sexta-feira, 3 de junho de 2011

Um dia no Judiciário

Agenor, servidor da Justiça, chegou cedo ao trabalho, bateu o ponto, conversou um pouco com seus colegas, fez umas piadas sobre futebol e depois começou a trabalhar.
Era um dia normal e as pessoas chegavam para as suas audiências e lotavam as dependências do Juizado.
De repente, uma pessoa chegou, quase desesperada, perguntando quando seu processo ia ter um fim.
- Moço, o gás lá de casa acabou. Tô precisando desse dinheiro.
O servidor, muito calmo e tentando ser o mais claro possível, disse:
- Meu senhor, se você for depender do dinheiro desse processo para colocar gás na sua casa, sua família vai passar fome. Esse dinheiro, se sair mesmo, ainda vai demorar um poquin.
Enquanto Agenor falava, outro servidor achava graça da situação, caindo na gargalhada. E pensou se não fosse trágico, seria cômico.
O senhor não acreditou muito no servidor e decidiu que queria falar com o Juiz.
- Pois eu vou falar com o Juiz. Ele tem que resolver meu caso. É urgente. Eu tô precisando.
O servidor, ainda mantendo a calma, tentou esclarecer mais uma vez a situação:
- Meu senhor, você vê esses processos? – o servidor mostrou uma prateleira cheia de processos. – Todas essas pessoas estão precisando, talvez até mais do que o senhor.
- Mas o meu caso é urgente...
- Eu entendo, senhor. Eu vou tentar analisar o seu caso esses dias, mas não garanto que o senhor vá ganhar a causa. E, mesmo que o senhor ganhe, pode ser que demore um pouco para o senhor receber esse dinheiro. Eles podem recorrer, não pagar, retardar...
- Ô, meu Deus, eu pensei que esse dinheiro já tava garantido; já até comprei umas coisas confiando nesse dinheiro. O advogado me disse que essa a gente ganhava fácil...
- Ganhar é uma coisa. Pegar o dinheiro é outra coisa. Às vezes, tem gente que ganha, mas não leva. O senhor não devia comprar coisas confiando num dinheiro que pode nem sair.
O senhor já estava ficando mais do que desesperado e parecia não compreender a situação. 
- Pra ficar bem claro, senhor, eu vou analisar seu processo, vou levar pro Juiz, que vai dizer se você tem razão ou não. Se o senhor tiver razão, a outra parte pode recorrer e aí vai demorar mais um pouco. Se não recorrerem, ai eles tem o prazo para pagar. Se eles não pagarem, o senhor vem aqui e pede a penhora. Feita a penhora, eles ainda podem impugnar, e ai pode demorar mais um pouco...
- Meu Deus, só devedor tem direito nesse país...
O senhor, já com a idade avançada, saiu desconsolado, sem saber como pagaria o gás de sua casa. 


“Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo, sem saber o calibre do perigo. Eu não sei da onde vem o tiro.” O calibre – Paralamas do Sucesso.

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