Fernando
estava fazendo o quinto período do curso de medicina quando avistou uma caloura, que o deixou desnorteado. Então, ele bolou um plano
para se aproximar dela, sem parecer forçado, rodeando o grupo de
amigos dela para que se tornassem amigos em comum e, assim, ela se
acostumaria com a presença dele.
Depois
de poucos dias, ele decidiu que já estava na hora de falar com ela
diretamente. No final da resenha após a aula, quando o grupo de
amigos se dispersou e ela ia saindo, passando ao seu lado, ele a
chamou:
– Oi,
Daiane – ele disse e ela se virou para ele, que a olhou firmemente
nos olhos.
– Oi,
Fernando. O que você manda? – disse ela de modo despojado e ele
sorriu.
– Ah...
É que eu ouvi você falando que tá com dificuldade em bioquímica,
que o professor é durão e eu acho que posso te ajudar nisso.
– Sério?
Pois fechou. Eu tô perdida nessa matéria.
– Mas
tem uma condição... – ele falou, deixando um pouco de suspense no
ar. Ela fez uma expressão de surpresa e, depois de alguns segundos,
fez um sinal para que ele prosseguisse. – Não é nada demais. É
que você falou que gosta de comida japonesa e eu tava procurando uma
companhia para ir num restaurante novo que inaugurou semana
passada... – ele fez uma pausa. – E, então, você pode ir?
– Cara,
eu tava querendo mesmo ir nesse restaurante. Acho que você adivinhou
meus pensamentos.
– Tem
mais uma coisinha... Você tem que me prometer que não vai se
apaixonar por mim, viu? – ele disse sorrindo.
– Essa
é moleza – ela disse entre risos. – Deixa ver se eu entendi.
Você vai me ajudar na matéria e ainda vai me levar num restaurante
japonês... Cara, isso não é uma condição. É um presente.
No
outro dia, eles estudaram na biblioteca da faculdade, ela estava
compreendendo melhor a matéria e, em certo momento, ele pediu para
fazerem uma pausa.
– Precisamos
combinar o dia que vamos no restaurante – ele disse e pegou na mão
dela –, mas eu quero que saiba que não estou dando em cima de você
– ele falava com um sorriso discreto no rosto e olhando
profundamente nos olhos dela.
– Por
mim tudo bem – ela disse e se sentiu confusa, pois a expressão
dele indicava o contrário. – Eu estou livre hoje à noite.
– Hoje
eu vou sair com uma amiga das antigas. Pode ser amanhã?
Ela
disse que sim e ficou ainda mais confusa. Será
que é só uma amiga mesmo?
Essa dúvida surgiu na cabeça de Daiane.
Um
dia depois, eles estavam no restaurante, conversando tranquilamente
e, de repente:
– E
como foi ontem com sua amiga? – ela perguntou, tentando disfarçar
sua curiosidade.
– Que
bom que você perguntou. Foi fantástico. A gente se divertiu demais.
Fazia muito tempo que a gente não se via.
– Então
vocês são muito próximos... – ela disse, tentando arrancar
discretamente mais alguma informação sobre essa amizade.
– Ah,
sim. Ela está morando em outra cidade, mas todo ano a gente dá um
jeito de se ver.
– E
vocês são apenas amigos?
A
pergunta saiu com um tom de voz que ela não desejava expressar. Ele
a olhou com uma expressão de surpresa e deu um leve sorriso.
– Por
que você está tão interessada nisso?
– Na
verdade, não estou. Só quero entender essa amizade. Mas, se você
não se sente à vontade pra falar, tudo bem – ela falou querendo
jogar o desconforto pro outro lado.
– Mais
tarde te falo mais sobre isso. Tudo bem? – ele perguntou e fez uma
pausa. – Eu estou com muita fome agora e quero comer, mas eu fico
olhando os seus olhos e me desconcentro. Os seus olhos negros
praticamente me deixam hipnotizados.
Ela
sorriu e passou a mão no cabelo.
– Agora
parece que você está dando em cima de mim...
– A
gente não pode nem elogiar mais... – ele fez uma pausa e,
segurando com uma das mãos na cintura dela, chegou bem próximo do
rosto dela. – Eu já te disse pra não pensar isso.
– Mas
você me deixa confusa – ela falou baixinho. Eles estavam muito
próximos, quase tocando os rostos, e ela não resistiu e o beijou.
Ele sentiu o calor dos lábios dela e retribuiu o beijo de forma
delicada e depois com intensidade.
– Você
ainda está confusa?
– Acho
que não... Mas e a sua amiga?
– Relaxa.
Ela é só uma velha amiga.
“Vem
me fazer feliz porque eu te amo.”
Trecho da música Oceano de Djavan.