Joana era advogada e teve que trabalhar num caso criminal até as primeiras horas do outro dia. Estava se sentindo exausta, quando finalmente encerrou suas atividades e fechou a porta do escritório. Nesse momento, veio em seu pensamento que ela não deveria trabalhar tanto assim, que essa não era a vida que ela tanto quis ao estudar o curso de Direito e que, mesmo trabalhando tanto, o resultado financeiro não era bom o bastante.
Mas, de repente, ela viu um catador de lixo, um senhor já idoso, de cabelos brancos, sorrindo e conversando alegremente com dois garis, que também estavam trabalhando naquele horário.
O senhor parecia cansado, estava naturalmente sujo após várias horas catando lixo e caminhava devagar, arrastando seus pés descalços, acostumados a percorrer longas distâncias. Ele usava roupas modestas e que estavam rasgadas em diversos lugares, mas parecia contente com a quantidade de tralhas que tinha juntado em seu carrinho.
Do outro lado da avenida, um morador de rua dormia ao relento, deitado em uma “cama” de papelão e enrolado com um emaranhado de panos, que não suportaria um frio intenso.
Joana se sentiu mal, pois instantes atrás estava resmungando e reclamando de seu trabalho, sua vida, mas agora isso parecia tão pequeno diante das dificuldades daquele senhor, que deveria estar com seus netos curtindo sua aposentadoria, e diante daquele morador de rua, que parecia tão indefeso naquele lugar, abandonado pela sociedade e pelo poder público.
Ficou pensando também nas adversidades daqueles dois garis, que tinham um trabalho digno, mas provavelmente não queriam trabalhar naquele horário, e estavam alegres, pois era aquele trabalho que levava o sustento para suas famílias.
Ela se sentiu tão vazia e ficou pensando na vida, no quanto deveria ser grata, pois sua vida tinha mudado tanto, desde que saiu da sua pequenina cidade natal, mesmo diante das dificuldades de seus pais para dar uma criação que permitisse que ela fizesse uma faculdade, algo que eles não puderam fazer.
Pegou sua carteira e viu que tinha pouco dinheiro ali, mas aquele pouco seria muito nas mãos daquele morador de rua e ela colocou a quantia por baixo do papelão que ele dormia e se sentiu melhor.
Foi para casa ainda pensativa, mas com a consciência tranquila por ter feito o que podia ser feito naquele momento. Passaria a ser mais grata mesmo nos momentos ruins e a valorizar mais as pessoas importantes de sua vida.
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“Mas digo sinceramente na vida a coisa mais feia é gente que vive chorando de barriga cheia”. Trecho da música Maneiras, de Zeca Pagodinho.
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