quarta-feira, 31 de julho de 2019

Sede de justiça

Zezinho era um legítimo cidadão brasileiro. Ao contrário da maioria da população, ele agia e não apenas falava. Enquanto os outros protestavam com palavras duras, Zezinho corria atrás de meios de mudar efetivamente o país.
Ele era um trabalhador. Passava mais do que oito horas no trabalho todos os dias, seis vezes por semana. Quando sobrava um tempinho, ele via as notícias da sua cidade, seu estado, seu país. E ele se interessava mais pela parte política dos noticiários.
Sempre que podia, estava na Câmara de Vereadores, cobrando melhorias e exigindo publicidade e transparência de todas as ações governamentais. Queria saber o motivo de tanto superfaturamento nas licitações.
Ele simplesmente não entendia por que um cento de copos descartáveis, que ele comprava por dois reais, custava cinco reais para o Município. Se o ente público comprava caixas e caixas de copos, o preço deveria ser mais baixo, não é? Assim ele pensava, mas os corruptos não entendiam desse modo, afinal queriam lucrar cada vez mais.
E Zezinho investigava, investigava e sofria ameaças de morte. E um de seus amigos dizia:
Deixa isso de mão, Zé.
Mas Zé não deixava porque esse era o seu jeito. Tinha nascido para fazer aquilo. Não sabia ficar calado, consentindo com toda aquela roubalheira.
Zezinho entregou provas à Polícia. Cumpriu o seu dever como cidadão.
O delegado, amigo de um dos investigados, arquivou o caso numa de suas gavetas. Informou a situação ao prefeito, que estava mais do que envolvido com o esquema.
No dia seguinte, Zezinho saía do trabalho, contente e tranquilo. Tinha feito a sua parte. Um motoqueiro aproximou-se e o sujeito que estava sentado na garupa da moto efetuou cinco disparos. Três deles acertaram o peito de Zezinho, que caiu e, antes de morrer, pensou na sua família, seus três filhos e, ainda assim, não se arrependeu, pois estava de consciência limpa e tinha cumprido a sua missão. Ainda deu tempo de pensar numa passagem bíblica: bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.
Um dia depois, houve passeata na cidade. O caso teve repercussão nacional, pois Zezinho, apesar de ser um cidadão humilde, tinha alguns amigos influentes.
Dias depois, o delegado, o prefeito e outras “autoridades” foram presos. Zezinho era precavido. Tinha tudo documentado num lugar seguro e acessível a três pessoas de sua inteira confiança.

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Brasil, mostra a tua cara. Quero ver quem paga pra gente ficar assim.” Trecho da música Brasil do cantor e compositor Cazuza.