Renato estava em casa, vendo
um filme quando o telefone tocou.
- Oi – disse ele, meio
impaciente, afinal o filme estava numa parte boa e ele não gostava
de interrupções.
- Oi – disse a voz feminina
do outro lado da linha. – Renato, é a Clara, lembra?
- Lembro sim. Lembro de todos
da escola.
- Pois é. Tô te ligando
porque uma pessoa pediu que eu ligasse...
- Quem? – Renato estava
curioso.
- Lembra da Carol?
- Lembro muito bem. O que tem
ela?
- Foi ela que pediu pra eu
ligar pra você.
A Carol pediu pra Clara me
ligar? Que estranho, pensou
ele. Mas ele estava gostando. Ela era simplesmente a garota dos
sonhos dele quando
estudaram
juntos.
- Ela pediu que eu marcasse um
encontro hoje à noite.
- Você tá brincando, né?
Isso só pode ser uma brincadeira – disse ele, meio desconfiado.
- Não. Tô falando sério.
Ela quer muito te ver. Disse que você poderia escolher o local e o
horário.
- Por que ela não me ligou
então?
Era uma pergunta válida. Ele
ainda estava desconfiado.
- Ela não tem crédito...
Apesar de não estar
convencido da resposta, ele concordou. Disse o lugar e a hora em que
se encontrariam.
No local combinado, o
seu restaurante preferido,
perto das oito horas, lá estava ele, todo arrumado e perfumado.
Sentou-se num
dos cantos e esperou
um pouco. Passaram-se
quinze minutos além das oito e ele já começava a ter certeza de
sua desconfiança, quando ela apareceu, deslumbrante.
Ele não conseguia nem
acreditar. Pensou que estava sonhando. Ele se levantou e puxou a
cadeira para que ela sentasse. Pegou numa das mãos dela e ela se
sentou.
- Você está tão linda –
ele disse, olhando-a de ponta à cabeça.
- Obrigada. Você também está
ótimo – fez uma pausa e deu um sorriso. – Quanto tempo, né?
- Pois é. Eu sinto muita
falta da escola, principalmente de você.
Ela ficou meio sem graça,
aparecendo algumas manchas vermelhas em seu rosto.
- Por isso você pediu pra
Clara me ligar? – disse ela.
- Na verdade, foi ela que me
ligou, dizendo que você tinha pedido pra ela ligar – disse ele com
um sorriso sem graça no rosto.
Ela sorriu. Já tinha
entendido a armação de Clara.
- A Clara sempre fez essas
brincadeiras na escola, mas por essa eu não esperava – disse ela e
fez uma pequena pausa.
– Acho que ela resolveu fazer isso depois que eu disse pra ela uns
dias atrás que eu sentia sua falta. Eu disse que das pessoas da sala
a que mais sinto falta é você. Estranho, né? A gente nem tinha
tanto contato...
Ela sente a minha falta,
ele pensou.
- Eu pensei que você não
iria nem aparecer.
- Era uma armação,
mas pelo menos eu apareci – disse ela sorrindo e
ele também sorriu.
- Nunca pensei que você
sentisse a minha falta. Sério, eu não esperava por isso, apesar de
desejar que isso acontecesse.
O coração dele batia muito
acelerado, mas parecia estranhamente calmo.
- Parece que você se enganou
e se subestimou – ela disse e pegou na mão dele. – Acho que a
Clara fez bem. Só assim pra gente conversar.
Ele aproveitou o momento,
chegou bem perto dela e esperou que ela completasse o movimento do
beijo.
Ela o beijou suavemente e eles
ficaram agarradinhos ali por um tempo, namorando sem nenhuma pressa.
Depois pediram algo para comer
e conversaram por mais duas horas, como nunca tinham feito antes,
mesmo estudando na mesma sala durante três anos.
No fim da noite, ela disse que
tinha esperado muito para ter essa conversa e que não queria mais
perder tempo. Queria começar um relacionamento sério e ele
concordou completamente. Eles sentiam que seus pensamentos convergiam
na mesma direção.
Ele a levou para a casa dela e
se beijaram mais uma vez, sentindo que muitos outros beijos viriam.
"E, hoje em dia, como é
que se diz eu te amo?". Trecho da música "Vamos fazer um
filme", da Legião Urbana.