sexta-feira, 25 de maio de 2018

Mulher interesseira


Numa balada sertaneja, Kevin e três amigos começaram a beber e, depois de algum tempo, convidaram algumas garotas, que se juntaram a eles e parecia que estavam se divertindo muito. Depois de pagarem alguns combos de bebida e alguns petiscos, os garotos pensaram que teriam um final feliz. Mas, quando a festa já estava perto de acabar, elas foram ao banheiro e não voltaram mais.
No outro dia, Kevin estava com uma tremenda ressaca, prometendo pra si mesmo que não beberia mais. À noite, porém, ele já estava recuperado e lembrou de Lorrana, uma garota que ele “ficava” de vez em quando. Ele sabia que ela gostava de sua companhia, pois ele a divertia e a levava para bons lugares, em troca de créditos no celular e de ajuda para pintar as unhas e arrumar o cabelo. Para ele, que era “mão de vaca”, estava tudo bem porque ele acreditava que gastava menos assim do que ter uma namorada…
Bruno, um dos amigos de Kevin, não foi pra balada sertaneja, pois sabia que eles não “pegariam” ninguém. Ele tinha ido para a praia com outros amigos. Eles estavam num quiosque perto do mar, bebendo um pouco e conversando. Depois de algum tempo, Bruno percebeu que havia duas garotas sentadas ali perto e foi até lá.
Boa tarde. Tô vendo que vocês estão aqui sozinhas e vim saber se vocês gostariam de sentar ali com a gente – disse ele, apontando para o lugar em que seus amigos estavam.
Estamos esperando nossos namorados, mas obrigada pelo convite – disse uma delas, visivelmente incomodada, querendo se livrar dele o mais rápido possível.
Poderia pelo menos me passar seu número de telefone? Por gentileza – ele pediu para a outra, que talvez poderia ser mais receptiva.
Tô sem celular no momento. Fui roubada – ela também parecia querer se livrar dele rapidamente. Mas ele tentou uma última cartada.
Que pena. Mas você provavelmente vai recuperar o número, né?
Acho que não.
Ele então saiu e chamou seus amigos para andar de lancha e Jet Ski. Eles andaram por cerca de dez minutos e voltaram para a praia e ficaram perto da lancha. Nesse momento, as duas garotas foram até eles, sem saber que Bruno era um deles.
Posso dar uma voltinha – disse uma delas.
Eu não gosto de mulher interesseira – disse Bruno rapidamente.
Vocês vacilaram com ele ainda agora, meninas – disse um dos amigos de Bruno e então elas ficaram visualmente constrangidas, mas tentaram apelar para os amigos.
E vocês? Não vão me deixar dar uma voltinha?
A gente também não gosta de mulher interesseira. Que pena.
Me dá pelo menos seu whatsapp…
A gente foi roubado agorinha…
Bruno e seus amigos rapidamente subiram na lancha e saíram em disparada, deixando as garotas embaraçadas, sob o olhar de outros banhistas.

Interesseira, cheia de marra, quer tirar onda com a minha cara. […] Tudo bem que eu curto esse teu corpão, mas a tua cabeça é de um camarão”. Trecho da música Interesseira, do cantor Gabriel Valim.



quinta-feira, 10 de maio de 2018

Jeitinho brasileiro


Você já deve ter ouvido a expressão jeitinho brasileiro.
Durante muito tempo – e a expressão é bem antiga –, o jeitinho era algo positivo, pois refletia a flexibilidade e criatividade do povo brasileiro em resolver situações, das mais simples às mais complexas. Nesse caso, a solução era legítima, dentro da lei. Até aí tudo bem.
Entretanto, nas últimas décadas o conceito começou a ser visto como uma forma de tentar levar vantagem em tudo, esperteza, malandragem, podendo ser confundido como uma forma leve de corrupção, o que certamente é um aspecto negativo.
O jeitinho tem a aparência de leve, de algo pequeno, mas, na verdade, traz grandes problemas, pois ele está enraizado na cultura nacional e muitas vezes é visto como algo normal, mesmo em casos de corrupção de quantias gigantescas de dinheiro.
Algumas pessoas chegam a dizer: “Se eu estivesse lá, eu também faria”, “Ele rouba, mas faz”. Essas pessoas geralmente acham normal furar fila, furtar energia e TV a cabo, pedir para o guarda dar um jeitinho na multa de trânsito, entre outras práticas quase corriqueiras no cotidiano.
Essa prática chegou no Judiciário e, mesmo quando uma lei diz claramente uma coisa, pode haver um jeitinho jurídico pra estabelecer algo bem diferente.
Como dizem, existe jeito pra tudo, menos pra morte.
Se você gosta de fazer tudo da maneira correta e honesta, muitas vezes você é encarado como “certinho”, “caxias”. Se você devolver um dinheiro perdido, talvez até vire um herói e apareça no jornal. Porque, numa sociedade corrompida e deturpada, bom mesmo é ser malandro, ser espertinho e tirar vantagem de tudo e de todos.


Aquele velho jeitinho brasileiro, ambicioso e golpista que não perde a chance de se dar bem, mesmo tendo que passar por cima de alguém. Aquele velho jeitinho brasileiro, mentiroso e egoísta, alienado pelo que a mídia estabelece. O povo acomodado tem o governo que merece”. Trecho da música Jeitinho Brasileiro, da banda Rock Roach.