segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Aceitação (autoestima)

Rosana estava triste, sentia-se sozinha, solitária, queria ficar isolada para que ninguém mais lhe dissesse que ela estava gordinha, acima do peso, fofinha e outras palavras semelhantes.
Algumas vezes nem era necessário que as pessoas falassem, pois as expressões faciais e os olhares críticos já a atingiam como uma flecha envenenada. E algumas dessas expressões eram bem piores do que palavras.
Ela não tinha sossego, não era feliz, não se divertia, não apreciava a própria companhia, pois sempre achava algum defeito pra ficar se martirizando, mesmo quando ninguém dizia e nem demonstrava nada.
Sua irmã, que era magrinha, também não gostava do corpo dela, pois queria ter uma silhueta sarada, bem definida.
Rosana viu entrevistas de mulheres lindas, capas de revistas, modelos, atrizes, cantoras, que também não aceitavam sua imagem no espelho. Elas sempre tinham algum detalhe que as deixavam insatisfeitas e algumas delas já realizaram vários tratamentos e cirurgias estéticas.
Rosana não estava tão acima do peso ideal assim e começou a se fazer algumas perguntas. O que é peso ideal? Quem definiu isso? Quem pode dizer qual é meu peso ideal? E então ela gritou um palavrão bem alto e foi algo extremamente libertador.
Ela, então, caiu na real. De repente, ela percebeu que devia se aceitar, que devia gostar de si mesma, que pequenos defeitos são comuns e é preciso conviver com eles. E isso não significa que ela não devia se cuidar, fazer exercícios e diminuir a comida não tão saudável assim. Ela faria isso, mas sem pressão, sem sacrifícios.
Daqui a pouco, aquelas pessoas que a criticavam vão falar que ela é persistente, que teve força de vontade pra diminuir seu peso, mas não era por causa de alguns elogios que ela estava fazendo isso.
Ela ia fazer isso por ela mesmo e não pelos outros. Elas poderiam continuar dizendo que ela estava gordinha, mas agora ela seria a gordinha mais feliz do mundo.

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Je n'ai qu'une philosophie être acceptée comme je suis. [Apenas tenho uma filosofia ser aceita como sou].” “I'm no beauty queen. I'm just beautiful me. [Eu não sou a rainha da beleza. Eu apenas sou bonita como sou].” Trechos das músicas Ma Philosophie e Who Says, das cantoras Amel Bent e Selena Gomez.


quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Contatinho

Carla era jovem, cursava o terceiro período do curso de Engenharia Civil e começou a se envolver amorosamente com Ricardo, que estudava na mesma faculdade.
Logo no início, ele disse que não queria nada sério, nada de compromisso, namoro nem nada parecido. O máximo que poderiam ter era uma espécie de amizade-colorida.
No começo, ela aceitou numa boa e até gostou desse tipo de envolvimento. Afinal de contas, ela não teria que dar satisfação do que estava fazendo, pra onde iria, com quem estava. E ainda teria alguém pra ficar quando quisesse. Parecia perfeito.
Ela o achava divertido e despojado e eles se davam muito bem durante o pouco tempo que passavam juntos.
Mas, depois de três meses, o que parecia perfeito começou a não ser mais suficiente. Ela queria mais, queria passear de mãos dadas, pegar um cineminha, queria alguém mais presente, alguém que ela pudesse contar quando as coisas não estivessem bem, que a apoiasse, que não fosse embora logo depois de fazer amor, que a levasse para viagens maravilhosas e que a olhasse nos olhos e sentisse que é amada. E tantas outras coisas que um simples contatinho nunca poderia dar a ela.
Passados mais um mês, sempre que ele ia embora, ela se sentia triste, depressiva, sozinha, nervosa e angustiada. Certa vez, ela disse como se sentia e que ele era o culpado.
Eu sinto muito, muito mesmo – ele disse e parecia muito triste. – Eu gostaria de poder te dizer que a gente vai ficar juntos, que eu te amo e que tudo vai ficar bem, mas infelizmente não é o que sinto. Eu queria mesmo. Você é uma pessoa maravilhosa e eu não estou brincando. É a pura verdade. Mas eu não posso fingir que gosto de você a ponto de começar um namoro… Infelizmente. A única coisa que posso fazer é ir embora e ser um amigo quando você precisar, um amigo mesmo. Nada de amizade-colorida.
Ela ficou extremamente triste e concordou em dar um fim no seu lancinho. Essa palavra veio na sua mente e ela se sentiu mal. Ao menos continuariam amigos, pelo menos por um tempo. Ela não o odiava, afinal estava tudo muito claro desde o início.
Mas ela estava decidida. Nada de contatinhos. Sua vida mudaria a partir dali. Seria feliz com alguém que a amasse de verdade. Ela chorou, sabendo que o tempo curaria suas feridas e que a vida estava apenas no início.

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Eu sei que você quer alguém pra apresentar pros pais, postar uma foto juntos nas suas redes sociais. Viajar fim de semana, combinar os pijamas, beber no mesmo copo, comer no mesmo prato. Desculpa, eu sou o cara errado. Eu não nasci pra ser mozão. Nasci pra ser contatinho.” Trecho da música O cara errado, do cantor Wesley Safadão.