Cesar
estava doente, passando muito mal. Então sua mãe o levou ao
hospital, mas, depois de uma longa espera, foi informada que o caso
era de um simples resfriado. Ele tomou um remédio e foi aconselhado
a ir para casa, afinal logo estaria bem.
Mas
a melhora tão esperada não veio e, passados dois dias, o quadro se
agravou, com falta de ar e muita tosse. Dalva, mãe de Cesar, muito
preocupada, decidiu procurar outro hospital e a médica deu o
diagnóstico de gripe H1N1, sem realizar nenhum exame laboratorial.
Ele
novamente tomou alguns medicamentos e foi pra casa, mas teve que
voltar ao hospital um dia depois, pois a febre estava muito alta.
Dessa vez, fizeram exames, que apontaram anemia. O tratamento seria
simples e ele poderia continuar tomando os remédios. Você
vai ficar bem rapidinho,
disse a médica.
Eles
voltaram mais duas vezes no mesmo hospital, suplicando para que ele
fosse internado, pois ele respirava com muita dificuldade, entretanto
foram informados que se tratava apenas de uma gripe. Portanto, não
havia urgência.
Decidiram
ir novamente no primeiro hospital, mas também não conseguiram a
internação; foi feito apenas um tratamento de inalação. No outro
dia, retornaram à clínica, pois os sintomas estavam cada vez
piores. Novamente, nada de internação, afinal de contas o quadro de
saúde de Cesar não era grave nem urgente. Tomou apenas uma injeção.
No
dia seguinte, ele acordou com falta de ar e, finalmente, um médico
diferente se compadeceu da situação e se dispôs a ajudar,
iniciando um tratamento com soro e oxigênio. Entretanto, logo o
doutor percebeu que o quadro do paciente era gravíssimo e solicitou
uma ambulância para que levasse Cesar para a cidade vizinha, pois
não havia estrutura ali para o seu tratamento.
Infelizmente,
já era tarde demais. Cesar não resistiu a tanto descaso, seus
pulmões tinham mais de dois litros de água em seu interior e o
atestado de óbito indicava que a causa da morte foi broncopneumonia
bilateral, ou seja, pneumonia nos dois pulmões.
Uma
sindicância, um boletim de ocorrência e um processo foram abertos.
A imprensa local fez um pouco de alarde. Teve até passeata, mas o
caso logo será esquecido como tantos outros que acontecem quase
diariamente.
Para
o sistema de saúde, Cesar é só mais um número, uma estatística,
um caso infeliz que deve ser empurrado para debaixo do tapete. Para
Dalva, ele era tudo, seu filho único, que partiu mais cedo e vai
deixar muitas saudades.
“Pelo
amor de Deus, alguém me ajude! Emergência! Eu tô passando mal. Vou
morrer aqui na porta do hospital. Era mais fácil eu ter ido direito
pro Instituto Médico Legal”.
Trecho
da música Sem
Saúde
de Gabriel, o Pensador.