada. Tinha computador, notebook, iPad, iPhone, iPod e outros acessórios eletrônicos.

Vivia conectada na internet. Estava sempre no Tiktok, Instagram, Whatsapp, Facebook, Twitter, entre outras redes sociais.

Mesmo na escola em que estudava o último ano do ensino fundamental, ela não largava do seu iPhone.

E na internet ela tinha muitos amigos. Muitos mesmo. Conversava com eles o dia quase todo, até mesmo de madrugada. Rolavam altos papos, todo tipo de assunto, sem nenhum embaraço.

E alguns desses seus “amigos virtuais” estudavam na mesma escola, mas só conversavam pela internet. Conversa cara a cara era raridade. E bota raridade nisso.

Alguns dias atrás, Ariane se viu numa situação inesperada: teve que apresentar um trabalho escolar. Como ela ia falar, se ela só teclava? Ela ficou muito nervosa e acabou chorando no dia da apresentação. Alguns colegas sorriram muito da situação.

No mesmo dia, ela postou uma frase em um de seus perfis na internet, com várias dessas carinhas tristes.

Que dia horrível. Nunca pensei que teria que falar em público. Prefiro a internet.

Um de seus colegas virtuais tentou conversar pessoalmente com ela na escola. Mas ela se escondeu. Parece que tinha medo de gente…


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Sometimes I feel like giving up, no medicine is strong enough. Someone help me, I’m crawling in my skin. Sometimes I feel like giving up, but I just can’t. [Às vezes eu sinto vontade de desistir, nenhum medicamento é forte o suficiente. Alguém me ajude, eu estou rastejando dentro da minha pele. Às vezes eu sinto vontade de desistir, mas eu não posso” Trecho da música In My Blood de Shawn Mendes.





quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Ciúme doentio

 

Alessandra era jovem, cursava o sétimo período do curso de Direito e se envolveu amorosamente com um professor durante três meses.

Viu que ele era ciumento demais e terminou o relacionamento. Lógico que ele não aceitou de forma pacífica o fim e ligava diversas vezes, tentando reatar o namoro. Às vezes a seguia e chegou a ameaçá-la de morte.

Ele era professor de Direito e, como alguém formado na área, deveria saber que ameaça é crime, mas com o passar do tempo as ameaças foram aumentando e ela se viu num beco sem saída.

Denunciou a situação ao diretor do curso, que não deu muito crédito à história e preferiu não fazer nada.

A família dela estava preocupada e tentou comunicar o caso à polícia, mas o professor cumpriu a ameaça muito rapidamente e, numa manhã chuvosa, quando Alessandra saía de sua casa, em seu carro, ele chegou e adentrou o veículo. Ela ficou assustada e ele disse que não conseguia mais viver sem ela. Ele parecia muito instável e desesperado.

Ela tentou acalmá-lo e disse que eles poderiam marcar um jantar e conversar. Mas ele já estava decidido. Sacou a arma e atirou na cabeça de Alessandra, que caiu morta.

Logo em seguida, ele colocou o corpo dela no banco traseiro e dirigiu o veículo até a delegacia mais próxima e se entregou.

No enterro, o pai de Alessandra estava desamparado. Não conseguia sequer ficar de pé. Ela era a alegria dele, um lavrador, que teria a chance de ver a sua única filha se formar. Esse era o seu grande sonho, que não mais se realizaria por causa do ciúme doentio do ex-namorado.


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Um cara enciumado só faz o que é errado e acaba tudo em dor.” Trecho da música Ciúme exagerado da dupla Edson e Hudson.