quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Não se perca no caminho (feliz ano novo)

É tão fácil se perder pelo caminho, mesmo sabendo qual direção seguir. Muitas vezes, até se sabe em que direção andar, que objetivo se quer alcançar. Mas existem muitos obstáculos, muitas pedras no caminho.
Todo obstáculo é feito para ser superado. Toda adversidade traz mais sabor à vitória. Mas muito desistem antes do fim. Simplesmente abdicam dos sonhos. Mas Renato Russo já dizia: “Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar no sonho que se tem”.
Mas, além dos obstáculos, há distrações e pequenos desvios. O problema é quando as distrações e os desvios ficam mais importantes do que o sonho. Alguns desvios ficam tão longos que fica difícil voltar pro caminho. Aí deve ser feita a seguinte pergunta: será que ainda tenho aquele sonho ou será que aquele sonho não era tão importante assim?
Há ainda outro problema. E quando não se sabe o caminho que se deve seguir?
Às vezes é difícil saber qual caminho seguir. Há tantas direções, tantas aspirações, tantas metas. Seus pais dizem que você deve ser isso. Seu professor diz que você deve ser aquilo. Seu amigo diz que você deve ser outra coisa. E tantos outros dão uma opinião diferente.
Mas a opinião deles não é a sua opinião e essa é a que vale.
Então, escolha um caminho, antes que lhe imponham um destino qualquer. Não perca muito tempo com as distrações e os desvios. Siga o seu caminho, mesmo sozinho, contra a maré. Não se desanime com os obstáculos. Persevere até o final.

Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar no sonho que se tem. Ou que seus planos nunca vão dar certo ou que você nunca vai ser alguém”. Trecho da música Mais uma vez, da banda Legião Urbana.



segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Deputado desmascarado

 Durante um evento de comemorações de fim de ano organizado por grandes empresas do país, Reginaldo, deputado federal, deu uma entrevista inesperada.
Ele esperava que fosse apenas parte do protocolo, com perguntas banais e que elevassem o seu prestígio diante dos convidados, mas dessa vez o tom foi bastante diferente.
Evaldo, o jornalista convidado pela organização, fazia o perfil “chapa branca”, ou seja, favorável ao governo e, consequentemente, ao deputado da base governista. Ele, porém, não aguentava mais encobrir falcatruas dos políticos e bolou um plano para encurralar o deputado contra a parede, sem o conhecimento da organização do evento.
– Boa noite, deputado. Inicialmente, eu gostaria que o senhor me dissesse quantas vezes você faltou às sessões esse ano.
Reginaldo, visivelmente irritado e surpreso, olhou para o mestre de cerimônias e, não tendo resposta, tentou dar voltas no entrevistador.
– Como você bem sabe, um deputado tem uma base eleitoral, que deve frequentemente visitar para obter apoio e verificar as necessidades da população.
– Então, você visitou sua base eleitoral durante suas 80 faltas nesse ano, deputado? Eu imagino que sua terra merece muitas visitas mesmo, afinal é uma das mais pobres do Brasil.
– Por isso estamos trabalhando duro para conseguir os recursos para nossa população carente – o deputado tentou ludibriar a plateia para se sair bem da pergunta.
– Excelência, o senhor deve ter trabalhado muito duro mesmo. Eu imagino que em Ibiza o senhor foi atrás de recursos para o seu estado, afinal de contas a viagem foi paga pela Câmara dos Deputados.
Nesse momento, apareceram algumas fotos no telão, mostrando o deputado acompanhado de belas garotas num iate, comemorando, bebendo e usando cocaína.
– Isso é um ultraje! Vou te processar por difamação! Isso não vai ficar assim!
– Mas ainda tem mais, deputado. Preciso que se recomponha para acompanhar as próximas imagens.
– Você é um moleque. Eu vou acabar com a sua carreira.
Em seguida, seguranças tiveram que intervir, pois Reginaldo estava partindo para cima do entrevistador. Retiraram o deputado e quiseram impedir que Evaldo continuasse, mas ele disse que já estava terminando e foi autorizado pelo mestre de cerimônias.
Mais fotos apareceram no telão, mostrando o deputado em Fernando de Noronha, Búzios, Miami e Amsterdã, sempre acompanhado de lindas garotas, comendo em restaurantes caríssimos, bebendo uísques e vinhos dos mais exclusivos, usando cocaína e jogando dinheiro para cima.
Em seguida, foram mostradas outras fotos com o deferimento das viagens pela Câmara dos Deputados, dando direito a diárias, passagens aéreas e outras despesas.
– Provavelmente essa é a base eleitoral do nosso ilustríssimo deputado Reginaldo – finalizou Evaldo, apontando para as garotas, e a plateia ficou completamente atônita.


Bandido! Corrupto! Ladrão! Sorrindo para a câmera sem saber que estamos vendo. [...] Sorrindo para as câmeras, sem saber que são filmados. Um dia o sol ainda vai nascer quadrado.” Trechos da música Vossa Excelência, da banda Titãs.



quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Amor platônico

Valdinei estava começando o ensino médio e não tinha muitas experiências com mulheres. E isso era completamente normal, afinal ele tinha pouco mais de 15 anos.
Há cerca de três anos, ele começou a se interessar por uma colega de classe. Ela era uma das mais bonitas do colégio e havia vários garotos interessados. Valdinei, entretanto, nunca demonstrou nenhum interesse direto por ela, pelo menos não na frente de outras pessoas. Mas, no seu íntimo, ele a desejava e a idealizava, mesmo quando a viu ficando com outros dois garotos nesse intervalo de tempo. Para ele, aqueles garotos não a mereciam.
Mas agora ele estava no ensino médio, em outro colégio, e tinha tudo para começar uma nova etapa em sua vida, sem amores platônicos.
No entanto, não demorou muito para ele voltar a se interessar por outra colega de aula, Catherine. Dessa vez, porém, ele não pretendia ficar apenas observando e pra isso ele precisava vencer a sua timidez.
Ele sentia que poderiam namorar e, como eram colegas de classe, ele não teve problemas para começar a interagir com ela e se aproximar do grupo de colegas mais chegados dela.
Logo, eles estavam se dando muito bem e ele a ajudava nos trabalhos e atividades da escola, fazendo quase tudo que ela pedia.
Depois de algum tempo, ele decidiu agir. Eles estavam a sós, numa lanchonete perto do colégio, e conversavam divertidamente, quando ele resolveu se declarar.
Eu te amo – ele disse, simplesmente.
Ela fez uma expressão de surpresa e colocou a mão no rosto.
Mas nós somos apenas amigos…
Ele não sabia o que fazer, estava desnorteado e muito envergonhado. Por sorte, ele não disse mais nada, pois a situação ficaria ainda mais embaraçosa.
Espero que isso não interfira na nossa amizade – ela disse depois de alguns segundos de um silêncio constrangedor e saiu.
Mas a amizade nunca mais seria a mesma. Ele ficou mal durante alguns dias e aquele ano não foi o melhor da sua vida, pois teve que aguentar algumas piadinhas de seus colegas de sala.
Tempos depois, com a vida amorosa bem resolvida, ao relembrar dessa situação, ele sorriu e percebeu que depois dessa “lição” ele se tornou um homem melhor.


Talvez o silêncio nunca me perdoe por ter dito que te amo”. Trecho da música Neurose, da banda Reação em Cadeia.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Naufrágio

 Samir estava preocupado com a sua família. Seu país estava enfrentando uma guerra civil há vários anos e a situação havia piorado com a chegada de terroristas, que bombardeavam cidades inteiras somente porque os habitantes dali eram de uma etnia diferente.
Ele tinha parentes no Canadá e queria ir para lá, apesar de seu pedido de asilo ter sido rejeitado. Sua situação estava cada vez pior, pois os terroristas tinham bombardeado a cidade vizinha no dia anterior.
Ele tinha que buscar abrigo, refúgio, um lugar seguro, e então soube que muitas pessoas estavam atravessando o mar na tentativa de se refugiar em outro país e decidiu reunir o pouco dinheiro que tinha para levar sua mulher e seus dois filhos em segurança na travessia do mar num pequeno bote.
Samir não contava com a ganância dos atravessadores, que lotaram a pequena embarcação muito acima da quantidade adequada. Sem opção de retorno do dinheiro e ameaçado com uma arma, ele não teve alternativa e embarcou naquela viagem extremamente arriscada.
As crianças que estavam no barco choravam, amedrontadas com o balanço do bote. Os adultos estavam apreensivos, em silêncio, com uma mistura de esperança e medo.
Depois de navegar cerca de 500 metros, a pequena embarcação começou a naufragar, em virtude do excesso de peso e das fortes ondas que agitavam o mar. Nesse momento, Samir tentou socorrer seus filhos, mas foi afastado pelo balançar das ondas e pelo desespero das demais pessoas, que tentavam a qualquer custo sobreviver.
No meio daquela confusão, ele não via mais seus filhos nem sua mulher. Ele gritava desesperadamente, mas seus gritos eram sufocados pelos gritos das outras pessoas. Em menos de três minutos, ninguém mais gritava porque já estavam submersos no mar. Samir foi o único sobrevivente, pois conseguiu se agarrar nos destroços do bote, que ainda suportava o peso de uma pessoa.
Algumas horas depois foi resgatado aos prantos, junto com dezenas de pessoas na mesma situação, que navegavam em outra embarcação superlotada.
No outro dia de manhã, enquanto procurava informações com a defesa civil local, ele viu na televisão a imagem de seu filho caçula estendido sem vida numa praia perto dali e seu coração ficou completamente destruído.


Ao fim deste naufrágio, agarrada estou num pedaço de barco e as ondas revelam que o mar é forte. Estou à deriva, perdi o meu norte.” Trecho da música Naufrágio da cantora Marcela Taís.

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quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Bebida

Era sábado à tarde, perto das duas horas, e Gustavo resolveu sair com os amigos para beber um pouco, como faziam quase todos os fins de semana.
Lá pelas cinco da tarde, quando eles já tinham bebido e se divertido bastante, ele decidiu que queria ir para um lugar mais movimentado e beber mais um pouco.
Os seus amigos não queriam deixar Gustavo dirigir, afinal ele tinha bebido demais, mas ele insistiu tanto que seus amigos permitiram.
Enquanto isso, algumas crianças brincavam de bola numa rua distante e sem muito movimento. Elas se divertiam com a inocência ainda intacta e com a alegria estampada em seus sorrisos.
Gustavo saía do bar em que estava e trafegava no seu carro novo pelas ruas da cidade a toda velocidade. Ele não costumava fazer isso. Era um sujeito comportado e pacato, mas quando bebia ficava impulsivo e descontrolado.
A mãe de Leonardo, uma das crianças que brincava de bola, gritou:
- Menino, vem pra casa. Sai do meio da rua.
E Leonardo saiu da rua no instante em que Gustavo dobrou e colidiu com três crianças, que morreram no mesmo instante. O impacto foi tão forte que as crianças foram arremessadas a dezenas de metros de distância.
Enquanto Gustavo fugia, ninguém se lembrou de anotar a placa do carro porque estavam muito preocupados em socorrer os meninos acidentados.
Naquele momento a dor era maior. Havia um desespero no ar, gritos e lamentos. Os culpados podiam esperar. Logo seriam identificados, pois o carro de Gustavo era o único daquele tipo na cidade.


Num cruzamento tão normal de uma cidade em alta velocidade a morte veio e a levou.” Trecho da música O acidente do cantor Amado Batista.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Extremista islâmico

 George era um estudante de filosofia do 6º período, tinha uma visão bastante crítica do mundo, com ideias extremistas para a solução dos problemas da humanidade.
Ele vivia isolado, com pouquíssimos amigos. Tinha cabelos longos e uma barba bem cheia. Quando não estava na faculdade, ele passava a maior parte do seu tempo navegando na internet e brincando de jogos de tiro, guerra e de estratégia militar.
Ele era realmente muito bom nesses jogos e chegou a ficar em segundo lugar num torneio promovido pela internet com jogadores do mundo todo.
A partir daí, começou a ser contatado, via internet, por alguns supostos fundamentalistas, que queriam que ele participasse de uma seita denominada “Gênesis”, que tinha como base a eliminação de todas as pessoas que não fossem radicalistas islâmicos.
George não deu muito crédito àquelas mensagens, mas, em seguida, vieram mensagens de texto, ligações e finalmente um encontro pessoal com um membro da seita no Brasil.
Depois disso, ele, que era ateu, começou a frequentar uma mesquita e a participar de reuniões secretas daquela seita.
Seis meses depois, George já tinha os mesmos ideais da “Gênesis”, chegando ao principal cargo na pirâmide da seita, o mártir. Para eles, era o cargo mais desejado, pois ao final receberia a honra de morrer por Alá e uma passagem imediata para o céu, onde poderia desfrutar de diversas recompensas, entre elas 72 virgens.
No final daquele ano, George foi preparado para uma missão especial. Ele sabia o que isso significava e ficou muito apreensivo, mas foi confortado por seus irmãos na fé.
Durante uma partida de futebol comemorativa, ele acionou o botão de uma bomba de grande capacidade de explosão, matando 31 pessoas e ferindo outras 53. Entre as vítimas estavam mulheres, crianças e idosos.
No fim, George morreu ansioso e com medo. Para os extremistas, sua morte foi uma alegria. Para todos os outros, foi apenas mais uma morte sem sentido, que levou à morte pessoas inocentes.


O homem bomba se esconde como um terrorista sem uma reivindicação verbal pronto para explodir ao menor sinal.” Trecho da música O homem bomba da banda O rappa.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Um experimento

Ainda sinto a sua presença
e só restou saudade
da nossa experiência
num laboratório de verdade.

O meu sentimento foi experimentado
como se fosse um medicamento
e tantas vezes foi testado
em troca do seu sentimento.

Você começou a gostar
de sentir que me amava
e todos os dias queria testar
se o remédio ainda curava.

O remédio serviu por muito tempo
até que acabou o seu efeito
porque tudo tem o seu momento
e nada é perfeito.

Você disse que o remédio já não curava
e até testou mais uma vez,
mas experimentar já não adiantava
e o nosso amor se desfez.

Tentamos outra maneira de testar
porque ainda havia sentimento,
mas não havia mais lugar
para aquele experimento.


"Vai ser difícil sem você porque você está aqui comigo o tempo todo". Trecho da música Vento no litoral da banda Legião Urbana.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Namoro proibido

Adriana e Tadeu estavam namorando há pouco tempo, estudavam na mesma faculdade, mas viviam em mundos completamente diferentes. Ela era da alta sociedade e ele era apenas um estudante, sem grandes expectativas financeiras, vindo de uma família humilde. Mas nada disso importava para Adriana, que viu nele o homem que ela queria ao seu lado, um sujeito simples, romântico, determinado e confiante.
Passados dois meses, ela finalmente decidiu apresentá-lo à família, num almoço comemorativo. Os pais dela tiveram uma primeira impressão positiva de Tadeu, mas, à medida que foram descobrindo que ele vinha de uma família pobre e sua melhor perspectiva era se tornar professor e pesquisador universitário, essa impressão deu lugar a uma clara antipatia e oposição ao namoro, na forma de indiretas e indelicadezas sutis.
Por meio de comentários preconceituosos, o pai dela começou a discursar que o cargo de professor universitário era algo medíocre, apesar de ultimamente ter alcançado algum reconhecimento social e financeiro. Para ele, poucas profissões mereciam respeito, destacando especialmente os grandes investidores financeiros e os médicos.
- Pra você dinheiro pode não ser importante, mas, acredite, esse namoro de vocês não vai dar certo. Vai chegar um momento que ela vai enxergar que você é só mais um desses caras que não vão se dar bem na vida. E nessa hora ela vai te largar – disse o pai dela, sem nenhum pudor, quando os dois estavam a sós.
- Talvez o senhor tenha razão. Eu entendo a sua preocupação, mas eu realmente não acho que o dinheiro seja o mais importante num relacionamento. Eu prefiro acreditar que é o amor, mas não qualquer tipo de amor, mas aquele verdadeiro, pelo qual você luta e que você sonha um dia encontrar – respondeu Tadeu, de forma diplomática e sincera.
- É um belo discurso, mas um relacionamento não é feito só de amor. Espero que você saiba disso. Mas, enfim, eu não posso impedir esse namoro, afinal já passamos dessa época. De qualquer forma, quero que você saiba que não tem o meu apoio.
- E, então, espero que vocês tenham se dado bem – disse Adriana a Tadeu, depois que ficaram a sós.
- Super bem – ele disse sorrindo. Ela o abraçou e disse que ia ficar tudo bem, que logo seu pai ia começar a gostar dele.
Apesar de dizer o contrário, alguns dias depois, Augusto começou seu plano de sabotar o namoro de sua filha com Tadeu. O seu primeiro ato foi tentar persuadir Adriana a mudar da faculdade federal que frequentava para uma particular que tinha a nota mais conceituada na América Latina. Mas ela percebeu o intuito do pai e disse que não seria adequado mudar depois de cursar quatro períodos na universidade federal.
Na outra semana, Augusto disse que sua empresa ia mudar a sede para outra cidade e que Adriana devia ir com a família. Apesar de não acreditar na mudança de sede da empresa, ela disse que não iria mudar, pois poderia morar de aluguel numa casa simples perto da faculdade. Ele tentou argumentar que a mudança seria benéfica para os estudos dela, mas não conseguiu convencê-la.
Percebendo que Adriana não iria ceder às suas artimanhas, Augusto decidiu acusar Tadeu de tráfico de drogas, armando um flagrante pagando alguém para colocar drogas na mochila de Tadeu. Mas Tadeu abriu sua mochila para pegar um livro antes de a polícia chegar e percebeu a armação, descartando as drogas e evitando sua prisão. Depois ainda teve a calma de ligar para Augusto e dizer:
- Você não vai conseguir me afastar da sua filha, seu covarde.
No outro dia, Adriana decidiu colocar em prática a sua mudança para uma casa perto da faculdade e se afastou do pai. Sua mãe tentou apaziguar a situação, mas só depois de um ano Augusto reconheceu seu erro e pediu perdão à filha, que o perdoou, impondo como condição que ele concordasse em entrar com ela na igreja para seu casamento seis meses depois.
Ele aceitou relutantemente, mas no grande dia Augusto viu a felicidade de Adriana e, como se voltasse a enxergar, sentiu-se bem como há muito tempo não se sentia, esvaziado de todo preconceito contra Tadeu, que também o perdoou entre lágrimas.


""I want to share all my love with you [Eu quero dividir todo o meu amor com você]". Trecho da música Endless Love de Diana Ross e Lionel Richie.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Crítica esportiva (ou política?)

Alguns dias atrás, aconteceu um mega evento esportivo e as pessoas questionavam a falta de mais investimento do governo nos atletas nacionais.
Muita gente postava nas redes sociais frases afirmando que o país não incentivava o esporte. E realmente o esporte nacional não vem recebendo o tratamento que merece há muito tempo.
E essas pessoas diziam que era difícil competir com os atletas de outros países e colocavam até imagens sarcásticas denotando essa ideia. Certamente é muito difícil competir mesmo. Em outros países, o esporte é tratado de forma totalmente diferente.
Alguns dias depois desse evento, ninguém mais fala no assunto e provavelmente muitos não lembram os atletas que ganharam alguma medalha, ainda mais se for de bronze.
Aqueles competidores que eram “heróis nacionais” ficaram esquecidos da noite pro dia, batendo na porta de “patrocinadores” que não patrocinam o esporte brasileiro.
Daqui alguns dias, veremos reclamações dessas mesmas pessoas dizendo que o governo não deveria bancar atletas. Vão dizer que os nossos esportistas são um bando de desocupados e estão mamando nas tetas do governo.
Na verdade, durante os próprios Jogos Olímpicos muitas postagens com reclamações assim foram vistas nas redes sociais. É no mínimo contraditório pedir mais incentivo e depois reclamar desse mesmo incentivo.
A verdade é que o esporte não é incentivado como deveria no nosso país. E não se trata apenas de apoio financeiro. A questão é muito mais complexa, é estrutural e cultural. Não há apoio à prática esportiva amadora, como lazer ou diversão.
O esporte deveria começar a ser praticado nas escolas e, posteriormente, nas faculdades, mas isso não é uma prioridade de nossos educadores e de nossas autoridades.
Se a escola não oferece esporte, onde a criança vai praticá-lo? É certo que existem locais destinados a isso, mas estão abandonados e deteriorados. Poucos são os lugares gratuitos que oferecem condições à prática esportiva.
E então o que vai acontecer? Infelizmente nada. Daqui quatro anos provavelmente veremos a mesma situação se repetir. Por quê? Você quer a verdade? A verdade é que pouca gente se importa com o esporte. E os que se importam não fazem nada para mudar essa situação.
"A única coisa necessária para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada." Essa é a triste constatação do pensador irlandês Edmund Burke...


Se os bons combates eu não combater minha coroa não conquistarei”. Trecho da música Viver Pra Mim É Cristo do cantor Fábio de Melo.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Um pouco de violência e descaso

Renato e Caterine estavam namorando há pouco mais de cinco meses e ele então a convidou para morarem juntos na casa dele e ela aceitou imediatamente.
O começo dessa convivência foi perfeito e eles sentiam que seriam felizes para sempre.
Mas, depois de dois meses, Renato começou a demonstrar sua verdadeira personalidade. O seu ciúme exagerado e desmotivado passou a afetar o cotidiano do casal, tornando algo saudável numa convivência impossível.
Logo surgiram as primeiras brigas e agressões verbais, e ela ainda tentou compreendê-lo, pois talvez tivesse dado algum motivo pro ciúme dele. Mas essa desculpa que ela havia colocado em sua mente logo se desfez.
Ela passou a usar roupas mais longas e folgadas e a ficar em casa quase o tempo todo. Mesmo assim, ele desconfiava que ela estava usando o celular para ter conversas amorosas com outro homem. E uma conferida diária no celular dela não adiantou para diminuir seu ciúme e sua desconfiança.
Ela não podia mais sequer conversar com amigos, pois ele não aceitava amizade entre homens e mulheres.
E então veio o primeiro tapa na cara e nesse momento ela pensou em voltar para a casa de seus pais, mas aí ele pediu desculpas e ela decidiu ficar.
Dias depois, os tapas começaram a ser frequentes e mais fortes, a ponto de deixá-la com hematomas pelo corpo.
Denunciou a situação na delegacia, mas o policial pediu que ela conversasse com Renato e voltasse depois, pois o escrivão estava de férias e não havia ninguém para fazer o boletim de ocorrência.
A família dela, que morava numa cidade distante, estava preocupada e também tentou comunicar o caso à polícia, mas foi informada que nada poderia ser feito por ali. Só Caterine poderia fazer o boletim de ocorrência.
Ela se sentia acuada, sem saber a quem recorrer mais, pois voltou outra vez da delegacia sem conseguir fazer o BO, dessa vez com a alegação de que brigas são comuns numa relação entre homem e mulher.
Por fim, ela procurou o Fórum e foi informada que havia uma Vara de Violência Doméstica. Lá ela encontrou uma juíza que se comoveu com a sua situação e decidiu ajudar. Com menos de dez minutos, a juíza fez algumas ligações e disse que Renato ia ser preso em flagrante, o que realmente aconteceu horas depois.
A magistrada deu alguns conselhos a Caterine, que os ouviu atentamente e decidiu voltar para sua terra natal, a cidade de seus pais, pois a pena do crime cometido por Renato era pequena e ele logo seria solto. Ela sabia que ele não a deixaria em paz tão facilmente e por isso foi buscar abrigo e proteção de seus pais.
Renato, por sua vez, quando interrogado pelo delegado, disse que acreditava ter o direito de bater na sua mulher porque tinha ouvido falar que a mulher devia ser submissa ao marido...
Ele teve que prestar serviços à comunidade e pagar algumas cestas básicas. Depois de algum tempo, ele chegou a admitir pra si mesmo que sua conduta não era correta e pediu desculpas a Caterine.
Quatro meses depois, Caterine estava numa confraternização com sua família e ficou pensando em como teve sorte de se livrar daquela situação. Ficou imaginando uma mulher que não tinha família, nem parentes ou amigos que pudessem ajudá-la. De repente, ela voltou a si e não quis pensar nisso nunca mais.


E agora ele bate, bate nela e ela chora querendo voltar pros braços de sua mãe. E agora eu tô sem saída e, se eu for embora, ele vai acabar com a minha vida” Trecho da música Ele bate nela da dupla Simone e Simaria.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Um pouco de romantismo

Fernando estava fazendo o quinto período do curso de medicina quando avistou uma caloura, que o deixou desnorteado. Então, ele bolou um plano para se aproximar dela, sem parecer forçado, rodeando o grupo de amigos dela para que se tornassem amigos em comum e, assim, ela se acostumaria com a presença dele.
Depois de poucos dias, ele decidiu que já estava na hora de falar com ela diretamente. No final da resenha após a aula, quando o grupo de amigos se dispersou e ela ia saindo, passando ao seu lado, ele a chamou:
Oi, Daiane – ele disse e ela se virou para ele, que a olhou firmemente nos olhos.
Oi, Fernando. O que você manda? – disse ela de modo despojado e ele sorriu.
Ah... É que eu ouvi você falando que tá com dificuldade em bioquímica, que o professor é durão e eu acho que posso te ajudar nisso.
Sério? Pois fechou. Eu tô perdida nessa matéria.
Mas tem uma condição... – ele falou, deixando um pouco de suspense no ar. Ela fez uma expressão de surpresa e, depois de alguns segundos, fez um sinal para que ele prosseguisse. – Não é nada demais. É que você falou que gosta de comida japonesa e eu tava procurando uma companhia para ir num restaurante novo que inaugurou semana passada... – ele fez uma pausa. – E, então, você pode ir?
Cara, eu tava querendo mesmo ir nesse restaurante. Acho que você adivinhou meus pensamentos.
Tem mais uma coisinha... Você tem que me prometer que não vai se apaixonar por mim, viu? – ele disse sorrindo.
Essa é moleza – ela disse entre risos. – Deixa ver se eu entendi. Você vai me ajudar na matéria e ainda vai me levar num restaurante japonês... Cara, isso não é uma condição. É um presente.
No outro dia, eles estudaram na biblioteca da faculdade, ela estava compreendendo melhor a matéria e, em certo momento, ele pediu para fazerem uma pausa.
Precisamos combinar o dia que vamos no restaurante – ele disse e pegou na mão dela –, mas eu quero que saiba que não estou dando em cima de você – ele falava com um sorriso discreto no rosto e olhando profundamente nos olhos dela.
Por mim tudo bem – ela disse e se sentiu confusa, pois a expressão dele indicava o contrário. – Eu estou livre hoje à noite.
Hoje eu vou sair com uma amiga das antigas. Pode ser amanhã?
Ela disse que sim e ficou ainda mais confusa. Será que é só uma amiga mesmo? Essa dúvida surgiu na cabeça de Daiane.
Um dia depois, eles estavam no restaurante, conversando tranquilamente e, de repente:
E como foi ontem com sua amiga? – ela perguntou, tentando disfarçar sua curiosidade.
Que bom que você perguntou. Foi fantástico. A gente se divertiu demais. Fazia muito tempo que a gente não se via.
Então vocês são muito próximos... – ela disse, tentando arrancar discretamente mais alguma informação sobre essa amizade.
Ah, sim. Ela está morando em outra cidade, mas todo ano a gente dá um jeito de se ver.
E vocês são apenas amigos?
A pergunta saiu com um tom de voz que ela não desejava expressar. Ele a olhou com uma expressão de surpresa e deu um leve sorriso.
Por que você está tão interessada nisso?
Na verdade, não estou. Só quero entender essa amizade. Mas, se você não se sente à vontade pra falar, tudo bem – ela falou querendo jogar o desconforto pro outro lado.
Mais tarde te falo mais sobre isso. Tudo bem? – ele perguntou e fez uma pausa. – Eu estou com muita fome agora e quero comer, mas eu fico olhando os seus olhos e me desconcentro. Os seus olhos negros praticamente me deixam hipnotizados.
Ela sorriu e passou a mão no cabelo.
Agora parece que você está dando em cima de mim...
A gente não pode nem elogiar mais... – ele fez uma pausa e, segurando com uma das mãos na cintura dela, chegou bem próximo do rosto dela. – Eu já te disse pra não pensar isso.
Mas você me deixa confusa – ela falou baixinho. Eles estavam muito próximos, quase tocando os rostos, e ela não resistiu e o beijou. Ele sentiu o calor dos lábios dela e retribuiu o beijo de forma delicada e depois com intensidade.
Você ainda está confusa?
Acho que não... Mas e a sua amiga?
Relaxa. Ela é só uma velha amiga.


Vem me fazer feliz porque eu te amo.” Trecho da música Oceano de Djavan.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Como se fosse a primeira vez

João Pedro estava voltando pra casa depois de um dia exaustivo de trabalho. Estava chovendo e o carro à frente deu uma freada brusca. De repente, ele perdeu o controle de seu carro, que capotou três vezes e colidiu com outro veículo.
Quando acorda, dois dias depois, ele fica confuso e percebe que está num hospital. A enfermeira chama o médico, que faz algumas perguntas básicas para João Pedro, mas ele não sabe respondê-las.
Bianca – esposa de João – entra no quarto e pergunta como ele está, mas ele diz apenas:
Quem é você?
Ela sai do quarto correndo e chorando. Um milhão de pensamentos passam pela sua mente. Depois de alguns minutos, ela procura o médico, que diz que essa perda de memória pode ser temporária e dentro de alguns dias tudo pode voltar ao normal.
Três dias depois, João Pedro recebe alta e volta para casa dos pais. Os danos físicos estavam praticamente curados, mas a memória ainda não havia voltado. Pelo menos os oito anos anteriores ao acidente estavam esquecidos.
Os pais dele e Bianca tentaram relembrar alguns acontecimentos importantes na vida dele e ele se esforçava para não demonstrar impaciência, pois ele não estava nada confortável com aquela situação.
Pra ele, Bianca era uma completa estranha por mais que algumas fotos e vídeos mostrados a ele dissessem o contrário.
Depois de duas semanas na casa dos pais, ele percebeu que sua mãe também não estava confortável com aquele cenário. Sem querer, ele ouviu uma conversa entre eles e descobriu que eles estavam divorciados há mais de dois anos, já tendo outros companheiros.
Ele ficou pensativo, nunca imaginou que isso poderia ocorrer, afinal eles se davam muito bem. Mas ele percebeu que essa era uma oportunidade para voltar para sua própria casa e não deixar seu casamento acabar, por mais que ele não se lembrasse de sua esposa.
Ao voltar para casa, Bianca o recebeu com muita alegria e ele decidiu se entregar novamente à sua esposa, como se fosse a primeira vez. Mas não foi nada fácil. Ela achava que ele estava muito diferente, não parecia o homem seguro e experiente pelo qual havia se apaixonado. E ele teve que conhecê-la novamente, voltando ao primeiro encontro.
Ela planejou saídas para lugares que costumavam ir, mas ele não estava reagindo como ela esperava. Mesmo assim, ele estava gostando daquela experiência e, à medida que eles conversavam, ele ia sentindo algo nascer em seu coração. Era uma pequena faísca, o início de um sentimento que logo explodiria.
Eu quero te reconquistar – ele disse no final da noite.
Você me conquistou há muito tempo – ela disse, emocionada.
Nos dias que se seguiram, eles foram se aproximando cada vez mais e, no terceiro mês após o acidente, as memórias de João Pedro foram voltando lentamente, juntando-se com as histórias escritas recentemente.
Não se pode dizer que tudo voltou ao normal, pois o que aconteceu entre eles foi muito além do normal.


Tudo o que tenho de valor são as minhas memórias. Se elas partissem, eu partiria em dois”. Trechos da música Ninguém mais, da banda Rosa de Saron.



domingo, 3 de julho de 2016

Depois de tanto tempo continuo te amando

Anderson e Marina se conheceram num show de rock por meio de um amigo em comum e logo perceberam que tinham gostos muito parecidos. Naquele mesmo evento, descobriram que aquela era a banda favorita deles e, depois de um longo tempo de conversa animada, ele chegou bem perto dela, foi se aproximando e a beijou.
Depois de alguns dias se encontrando, ele a pediu em namoro, ela ficou emocionada e aceitou imediatamente.
Eu sei que posso parecer precipitado ou até muito lerdo, mas eu sinto que te amo e a cada dia me sinto melhor ao seu lado. Quero namorar com você – foram essas as palavras dele que saíram com uma pitada de nervosismo.
Quando fizeram um ano de namoro, ele fez uma pequena surpresa para ela, levando flores ao trabalho dela e um bilhete que dizia somente: Depois de 365 dias, continuo te amando imensamente.
E a cada comemoração especial ou mesmo em dias normais, ele dizia que continuava muito a fim dela. Num desses dias, ele parecia incrivelmente emotivo e sensível, chegando a ficar com os olhos lacrimejados.
Isso é tão louco pra mim. Nunca me senti assim. Meus relacionamentos nunca duraram mais de três meses, mas com você eu me sinto cada vez mais apaixonado. É como se a cada dia meu sentimento se renovasse.
Outras vezes era ela que se declarava, dizendo que se sentia exatamente assim, mas com outras palavras.
As pessoas que os viam juntos percebiam que havia algo diferente entre eles, algo especial.
Eles estavam namorando há seis anos e ele finalmente teve coragem de fazer o pedido de casamento.
Era véspera de natal e eles estavam numa confraternização com a família e amigos e tudo foi muito bem organizado. As pessoas estavam se divertindo, comendo, bebendo e ninguém sabia o que estava por vir.
No momento mais animado da festa, ele disse que colocaria um vídeo de reflexão sobre o natal.
Bem, esse vídeo não é o que vocês esperavam, mas logo vocês saberão o motivo – ele disse olhando para câmera e em seguida algumas fotos de momentos especiais do casal foram sendo exibidos no vídeo, enquanto ele falava. – Desde o momento em que te conheci, eu sabia que era alguém especial e com o passar de poucos dias eu tinha certeza que era a mulher da minha vida. A gente passou por momentos difíceis, de algumas poucas discussões – e nesse momento uma foto de discussão entre casais apareceu –, mas em nenhum momento eu deixei de te amar. Pra muita gente pode parecer repetitivo, mas eu não me canso de dizer que continuo te amando depois de todo esse tempo.
Nesse momento, o vídeo continuava com imagens do casal e ele, que estava sentado ao lado dela, ajoelhou-se estendendo a mão direita, mostrando uma aliança de ouro.
Casa comigo – ele disse e ela aceitou prontamente, com a mais genuína expressão de felicidade.


After all this time I'm still into you. […] Baby, not a day goes by that I'm not into you”. (Depois de todo esse tempo, eu ainda estou afim de você. Querida, nenhum dia se passa que eu não esteja afim de você). Trechos da música Still into you, da banda Paramore.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Mal-humorada

Rita era universitária, fazia o curso de Direito, tinha casado há poucos meses e tinha uma vida aparentemente feliz, especialmente nas redes sociais. Lá sua vida era uma maravilha, cheia de viagens para lugares magníficos e saídas noturnas para restaurantes e boates chiques.
Entretanto, por mais que sua vida estivesse aparentemente muito bem resolvida, ela vivia resmungando de coisas banais, estava quase sempre mal-humorada.
Na sala de aula, ela não cumprimentava a maioria das pessoas e algumas vezes até virava a cara. Reclamava das aulas e dos professores, alegando que estes não sabiam passar o conteúdo. Devia ser esse o motivo de suas notas baixas.
Recentemente, ela começou a realizar uma obra na fachada da casa, mas depois de uma semana decidiu refazer tudo novamente porque não tinha gostado do visual que ela mesma tinha pretendido com a mudança.
O mestre de obras já conhecia a fama de Rita, pois seus colegas já o tinham avisado que ela gostava de desfazer projetos por puro capricho ou teimosia. Na construção da casa, três mestres de obras pediram para abandonar o projeto porque não suportaram as exigências dela. Como era uma obra pequena, ele tinha aceitado, mas estava querendo desistir da empreitada.
Ninguém aguenta essa mulher – ele chegou a dizer ao seu ajudante.
Dias atrás, ela estava assistindo uma reportagem sobre pessoas que passaram por situações dramáticas, mas que preferiam ver o lado bom das coisas, como um homem que perdeu uma perna e, depois de meses de depressão, viu sua vida se transformar completamente e se sentia muito mais feliz do que antes do acidente.
Havia também um pequeno agricultor que tinha perdido uma plantação inteira por causa das condições climáticas adversas. Ele sabia do prejuízo financeiro, da crise que estava passando, mas ele preferia sorrir e agradecer porque tinha uma terra para plantar e uma família linda para cuidar, afinal seu neto tinha acabado de nascer.
Essas histórias eram emocionantes para a maioria das pessoas, mas Rita não conseguia ver motivos para sorrir ou agradecer e a sua mente só via as perdas da perna e da plantação.
Algumas pessoas diziam que ela era assim porque era mal-amada e que seu esposo não a satisfazia, mas não era esse o caso. Eles se davam bem, tinham um relacionamento dentro da normalidade.
E ele era um sujeito alegre, divertido, simpático, educado e era conhecido por seus amigos como gente boa. Ele parecia não ver os defeitos da mulher. Mas ultimamente ele tinha começado a notar algumas indelicadezas da parte dela e uma dúvida começou a surgir em sua mente.
Seu marido tentou salvar seu casamento durante alguns meses, mesmo não vendo nenhuma melhoria no humor dela. Mas ela aparentemente não queria mudar, talvez pensasse que não tinha motivos para isso e que era assim mesmo e continuaria assim e ele teria que aceitá-la do jeito que ela é.
Ele tentou utilizar argumentos lógicos e exemplos de pessoas que mudaram de atitude e tiveram grandes resultados, mas ela parecia nem ouvir. Seu mau humor tinha interferido na sua maneira de enxergar o mundo e de ouvir opiniões divergentes. Ela estava fechada para novas formas de ver a vida e por isso o seu casamento acabou e suas amizades desapareceram.
E, de repente, ela se viu sozinha. Quem sabe uma hora dessas ela consiga ver o lado positivo das coisas e sua vida mude para melhor.


Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente. A gente muda o mundo na mudança da mente. E quando a mente muda a gente anda pra frente.” Trecho da música Até quando, de Gabriel, o Pensador.

terça-feira, 14 de junho de 2016

A volta

Sílvio e Aline estavam namorando há dois meses. Ele tinha grandes planos para eles, mas ela não estava preparada para tantos planos. Queria simplesmente um bom companheiro, alguém que a divertisse e a levasse a bons lugares.
Ele começou a desconfiar que ela estava saindo com outra pessoa e começou a tratá-la de maneira mais fria e rude, e ela achou estranho, pois ele sempre a tratou de forma educada, com respeito e carinho.
Depois de alguns dias, o relacionamento deles começou a esfriar. Ela já não tinha mais a diversão que queria e ele não tinha o amor que tanto desejava.
Ela, então, disse que o namoro não estava mais dando certo, que o encanto havia acabado e terminou o relacionamento. Ele ficou muito triste por dentro, mas não demonstrou qualquer sentimento e disse que aceitava numa boa.
Ficaram sem se falar por alguns dias e ela não tinha notícias dele nem quando pesquisava nas redes sociais, o que a deixou curiosa para saber o que ele andava fazendo naqueles dias. Ela chegou a perguntar a alguns amigos em comum, mas nenhum deles soube dar muitas informações, pois Sílvio começou a sair sozinho ou com outras companhias.
Depois de quinze dias, ela não resistiu e o chamou pra conversar por meio de um aplicativo de celular.
- Oi. Eu ando pensando muito em você esses dias e acho que a gente precisa conversar.
- Por mim tudo bem – ele respondeu depois de alguns minutos.
No outro dia se encontraram e Aline perguntou o motivo da mudança do comportamento de Sílvio no relacionamento antes do término. Depois de enrolar um pouco, ele abriu o jogo e disse que imaginava que ela saía com outro homem e ela disse que não havia ninguém, que só estava com medo de tantos planos, que o namoro era recente e por isso ainda não queria pensar no futuro, queria aproveitar o presente.
Ele sentiu que ela falava a verdade pela forma que ela se expressou e fez um sinal com a cabeça concordando.
- Eu sei que me precipitei. A gente devia ter essa conversa antes – ela disse, meio sem graça. – Quero saber se você... quer – ela estava falando muito pausadamente, demonstrando insegurança.
- Quero – ele disse, com firmeza, e ela ficou aliviada.
A partir de então, ela se entregou ao amor. Ainda queria diversão, mas não queria só isso. Ele voltou a ser quem sempre foi e as coisas finalmente se acertaram.


Meu amor, cuidado na estrada e, quando você voltar, tranque o portão, feche as janelas, apague a luz e saiba que te amo”. Trecho da música Quando você voltar, da banda Legião Urbana.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Ajuda fatal

Jean era um músico talentoso, tocava e cantava à noite em bares e pubs pela cidade. Sua pequena fama e reconhecimento aguçaram seu ego e ele acabou caindo na armadilha da droga, que foi entrando lentamente na sua vida, por meio de membros e de fãs da sua banda.
Depois de quatro anos usando vários tipos de drogas ilícitas, sua pequena fama acabou completamente. Ninguém queria contratá-lo para uma apresentação musical, os supostos amigos sumiram e sua aparência deixava transparecer o uso de crack.
Ele já havia passado por tratamento e sua namorada tentava ajudá-lo a superar a situação.
Infelizmente, dois anos depois a situação se agravou e o pior aconteceu.
Depois uma longa noite de uso de crack, álcool e cigarro, Jean acordou e viu sua namorada morta ao seu lado, apunhalada por vários golpes de faca. Logo em seguida, ele foi preso, mas disse que não se lembrava de nada.
Um psiquiatra, entrevistado por uma emissora de televisão, após a notícia chocar a cidade, disse que talvez Jean não se lembrasse mesmo do que tinha feito. Ele disse que, em casos de uso recorrente de drogas, é comum a perda de memória recente.
Tudo que Jean se lembrava é que ele e a namorada tiveram uma discussão como tantas outras. Talvez a morte de Karen – a namorada de Jean - tenha sido causada por sua tentativa de evitar que ele usasse a droga. Ela morreu por tentar ajudar o seu próprio namorado.
Muitos poderiam pensar que ela deveria ter terminado o namoro e que seguisse a sua vida, mas Karen o amava e não iria abandoná-lo quando ele mais precisava de apoio e ajuda.
A sua decisão acabou causando a sua morte, mas no fim ela sabia que tinha tentado fazer o que era certo aos olhos dela.


Há jovens nas esquinas, com drogas nas mochilas, curtindo uma liberdade artificial.” Trecho da música “Uma canção de amor pra você”, da banda Catedral.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Um dia incrível

Henrique acordou cedo, animado para fazer algo diferente. O sol já brilhava forte lá fora e praticamente não havia nuvens no céu, que estava colorido num azul que transmitia um sentimento de paz e convidava para uma viagem a um lugar paradisíaco.
Era alta temporada, verão, férias, e ele decidiu realizar a viagem que ele estava adiando há algum tempo. Então, ele ficou pensando em quem chamaria pra acompanhá-lo nesse passeio. Lembrou que Ana tinha planejado uma viagem juntos, mas ele sempre dava uma desculpa. Eles tinham uma espécie de amizade colorida. 
Ele pegou o celular e a chamou para conversar. Inicialmente, perguntou se ela estava bem e se tinha algo programado pra aquele dia. Ela, rapidamente, respondeu que estava ótima e que estava completamente livre.
- Pois eu tenho um convite especial pra você! Vou embarcar numa aventura sensacional e quero que você venha comigo. Bora? – ele disse, encaminhando a mensagem para ela.
- Com certeza! É só passar aqui em casa – ela respondeu, entusiasmada.
- Pois se prepare pra um dia incrível. Te pego daqui meia hora.
Ela disse que estaria pronta e, no horário marcado, ele a buscou e eles pegaram a estrada. Três horas depois, pararam num resort, um lugar paradisíaco, repleto de cachoeiras, piscinas, além de atrações como bungee jumping, rapel, tirolesa, escalada, trilhas e até canoagem por um pequeno trecho de corredeiras.
Eles decidiram mergulhar de cabeça naquela aventura e aproveitar todas aquelas atrações. Eles estavam meio receosos no início, mas logo perceberam que era uma oportunidade única, resolveram se soltar e começaram pela canoagem. Acharam que seria simples, mas a forte correnteza da água e as pedras próximas ao bote tornaram tudo mais interessante e até perigoso.
A partir daí, a adrenalina tomou conta dos corpos deles e eles se sentiram muito mais à vontade. Foram direto pro bungee jumping e deram um pulo de cerca de 40 metros de altura. No fim do salto, eles pareciam tão alegres, tão vivos. Estavam em êxtase e não aparentavam cansaço algum.
A tarde estava chegando ao fim, mas ainda dava tempo de saltarem da tirolesa de 80 metros de altura. Com a ajuda de um teleférico de cadeiras, com uma vista maravilhosa, eles subiram no morro para terem acesso à tirolesa e de lá se jogaram despenhadeiro abaixo.
A noite chegou e eles foram pro local de eventos do resort, onde um luau estava prestes a começar. Eles comeram, tomaram drinks especiais e ficaram ali agarradinhos ouvindo as músicas tocadas por quase duas horas. Depois entraram no quarto e o clima romântico perdurou até altas horas, quando só então dormiram.
Pela manhã, eles tomaram café juntos e pegaram a estrada. No final da viagem, ele a deixou em casa, olhou nos olhos dela e a beijou intensamente.
- A gente precisa fazer isso mais vezes – ele disse. Ela fez que sim com a cabeça e ele partiu. Ela, que queria algo a mais, teve a impressão de que ele voltaria em breve, buscando novas aventuras. No fundo, ela sentia que poderia demorar, afinal era o jeito dele. Mas nunca se sabe.


Está um dia tão bonito lá fora e eu quero brincar.” Trecho da música Os anjos da banda Legião Urbana.