Zezinho
era um legítimo cidadão brasileiro. Ao contrário da maioria da
população, ele agia e não apenas falava. Enquanto os outros
protestavam com palavras duras, Zezinho corria atrás de meios de
mudar efetivamente o país.
Ele
era um trabalhador. Passava mais do que oito horas no trabalho todos
os dias, seis vezes por semana. Quando sobrava um tempinho, ele via
as notícias da sua cidade, seu estado, seu país. E ele se
interessava mais pela parte política dos noticiários.
Sempre
que podia, estava na Câmara de Vereadores, cobrando melhorias e
exigindo publicidade e transparência de todas as ações
governamentais. Queria saber o motivo de tanto superfaturamento nas
licitações.
Ele
simplesmente não entendia por que um cento de copos descartáveis,
que ele comprava por dois reais, custava cinco reais para o
Município. Se o ente público comprava caixas e caixas de copos, o
preço deveria ser mais baixo, não é? Assim ele pensava, mas os
corruptos não entendiam desse modo, afinal queriam lucrar cada vez
mais.
E
Zezinho investigava, investigava e sofria ameaças de morte. E um de
seus amigos dizia:
– Deixa
isso de mão, Zé.
Mas
Zé não deixava porque esse era o seu jeito. Tinha nascido para
fazer aquilo. Não sabia ficar calado, consentindo com toda aquela
roubalheira.
Zezinho
entregou provas à Polícia. Cumpriu o seu dever como cidadão.
O
delegado, amigo de um dos investigados, arquivou o caso numa de suas
gavetas. Informou a situação ao prefeito, que estava mais do que
envolvido com o esquema.
No
dia seguinte, Zezinho saía do trabalho, contente e tranquilo. Tinha
feito a sua parte. Um motoqueiro aproximou-se e o sujeito que estava
sentado na garupa da moto efetuou cinco disparos. Três deles
acertaram o peito de Zezinho, que caiu e, antes de morrer, pensou na
sua família, seus três filhos e, ainda assim, não se arrependeu,
pois estava de consciência limpa e tinha cumprido a sua missão.
Ainda deu tempo de pensar numa passagem bíblica: bem-aventurados os
que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.
Um dia depois, houve passeata na cidade. O caso teve repercussão
nacional, pois Zezinho, apesar de ser um cidadão humilde, tinha
alguns amigos influentes.
Dias
depois, o delegado, o prefeito e outras “autoridades” foram
presos. Zezinho era precavido. Tinha tudo documentado num lugar
seguro e acessível a três pessoas de sua inteira confiança.
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“Brasil,
mostra a tua cara. Quero ver quem paga pra gente ficar assim.”
Trecho da música Brasil
do cantor e compositor Cazuza.